Razões para otimismo

n65
Parece, de repente, haver um monte de razões para otimismo na frente israelense-palestina. Os últimos quatro anos proporcionaram tão poucas oportunidades para qualquer otimismo, que é importante agarrar as atuais chances e chamar a atenção para elas.

IPCRI
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A primeira razão para otimismo é a transferência muito suave do governo na Autoridade Palestina após a morte do presidente Arafat. O IPCRI em particular não ficou surpreso por essa transição tranquila, como temos dito há anos sobre a era pós-Arafat , em termos de pelo menos dois períodos – um período interino no qual a liderança da Velha Guarda iria assumir o poder (com ou sem eleições formais), e depois um segundo período onde a Jovem Guarda iria se posicionar na liderança.

É claro que a dupla Abu Mazen / Abu Alá trabalhou bem para criar uma sensação de estabilidade. Eles trabalharam com muito sucesso no engajamento de todas as facções e partidos palestinos num diálogo objetivando assegurar a calma, conduzindo à eleições de 09/01/2005.

O problema mais volátil nas ruas palestinas é o potencial de lutas internas entre as várias partes e forças dentro da Fatah. Mesmo aqui, Abu Mazen e Abu Alá consolidaram o apoio do Conselho Central da Fatah, do Conselho Revolucionário da Fatah, dos prisioneiros da Fatah, e até de Marwan Barghouti para a candidatura de Abu Mazen para o cargo de presidente da Autoridade Palestina e do Comitê Executivo da OLP. Agora parece muito claro que Abu Mazen vencerá as eleições com uma expressiva vitória.

A primeira rodada de eleições municipais palestinas para mais de 20 governos locais prosseguirá como planejado em 23/12/2004. Agora parece muito possível que as eleições legislativas serão feitas na primavera de 2005 e que o 6º Congresso da Fatah, o primeiro em 16 anos, acontecerá em agosto de 2005. A Palestina está caminhando para uma democracia real.

O “esquadrão da morte” da Força Preventiva de Segurança de Gaza foi oficialmente desmantelado, fazendo disso o primeiro passo verdadeiro para uma reforma na segurança palestina. Uma central de operações de segurança dirigida por ingleses está funcionando em Gaza em parceria com a segurança palestina. Abu Mazen já declarou que armais ilegais e sem registro não serão tolerados e que os órgãos palestinos de segurança serão as únicas pessoas autorizadas a portar armas na Palestina.

O Sheikh Hasan Yusef, um dos líderes do Hamas na Cisjordânia, recentemente libertado de uma prisão israelense, começou a falar sobre a possibilidade de uma Hudna (trégua) de 10 anos com Israel, assim como de participar da vida política palestina. Ele fala sobre uma nova geração do Hamas como parte da democracia palestina, até mesmo engajada em negociações e construção de paz com Israel “disposta a viver lado-a-lado com Israel”. Talal Sidr, ex-membro do Hamas declarou sua candidatura à presidência da Autoridade Palestina. Parece que mesmo que o Hamas oficialmente esteja boiotando as eleições, é esperado que muitos dos seus simpatizantes irão de fato votar como ato de apoio à democracia palestina. Talvez os ventos da paz soprando em Damasco também tenham contribuído para essa nova música ser ouvida dentro do Hamas.

Noticiários abundam um novo tipo de “sinais de sedução” entre o primeiro-ministro Sharon e a nova administração palestina. A cada dia, há relatos de citações de pessoas de ambos os lados falando de encontros, coordenação, e retorno ao Road Map. Sharon fala de coordenar a retirada e o desligamento com Abu Mazen após as eleições palestinas. Abu Mazen fala de acelerar o cronograma e voltar imediatamente ao Road Map – transformando o desligamento numa parte da Fase I do Road Map, juntamente com as reformas e a unificação dos aparatos de segurança palestinos.

Ministros e dignatários do Exterior voltam à região, viajando entre Jerusalém e Ramalah. As mais importantes são as visitas de autoridades egípcias, particularmente do ministro Omar Suleiman e a próxima visita de Steven Hadley, o novo Assessor de Segurança Nacional da Casa Branca. Eles falam de assistência às eleições palestinas, à reforma de segurança palestina e à nova coordenação de segurança israelense-palestina.

As coisas estão indo para frente. Há conversas sobre iminentes melhorias na economia palestina. Israel prepara uma série de ações para permitir o livre movimento de palestinos com vista às eleições.

É hora de os dois lados tomarem passos positivos no fortalecimento dessas novas tendências. Israel deve remover checkpoints nos territórios. Trabalhadores palestinos devem de novo obter permissões para trabalhar em Israel. Empresários e comerciantes palestinos devem de novo ter livre trânsito. Os palestinos devem novamente ser autorizados a usar o aeroporto Ben Gurion para viagens internacionais, o que está proibido desde março de 2004. Israel deve imediatamente permitir aos palestinos abrir os escritórios de registro eleitoral em Jerusalém Oriental para permitir-lhes o cadastramento. Israel deve reabrir contatos de segurança no campo para coordenar uma redisposição das forças israelenses para fora de cidades e aldeias palestinas (áreas “A” e “B”) para as eleições e, caso isto dê certo, Israel deve começar a se retirar para as posições que tinha antes de 28/09/2000, de acordo com a Fase I do Road Map.

A Autoridade Palestina também deve continuar com seus passos positivos que iniciou nas reformas de segurança, incluindo a remoção de todas armas ilegais. A AP deve também remover imediatamente todas as formas de incitamento nas TVs e rádios oficiais palestinas. As facções e partidos políticos palestinos, além da Fatah, devem também começar reformas internas e processos de democratização. A AP deve concluir os processos legislativos de emendas à Lei Eleitoral e à Lei de Partidos Políticos, que são essenciais para a democracia palestina ainda antes das eleições.

Esses passos locais devem ser apoiados por um robusto envolvimento e engajamento internacional. A comunidade internacional deve respaldar as evoluções positivas com uma disposição real de conceder apoio financeiro e técnico para a reconstrução do processo de paz. A comunidade internacional também deve facilitar a reconstrução do processo político israelense-palestino, fornecendo guarda-chuvas e oportunidades para um verdadeiro reengajamento.

Ambas as populações precisam agora recuperar sua confiança na possibilidade de paz. Isto só pode ser feito com ambas as lideranças tomando passos decisivos para construir essa onfiança.

Não é hora de declarações vazias, é hora de ação. AGORA!

Gershon Baskin e Khaled Duzdar são diretores do IPCRI – www.ipcri.org – Centro Israel/Palestina de Pesquisa e Informação.

[ publicado pelo IPCRI em 29/11/2004 e traduzido pelo  PAZ AGORA|BR ]

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