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O colapso da máquina de controle do regime na Autoridade Palestina (AP), a falta de decisões estratégicas sobre como continuar a campanha política e militar, e a anarquia que inclui desobediência ao comandante supremo – estas são algumas das preocupantes descrições que surgem num relatório parlamentar palestino, como publicado ontem no Haaretz .
Existe muitas evidências no campo que dão suporte aos depoimentos que aparecem no relatório. Em Gaza, uma revolta emergiu contra os líderes da AP, e houve tentativas de estimular revoltas similares em várias cidades da Cisjordânia. Por algum tempo, líderes de gangs em Gaze tem controlado alguns bairros e quarteirões, organizações de oposição ou bandos percorreram alguns dos campos de refugiados na Cisjordânia, e de fato, como o Ministro do Interior palestino Hakim Balawi deixou claro, a AP tem perdido controle sobre os acontecimentos.
O declínio dos serviços de segurança e civis palestinos não é um fato recente. Pelo menos há dois anos, críticos palestinos da AP têm emitido acusações sobre corrupção, nepotismo, e tráfico político. A demanda por reformas também não é nova. Em artigos e entrevistas, ministros e autoridade de alto escalão da AP têm demandado mudanças na estrutura da AP, unificação do aparelho de segurança e mesmo a redução do controle de Yasser Arafat sobre a máquina de segurança. A luta armada, particularmente os atentados suicidas, também vem recebendo fortes críticas dentro do campo palestino.
A declaração do desligamento unilateral contribuiu para o debate interno palestino. A questão poderia moldar uma nova face para a liderança palestina, e ainda mais que isso, o futuro do Estado Palestino. A liderança palestina está hoje numa encruzilhada onde deve decidir se deseja e quer assumir o controle sobre seus assuntos, ou permitir que todas suas instituições – e com elas todos os mecanismos do regime – entrem em colapso, cedendo assim o controle para as organizações radicais, gangs e quadrilhas.
Falando em termos práticos, a AP, e especialmente aqueles que desejam desempenhar papéis de liderança no futuro, devem notar que os fatos políticos em Israel, acima do desligamento de Gaza, criaram uma rara oportunidade para que as duas nações retornem à trilha da reconciliação.
Existe uma chance para uma mudança muito significativa no discurso interno israelense. Mas a mudança ainda não chegou, e a deterioração para a anarquia no lado palestino poderia por em perigo suas chances.
Israel também não pode ficar postado apenas como um observador do que está acontecendo no lado palestino. Mesmo sendo o desligamento unilateral, isso não significa que Israel não tenha interesse em quem irá assumir a Faixa após a retirada do exército israelense. O governo deve iniciar deliberações práticas com um interlocutor valioso e interessado do lado palestino sobre procedimentos técnicos para a retirada. Tais discussões não ferem o unilateralismo do plano, e poderiam evitar uma situação na qual o exército teria que retornar à Faixa logo após a evacuação dos assentamentos.
[ Editorial do Haaretz traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]