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A morte de Yasser Arafat abriu caminho para Israel retomar conversações bilaterais de paz com os palestinos, diz a antiga vice-presidente do Knesset. “Esta janela de oportunidade será muito curta e fugaz”, advertiu Naomi Chazan, na semana passada, na Universidade de Toronto.
Numa palestra patrocinada pelos Amigos Canadenses do PAZ AGORA ( www.peacenowcanada.org ) e o grupo Hillel da grande Toronto, Naomi instou Israel a não deixar escapar a oportunidade: “Se não soubermos aproveitar esta situação de mudança, provavelmente perderemos a chance para uma solução viável de dois Estados.”
Chazan, parlamentar do Knesset pelo partido Meretz de 1992 a 2003, declarou que a soberania palestina é do absoluto interesse de Israel: “Um Estado Palestino coexistindo com Israel é imperativo para a sobrevivência de Israel como um Estado judeu com uma maioria judaica.”
O desafio sionista” exige hoje que Israel admita a criação de um Estado Palestino viável dentro do quadro de um acordo permanente de paz.
Nesse sentido, Chazan disse que Israel e os palestinos devem se lançar no caminho de resolver complexos temas para uma solução definitiva, desde fronteiras permanentes até os refugiados palestinos: “Não temos tempo para um acordo interino”, disse, referindo-se ao plano de Ariel Sharon para uma retirada unilateral da Faixa de Gaza. “Precisamos negociar um término do conflito”.
Acrescentou que, com o falecimento de Arafat, Sharon não pode mais usar a desculpa de que Israel não tem um parceiro para negociar no lado palestino.
Chazan, professora de Ciência Política na Universidade Hebraica de Jerusalém e atualmente professora convidada do Centro de Estudos Internacionais do MIT, expressou opiniões não lineares sobre o esquema de desligamento de Sharon a ser implementado.
É um procedimento coercitivo sem participação palestina, um exercício de administração de conflitos e não de solução de conflitos, e de espírito anexionista, porque camufla o desejo de Sharon de anexar partes da Cisjordânia.
Mas o campo pacifista de Israel basicamente suporta o plano de Sharon porque representa um passo para fora da ocupação e determina um importante precedente no desmantelamento de assentamentos nos territórios, explicou.
O desaparecimento de Arafat abrirá uma luta pela sucessão, e talvez cause mais caos e anarquia nas áreas palestinas. Mas sua morte estimulará os palestinos moderados a se expressarem e permitirá aos palestinos reconstruir suas instituições abaladas por Israel desde a erupção da segunda intifada.
Chazan acusou o governo Bush, recentemente reeleito, de ser inconsistente na busca da paz. O presidente George W. Bush esposa uma solução de dois Estados no contexto de um acordo abrangente. Mas, ao mesmo tempo, ele apóia o plano de desligamento de Gaza, que diverge do caráter multilateral do road map para paz.
Ela acrescentou, numa crítica à falta de ação dos Estados Unidos, que Washington deve recuperar seu status de mediador honesto entre Israel e os Palestinos. Como retribuição ao seu apoio à invasão americana no Iraque, Tony Blair, aliado de Bush e primeiro-ministro britânico, está pressionando por um fim no conflito árabe-israelense, disse Chazan.
Olhando adiante, ela delineou três possíveis cenários que poderiam surgir:
” A luta entre Israel e os palestinos irá se acelerar, caso se mantenha o status quo;
” As atuais tensões serão perpetuadas, se Sharon não ampliar seu plano de Gaza para incluir mais que a evacuação de quatro assentamentos na Cisjordânia;
” Israel e a nova liderança palestina retomarão conversações.
As negociações devem ser baseadas na fórmula da solução de dois Estados, como proposta em 2003 pelo Acordo de Genebra, sugere Chazan, que fez mais duas observações:
” Marwan Barghouti, o líder palestino preso em Israel, poderá ainda concorrer à presidência da Autoridade Palestina.
” Se Sharon convocar um plebiscito sobre o tema da retirada de Gaza, obterá uma “retumbante vitória”. E num raro tributo a Sharon, seu adversário político, Chazan observou: “Ele é um político extraordinariamente habilidoso”.
[ publicado no Canadian Jewish News – www.cjnews.com – em 25/11/2004 – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]