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Embora o presidente George Bush venha sendo um sólido apoiador do primeiro ministro Ariel Sharon desde seu primeiro mandato, Israel sofreu horrivelmente durante esse período. Incorreu em mais perdas para o terrorismo nos primeiros quatro anos da Intifada, (11.356 pessoas mortas) do que em todos 53 anos anteriores de existência, e sofreu mais baixas durante este conflito do que em todas, menos duas, de suas guerras.
Os líderes israelenses e palestinos têm a maior parte da responsabilidade por esta carnificina. Mas Bush também partilha parte da culpa, por não ter buscado mais ativamente um fim da luta. Agora que ganhou um segundo mandato e Arafat saiu do cenário, o presidente tem uma oportunidade de criar uma nova agenda israelense-palestina para ajudar a acabar com a Intifada.
Uma nova agenda de Bush deve começar por reduzir as promessas que o presidente fez a Sharon como parte do plano de desligamento, e ao mesmo tempo reafirmar que os termos do Road Map precisam ser respeitados.
O Road Map é um plano internacional – apoiado por Bush, Israel e os palestinos, para mobilizar os dois lados através de uma série de estágios que levariam ao fim da violência, à reforma do sistema político palestino e o fim da expansão dos assentamentos e conduziriam a negociações sobre a criação de um Estado Palestino vivendo lado-a-lado com Israel em paz e segurança.
Em sua troca de cartas com Sharon sobre o desligamento, Bush tomou posições sobre assentamentos e refugiados palestinos que o Road Map deixava para negociações diretas entre israelenses e palestinos. É difícil para os EUA agir como intermediário entre os dois lados, se adotar as posições de um ou de outro. Estas posições de governo devem ser discretamente retratadas ou equilibradas pelo apoio a concessões que Israel deverá fazer como contrapartida.
Esta mesma troca de cartas assistiu à aceitação pelo presidente da interpretação israelense de suas obrigações com respeito a postos avançados e assentamentos, em formas contraditórias com o Road Map. Nas cartas, Israel se comprometeu a remover postos avançados não autorizados e a trabalhar para determinar os limites de construção de antigas colônias dentro dos quais seria permitido seu crescimento. Mas o Road Map afirma que Israel deve imediatamente remover os postos avançados criados desde março de 2001, sem diferenciar entre locais “autorizados” e “não autorizados”.
Este ponto é significativo, pois Israel concedeu autorizações retroativas para inúmeros postos avançados. Similarmente, o Road Map insta a um congelamento de “toda atividade de assentamento, incluindo as de crescimento natural”, e não autoriza uma contínua expansão dentro das linhas de construção.
O impacto potencialmente positivo da remoção por Israel de 21 assentamentos, sob o plano de desligamento, será muito diminuído caso 30 postos avançados forem autorizados a ficar e uns 120 assentamentos na Cisjordânia forem autorizados a crescer.
Mais, uma nova agenda de Bush deve discretamente encorajar a ascensão da líderes moderados palestinos, que têm legitimidade aos olhos do seu povo, para eliminar o terrorismo e negociar um tratado de paz com Israel. Apoiar os esforços palestinos para realizar novas eleições nacionais seria um grande passo naquela direção, como o presidente reconheceu.
Mas tais eleições não poder ser feitas sem a cooperação de Israel, pois os candidatos e trabalhadores da campanha precisam mover-se livremente de cidade a cidade. Bush deve estimular a facilitação por Israel das eleições, assim como sua aceitação dos resultados.
Além disso, Bush deve trabalhar junto a Israel para permitir que os palestinos moderados mostrem resultados a seu povo, que fortaleceriam suas posições, principalmente reforçando passos que Israel já esteja disposto a tomar.
Por exemplo, Israel está disposto a evacuar unilateralmente assentamentos como parte de um plano de desligamento que explicitamente pressupõe que acordos existentes entre Israel e os palestinos continuem vigentes. Por que não dizer que o próximo desligamento é um cumprimento de sua obrigação de realizar a terceira retirada do território palestino prevista nos Acordos de Oslo, assim permitindo que os moderados palestinos obtenham uma concessão de terras que o próprio Yasser Arafat não pôde assegurar?
Na mesma linha, Israel se dispôs a libertar centenas de prisioneiros palestinos para o Hizbolá, mas não se dispôs a libertar prisioneiros para dar força ao curto governo de Abu Mazen no ano passado. É o caso de se repensar, agora, em libertar prisioneiros para reforçar os palestinos moderados.
Similarmente, Israel está propenso a remover bloqueios de estradas nos territórios ocupados para satisfazer os E.U.A. e rever o traçado da barreira de segurança para atender às demandas da Suprema Corte de Justiça. Por que não enquadrar estas ações como gestos de boa-vontade aos palestinos moderados?
Finalmente, o Egito, o Banco Mundial, e a União Européia, ficaram no vazio que Bush criou, com sua ausência do processo de paz. Uma nova agenda de Bush deve abraçar as contribuições que esses atores se dispôem a dar. Eles são considerados interlocutores confiáveis pelos palestinos, e podem contribuir com dinheiro, treinamento e pessoal para a reforma palestina.
Se Bush realmente quer ir além da amizade retórica a Israel que marcou seu primeiro mandato, ele precisa apoiar mais ativamente o processo de paz neste segundo.
Debra DeLee é presidente da APN – Americans for Peace Now – www.peacenow.org
[ publicado pela APN em 11/11/2004 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]