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A morte de Arafat alterou a frágil álgebra do processo de paz no Oriente Médio. Em um lado da equação, nós perdemos uma personalidade vista por Israel e os EU como obstáculo a uma solução de dois Estados – aspiração reafirmada tanto por Tony Blair quanto por George W Bush nesta 6ª feira. Do outro, foi visto o falecimento de um homem que, apesar da corrupção, incompetência e ocasional brutalidade de seu governo, para muitos corporificava o Estado Palestino, e teve suficiente coragem para firmar os acordos de Oslo.
O legado de Arafat, assim, requer um tratamento cuidadoso e corajoso para os interessados em paz. Porque, enquanto sua morte abre novas oportunidades para conversações, a sociedade palestina está mais profundamente dividida do que nunca, após quatro anos da segunda intifada, particularmente entre gerações.
Enquanto todos os olhos se tornam primeiramente para a velha guarda que representa a elite política da Autoridade Palestina, os palestinos mais jovens acreditam que este é o seu momento, e que seus líderes – o primeiro deles sendo o preso Marwan Barghouti – devem falar pelo futuro palestino. O Hamas, também, acredita que sua força em Gaza lhe dá o direito de falar pelo povo.
O anúncio de Barghuti – que poderia comandar o apoio da uns 50% dos palestinos – irá, desde sua cela da prisão, concorrer à presidência nas eleições de janeiro coloca mais problemas. Políticos israelenses estão afirmando que ele não será libertado, colocando a perspectiva de outro líder palestino com quem os israelenses irão se recusar a negociar. Mas Barghouti é uma figura dirente do falecido presidente. Carismático, cauteloso e pragmático, ele representa um novo início, particularmente se puder encarar a verdade de que os quatro anos de violência não fizeram nada a não ser empobrecer os palestinos.
[ Editorial de 14/11/2004 do The Observer – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]