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n59

Mais 4 anos com Bush – uma visão israelense

Três eventos quase simultâneos – a reeleição de George W. Bush, a doença de Yasser Arafat, e a aprovação pelo Knesset do plano de desligamento de Sharon – proporcionam uma oportunidade única para o avanço da política do Oriente Médio, inédita desde as vitórias americanas na Guerra Fria e na Guerra do Golfo em 1991. A nova constelação de eventos traz um novo ciclo, pois o anterior resultou da equivocada aposta em Arafat, através de Oslo, como o fundador de um Estado Palestino em formação.

A última ordem, aquela que dependia de Arafat para levar os palestinos à sua “terra prometida” ruiu quando Arafat deixou de lado o Estado que lhe foi oferecido em Camp David e lançou uma guerra de terror contra Israel. Essa guerra desacreditou-se pelos ataques do 11/9, que criaram uma divisão global entre Estados e entidades que apóiam o terrorismo, de um lado, e suas vítimas lideradas pelos Estados Unidos (e Israel), do outro.

Em junho de 2002, Bush aplicou a nova ordem global ao conflito árabe-israelense quando instou os palestinos a “eleger novos líderes, líderes não comprometidos com o terror”. Bush simultâneamente aprofundou o compromisso americano com um futuro Estado Palestino enquanto, pela primeira vez, contingenciava esse compromisso a ações palestinas: reformas democráticas e fim do terrorismo.

Diferentemente do Afeganistão e Iraque, os E.U. não agiram para fazer o regime mudar, e talvez tenham evitado que Israel o fizesse. O resultado foi um impasse no qual tudo o que restava fazer era esperar que Arafat deixasse a cena, de uma forma ou outra. Agora ele saiu.

Inicialmente, o velho adágio “se você não sabe o que fazer, faça o que sabe”, deve prevalecer. Isto significa tentar reviver o congelado road map americano-europeu. Mas se os novos/velhos líderes mantiverem a recusa de Arafat a utilizar as amplas forças políticas e militares à sua disposição para combater o terror, o roadmap permanecerá tão paralisado quanto sempre foi.

Antes que seguir o roadmap até o mesmo beco sem saída, seria interessante que as partes aproveitassem este momento para pensar um pouco além. Para os palestinos, isto começaria por absorver o contexto mais amplo.

Do lado de Bush, os E.U. têm peixes bem maiores para fritar do que forçar os palestinos a aceitar um Estado que, sob Arafat, não quiseram e não se esforçariam para trazer.

Diferentemente de seu predecessor, Bush não acredita que a transformação da região gire em volta do conflito árabe-israelense, mas o contrário. Agorá é óbvio que Bush e até mesmo Sharon acreditam numa solução genuína de dois Estados mais do que Arafat chegou a acreditar, mas eles estão dispostos a esperar até que surja uma liderança palestina que também acredite nisto.

O principal teste para a seriedade dos palestinos neste jogo não é apenas o abandono do terrorismo, mas da “solução de um único Estado”, também conhecida como “direito de retorno”. Quando uma liderança palestina abandonar o desafio à soberania israelense colocado pela reivindicação palestina do direito de viver em Israel, o conflito estará , em princípio, terminado.

Ami Ayalon e Sari Nusseibeh já (diferentemente do (“Acordo de Genebra”) forneceram tal fórmula: “Os refugiados palestinos retornarão apenas para o Estado da Palestina; os judeus retornarão apenas ao Estado de Israel”.

Sem considerar o que Sharon diz, o desligamento e talvez até a conclusão da cerca de segurança, estarão de fato totalmente amarrados às ações palestinas. Então, se uma liderança palestina desejar sustar essas ações unilaterais israelenses, ela terá o poder de fazê-lo tomando os passos que tornem o caminho da negociação desejável e irresistível.

O desafio tático para a comunidade internacional, incluindo o governo Bush, será evitar fazer à liderança palestina o “favor” de diminuir seus padrões de adequação aos termos do roadmap quanto ao fim do terror, pois isto garantiria um outro impasse ao estilo Arafat, para não mencionar a perda de mais vidas palestinas e israelenses.

O desafio estratégico, se a promessa deste momento for realizada, é que os E.U. instem os países árabes a ajudar a puxar o tapete do velho jogo de um único Estado. Isto significa dizer em bom som que a demanda de “retorno” a Israel não voará porque é inconsistente com a visão mundial de dois Estados. Um bom começo seria que o presidente Bush, como já disse uma vez, repetisse este princípio o suficiente para torná-lo o pilar central da política para o Oriente Médio de seu segundo mandato.

O afastamento de Arafat traz a promessa de acabar o abandono palestino. O mundo exterior pode ajudar dizendo assim, e apontando um farol para a raiz do conflito: a incapacidade dos palestinos e do mundo árabe para rejeitar a fantasia do Estado único, na forma da afirmativa de um assimétrico “direito” palestino de imigrar para Israel.

Saul Singer é editorialista e colunista do The Jerusalem Post, e autor de “Confronting Jihad: Israel’s Struggle and the World After 9/11″.

Nota: Recomendamos, para manter a intenção de equilíbrio do bitterlemons que, em caso de reprodução, se exponham as opiniões de israelenses e palestinos conjuntamente.

[ publicado em 8/11/2004 pelo bitterlemons.org – versão autorizada em português: PAZ AGORA|BR ]


> + sobre o tema “Mais 4 anos com Bush” nas análises de Ghassan Khatib, Yossi Alpher e Ali Jarbawi, neste site <

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