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Mais 4 anos sem Bush – Visão palestina de Ghassan Khatib
Não é segredo que os palestinos em particular, e talvez os árabes em geral, se interessariam pelo fim da era Bush. Isto não necessariamente porque tinham algum interesse particular ou qualquer desejo racional em ver o senador John Kerry no seu lugar, mas sim como resultado da amarga experiência que os palestinos tiveram após quatro anos do presidente George W. Bush.
A diferença fundamental entre a presidência de Bush e governos americanos anteriores é o sabor ideológico desta administração e o efeito disso na abordagem de Washington ao Oriente Médio.
Os palestinos estão acostumados a uma pendência americana por Israel. Não é novidade, nem se esperava nada de diferente quando Bush chegou primeiramente ao poder. Mas Bush e sua administração foram além das tendências americanas a favorecer Israel em detrimento dos palestinos – o tradicional apoio militar, político e econômico a Israel.
Este governo mergulhou em novos níveis em sua falta de sensibilidade a estipulações específicas da legalidade internacional e resoluções formais do Conselho de Segurança da ONU, que costumavam dirigir pelo menos a posição oficial dos E.U. no conflito.
O mais óbvio exemplo deste desvio dos padrões internacionais aceitos foi a garantia oferecida em abril por Bush a Sharon em resposta ao então chamado plano de desligamento. As posições explicitadas na carta do presidente a Sharon, sobre fronteiras, refugiados e assentamentos foram um claro distanciamento das administrações americanas anteriores, da legalidade internacional, e talvez mais espantosamente, até do plano road map, de seu própria administração.
A outra fonte de intranquilidade palestina sobre o governo Bush, é a ligação que este fez entre atividades terroristas e esforços palestinos, inclusive com uso da violência, para terminar o ocupação ilegal israelense de terras palestinas e a violência que a ocupação tem exercido sobre o povo palestino. Esta atitude aparentemente levou o governo americano a se abster de assumir qualquer papel na solução do conflito palestino-israelense.
Isto, por sua vez, contribuiu dramaticamente para estimular Israel – que por acaso está sob uma liderança política e ideologicamente extremista – a proceder com uma estratégia de tentar impor uma solução pela força. Em outras palavras, este não-engajamento deixou os palestinos à mercê da máquina militar israelense, o que resultou na deterioração das situações de segurança, política e econômica que enfrentamos hoje.
Os próximos quatro anos de Bush podem não ser necessariamente uma continuidade do primeiro mandato. As eleições devem dar à administração um pausa para olhar atrás para os quatro anos anteriores com um olhar crítico.
Qualquer avaliação como essa deve levá-los a concluir que houve uma flagrante falha na política americana para o Oriente Médio vis-a-vis o conflito palestino-israelense, visível pela óbvia deterioração da situação e do fato que palestinos e israelenses estão agora muito mais distantes da paz que antes.
Mais importante, da perspectiva de Washington, os interesses dos americanos são mal servidos pela política dos últimos quatro anos. A credibilidade dos E.U. está em seu ponto mais baixo no Oriente Médio e um inevitável e importante fator disso é o tratamento do conflito palestino-israelense pelos Estados Unidos.
Outra razão para uma possível mudança de direção do governo americano é que agora ele está livre das restrições da busca de outro mandato. Não há dúvida de que em seu primeiro termo, especiamente em sua segunda metade, Bush esteve focalizado principalmente na reeleição, e seu comportamento político foi moldado por este foco. E não é segredo que o lobby pró-Israel e o fator judaico-americano são importantes neste ponto.
Para ajudar que a administração em seu novo mandato melhore seu desempenho no Oriente Médio, é necessário um engajamento ativo europeu com os Estados Unidos, estimulando o governo americano a ser mais proativo e investir um capital político significativo no conflito palestino-israelense.
Há também necessidade de uma estratégia diplomática árabe mais proativa e unida, do tipo que possa utilizar a importância estratégica do mundo árabe para defender causas árabes, incluindo a palestina.
Ghassan Khatib é co-editor do bitterlemons.org, do bitterlemons-international.org e do bitterlemons-dialogue.org.. É Ministro do Trabalho da Autoridade Palestina e foi, por muitos anos, nalísta político e contato de mídia
Published 8/11/2004 (c) bitterlemons.org – versão em português PAZ AGORA|BR
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