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Yasser Arafat foi o símbolo e a corporificação da Palestina, para o bem ou mal. Foi talvez o último na sucessão dos heróis e vilões maiores que a própria vida, que foram tão abundantes no século XX: Churchill, Hilter, Mussolini, Roosevelt, Stalin, pessoas que personificavam uma causa. Para o bem ou para o mal.
Pode levar um longo tempo, antes que a História atinja um veredito final sobre Arafat. Historiadores ainda discutem se Napoleão e Júlio César foram grandes homens ou grandes vilões. Para alguns astros da História, o veredito chegou mais cedo. Quando o ditador soviético Josef Stalin morreu, era o ídolo de mais de um bilhão de pessoas. Em Israel, o diário Al Hamishmar publicou então a manchete “O Sol das Nações Foi Extinto”. Gradualmente, a começar do discurso de destalinização de Nikita Krushchev no 20º Congresso do Partido Comunista Soviético em 1956, a verdade sobre Stalin foi revelada. Apos a queda da União Soviética, toda a extensão dos crimes de Stalin, assim como a odiosa natureza de seu predecessor Lenin, tornou-se visível para quase todos.
Será que Napoleão deve ser lembrado por desencadear guerras sem sentido por toda Europa, ou por espalhar a Liberdade? Stalin deverá ser lembrado pelo combate ao nazismo ou por assassinar dezenas de milhões de seus concidadãos? Será Yasser Arafat lembrado por fundar, de fato, a nação palestina, ou por criar um legado de terrorismo, ódio e corrupção baseado na eliminação sumária de opositores? Será Arafat recordado como o pai do movimento dedicado à eliminação de Israel pela luta armada, ou como o primeiro líder palestino a reconhecer a existência de Israel e instar por um Estado Palestino coexistindo lado-a-lado com Israel?
O nome verdadeiro de Arafat era Rahman Abdel-Raouf Arafat al-Qudwa al-Husseini, e provavelmente nasceu em 04 ou 24 de agosto de 1928 no Cairo ou na Faixa de Gaza. Seu pai foi líder da Irmandade Muçulmana em Gaza, e Arafat se tornou membro desta organização e do movimento al-Futtuwah de Haj Amin El Husseini, seu parente. Em 1955, foi recrutado pela inteligência egípcia para organizar estudantes palestinos. Em 1957, mudou para o Kuwait, onde fundou o movimento Fatah, baseado na FLN da Argélia.
A Fatah ajudou a catalisar a Guerra dos Seis Dias em 1967, aliando líderes árabes para agir contra Israel. O desastre militar dos países árabes levou Arafat e a Fatah para a proa, e Arafat tornou-se chefe da Organização para Libertação da Palestina (OLP). Seu estilo bombástico e sua atividade organizacional incansável, assim como o apoio da União Soviética, levou ao reconhecimento internacional da causa palestina, fazendo dele o “Sr. Palestina.
Em 1993, negociou uma tentativa de acordo com Israel, os Acordos de Oslo, que lhe permitiram retornar à Palestina. Mas os Acordos fracassaram em se tornar um Acordo de Paz. Arafat e seus companheiros aquiesceram ou foram coniventes com atentados terroristas. A mídia palestina emitia uma barragem constante de incitamento contra Israel. Em 2000, Arafat recusou uma oferta de paz intermediada pelo presidente Clinton dos E.U. e renegou seu compromisso de abandonar o terrorismo, marcando o início da “Intifada de Al-Aqsa”.
A ascensão de Arafat ao poder foi acompanhada de sumária eliminação de opositores nas organizações estudantis e campos de refugiados, e por explosões terroristas contra alvos civis israelenses. Os israelenses passaram a abominá-lo por suas táticas terroristas, e o transformaram numa personificação do “obstáculo à paz”.
Opositores palestinos, incluindo Edward Said protestaram contra sua liderança não democrática. Muitos irão vilificá-lo por seus êrros. Outros lembrarão de sua liderança e esquecerão suas más ações com desculpas como “você não pode fazer um omelete sem quebrar vos”.
A morte de Arafat, como a sua vida, foi propositalmente enevoada em mistério e acompanhada de acusações. Suha Arafat, sua esposa, acusou a liderança palestina de tentar enterrá-lo vivo. Atendendo a pedido dela, as autoridades da França, onde foi hospitalizado, recusaram-se a dar detalhes sobre a doença, levando a rumores de que ele tinha sido envenenado, enquanto médicos francês descartavam essa hipótese. Outros diziam, também de forma especulativa, que ele tinha AIDS.
Para os palestinos, a questão de como Arafat será visto pela História depende tanto da influência da luta pelo poder como da conquista dos objetivos nacionais. Com a saída de Arafat, todas as facções palestinas estão disputando sua figura como sendo seu líder, e moldando sua mensagem às suas respectivas necessidades ideológicas.
Os extremistas Hamas, seus inimigos em vida, estão agora aclamando Arafat como um dos seus, um líder palestino dedicado à destruição de Israel pela força… O porta-voz do Hamas, Khaled Mashaal, declarou: “Sentimos extrema tristeza e dor com a morte de nosso irmão Abu Ammar… Abu Ammar foi um grande líder com longas décadas de luta e enfrentamento aberto do inimigo. Foi firme durante as negociações de Camp David, quando defendeu os direitos dos palestinos e recusou renunciar a Jerusalém”.
Para os israelenses, a morte de Arafat pode abrir novas janelas para a paz, ou pode sinalizar perigo se uma sociedade palestina sem liderança desintegrar-se em caos e violência, pois a violência será indubitavelmente canalizada contra Israel.
Para os israelenses que rotularam Arafat como “o obstáculo à paz”, sua morte é um teste para, com a suposto ou verdadeiro obstáculo removido, eles agora comecem a negociar pela paz. Da mesma forma, o tempo dirá se Arafat era de fato o obstáculo que impedia os palestinos de suprimir os grupos terroristas e negociar um tratado justo de paz.
Ami Iasserof é editor do site www.mideastweb.org , onde foi publicado este artigo e podem ser encontradas mais matérias (em inglês) ligadas ao tema, assim como uma biografia de Yasser Arafat (:www.mideastweb.org/bio-arafat) e uma “História da Fatah, OLP e outros grupos palestinos (www.mideastweb.org/palestianparties.htm)
[ traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]