Quem tem medo de uma guerra pela sucessão ?

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Embora Yasser Arafat tenha estado doente por mais de uma semana, e pessoas venham falando há anos sobre o dia seguinte ao seu desaparecimento, a repentina piora de sua condição tomou o seu movimento de surpresa. Nas palavras de um de seus membros, as pessoas da Fatah hesitavam em falar de um herdeiro, mesmo quando parece que Arafat está morrendo.

Até ontem, nenhuma reunião formal foi feita pelo gabinete ou por qualquer instituição da OLP ou da Fatah. Mas, mesmo antes de ser decidido mandá-lo para Paris, houve consultas espontâneas sobre os próximos passos e como preencher temporariamente o vácuo de liderança.

Contrariamente às expectativas e previsões de uma guerra pela sucessão que poderia evoluir para uma batalha sangrenta, representantes graduados da Fatah e da Autoridade Palestina (AP) disseram ontem que isto não aconteceria.

Não é esperada nenhuma guerra pela sucessão, disse um membro sênior da Fatah, porque a herança não é tão atraente. “O que esta herança oferece, afinal? Governar uma nação frustrada, empobrecida e sem esperança, que sofre diariamente ataques militares?” , perguntou.

Além disso, ninguém no sistema político palestino tem suficiente poder para se auto-declarar como líder, adicionou: “Ninguém tem tão altas ambições pessoais que o levaria a tomar o poder contra a vontade de outros”.

O nome de Abu Mazen (ex-primeiro-ministro Mahmoud Abbas) foi trazido, em todas as consultas, como o homem que poderia preencher o vácuo. Seu papel oficial será decidido de acordo com um dos seguintes cenários: Arafat se recupera, Arafat continua doente indefinidamente mas mantém oficialmente seus poderes, ou Arafat morre.

Três sucessões estão em jogo: a liderança da OLP, a liderança da AP e a liderança da Fatah. “É como um time de futebol. Alguns podem jogar enquanto outros sentam no banco, mas basicamente são todos as mesmas pessoas”, disse o membro sênior da Fatah. Seus sensos de responsabilidade os preparou, disse, para procurar o homem que seja aceito pelos vários grupos rivais na Fatah e que possa agir num sistema coletivo.

Abu Mazen é o primeiro na hierarquia, conforme os regulamentos da AP e da OLP. A OLP delega autoridade à AP, e está portanto acima dela. Abu Mazen é o secretário do comitê-executivo da OLP, e assim tem mais autoridade que o primeiro-ministro Ahmed Qurei (Abu Alá). Portanto, fixar o lugar de Abu Mazen no alto da hierarquia da OLP é um ato quase automático. Sua tendência natural para agir num órgão coletivo neutraliza a possibilidade de competição com Abu Alá e pavimentar o caminho para formação de uma liderança coletiva.

Na Fatah, as coisas são diferentes: Abu Mazen renunciou a seus cargos nas instituições da Fatah, após seu comitê central ter-lhe virado as costas quando primeiro-ministro. Oficialmente, o comitê central pode se reunir e eleger um chefe interino. Mas os ativistas de base da Fatah deixaram claro ontem, em consultas extra-oficiais, que querem ver Abu Mazen de volta, assumindo a autoridade como chefe do movimento. Até que se esclareçam as condições de Arafat e/ou eleições sejam realizadas, Abu Mazen assumirá os encargos de Arafat, disseram, exceto no que chamaram de aspectos negativos. “É difícil para nós ver Abu Mazen assinando cheques para tratamentos médicos desta ou daquela pessoa, ou para estudos no exterior para a filha de algum funcionário graduado”, foi dito.

As instituições e ministérios da AP continuarão funcionando até melhor, disse um funcionário. Arafat dificilmente interferia em suas atividades, “mas quando ele o fazia, tinha um efeito negativo, porque ele tentava restringir pessoas ou promover outras por razões irrelevantes”.

O vácuo é sentido mais ao nível de tomada de decisões políticas, do que no administrativo. Após anos nos quais a decisão política de Arafat era não decidir, a solução provavelmente será formar uma liderança que atuaria até as eleições “colegiada e consensualmente como um grupo”.

“Se existe um temor de derramamento de sangue, é por choques entre grupos militantes”, disse uma autoridade de Ramalah. “Uma liderança coletiva levaria isso em consideração”, disse, expressando a esperança de que “Israel não tente interferir e romper as coisas, preenchendo sua previsão de uma luta sangrenta”.

Amira Hass é correspondente do Haaretz em Ramalah.

[ publicado no Haaretz e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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