Terceiros na agenda de Bush

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Mais 4 anos com Bush – uma visão israelense


Há uma intrigante teoria circulando. Diz que um segundo mandato de Bush na presidência abordará o conflito israelense-palestino de forma mais enérgica e agressiva. Nesta linha de pensamento, o presidente Bush estaria, há algum tempo, descontente com o desempenho do primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, particularmente nos assentamentos.

Além disso, Bush estaria atento para a necessidade de “abordar” o tema palestino para aplacar os aliados europeus e árabes, que estão muito desconfortáveis com o desenrolar dos eventos no Iraque, assim como na Palestina. Ao lado disso, ele é o primeiro presidente americano a endossar oficialmente a criação do Estado Palestino.

Num segundo mandato, segue a teoria, Bush será bem menos contido com os lobbies extremistas pró-Israel, como os cristãos evangélicos que o apóiam. Finalmente, com Yasser Arafat aparentemente fora do caminho, um outro obstáculo para um maior envolvimento do governo Bush teria sido removido.

Sou cético com relação a este cenário, particularmente no próximo ano. Primeiro, ele assume que Bush realmente gostaria de se envolver no processo de paz árabe-israelense. E nada que ele tenha feito ou dito nos últimos quatro anos reflete tal predisposição.

Mas a agenda de Bush para o Oriente Médio será dominada, signicativamente como antes, pelo Iraque: ele tem que fazer com que o experimento americano lá seja bem visto enquanto remove as tropas americanas do perigo.

Os poucos aliados sérios que os EUA têm no Iraque não estão preocupados com a ligação entre o Iraque e a questão israelense-palestina. Ou se estão, como no caso do primeiro-ministro da Grã-Bretanha Tony Blair, que está sob forte pressão política em casa, seus esforços para implementar o roadmap serão resumidos por Bush aos níveis retóricos e simbólicos: uma declaração da Casa Branca e uma conferência internacional.

Para os líderes moderados árabes, Bush parece ter aceito o argumento de seus assessores neo-conservadores de que são tigres de papel e que a ameaça representada pelas “ruas árabes” é um blefe. Tudo que pensa ter aprendido nos últimos 18 meses desde que a ocupação começou lhe diz que o Iraque vem antes da Palestina.

O segundo ítem na agenda de prioridades para Bush no Oriente Médio é o Irã, que apenas alguns meses atrás foi dito estar num ponto sem volta no desenvolvimento de armamento nuclear. Bush estará determinado em seu primeiro ano a deter os iranianos, seja por sanções internacionais impostas pelo Conselho de Segurança da ONU, concertado com outras grandes potências, ou por ações militares preventivas contra o projeto nuclear iraniano. Este último tipo de ação iria sem dúvida ter consequências de longo alcance sobre o resto do Oriente Médio, mas este é outro assunto.

Em terceiro, e só em terceiro lugar na agenda de Bush, está o conflito árabe-israelense, e em particular os temas israelense-palestinos. Bush endossou o plano de desligamento de Sharon. Enquanto ele parecer estar progredindo, Sharon provavelmente não será pressionado a fazer mais do que desmantelar alguns postos avançados. Bush aguardará até o final da primeira rodada do desmantelamento de assentamentos e da retirada do exército de Gaza e do norte da Cisjordânia, antes de examinar se a renovação do processo de paz é possível.

Enquanto isso, ele focalizará a pressão dos E.U. sobre qualquer nova liderança palestina para manter a segurança em Gaza. Por outro lado, se o desligamento não for bem sucedido, o corolário quase certo será novas eleições israelenses em 2005, outro obstáculo a pressão ou forte envolvimento americano. De uma forma ou outra, estaremos chegando às eleições intermediárias americanas de 2006, quanto Bush não desejará ameaçar o barco da maioria republicana nas duas casas do Congresso.

Aqui é necessário recordar que, no período pós-11/9, Bush, pelo bem ou pelo mal, revolucionou a estratégia americana para o Oriente Médio. Pela primeira vez em anos, o conflito árabe-israelense não e o foco primário da política dos E.U. Ao contrário, o foco é a percepção por Washington do Oriente Médio como uma região fracassada que é a origem do fanatismo islâmico e possivelmente a base para armas de destruição de massa apontadas para os Estados Unidos, assim obrigando os E.U. a intervir militar e preventivamente e atingir o coração da região para reformá-la.

Há pouco espaço neste conceito para o conflito israelense-árabe. Alem da negligência por Washington do tema palestino, observe-se como tem sido indiferente às tentativas da Síria para encetar seu processo de paz com Israel. Não existe nada a indicar que no segundo mandato de Bush, esta estratégia vá mudar. Isto é o que a nova administração de Bush deve fazer e deixar de fazer no Oriente Médio em seu primeiro ano.

Pressupondo que o desligamento se realize e nenhum parceiro dinâmico e estável palestino (ou israelense) para um processo de paz surja nos próximos meses, a melhor contribuição, que Bush poderia fazer durante o restante de seu mandato de quatro anos, seria possivelmente assegurar que uma segunda fase do desligamento, incluindo o desmantelamento de assentamentos, ocorra dentro da Cisjordânia.

Isto iria pelo menos manter viva a solução de dois Estados, dependendo da emergência de melhores lideranças, tanto em Jerusalém quanto em Ramalah, assim como de um governo norte-americano com uma orientação diferente para o Oriente Médio.

 

YOSSI ALPHER é co-editor da bitterlemons.org,  bitterlemons-international.org e da bitterlemons-dialogue.org. Foi diretor do Jaffee Center for Strategic Studies e assessor do ex-primeiro ministro israelense Ehud Barak.

© bitterlemons.org   08/11/2004

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