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Q&A – Entrevista Internacional – YOSSI BEILIN |
Yossi Beilin. líder do novo Partido Social-Democrata de Israel – Yahad, foi entrevistado via internet, em 28|07|04, por milhares de leitores do jornal israelense Haaretz em todo o mundo. Beilin, que comanda o partido de esquerda Yahad, articulou no ano passado o Acordo de Genebra, conjuntamente com o líder palestino Yasser Abed Rabbo. A iniciativa não-oficial propõe uma concessão palestina sobre o direito de retorno a terras dentro do Estado de Israel, em troca da soberania sobre o Monte do Templo. O plano também propõe uma retirada israelense da maior parte da Cisjordânia e de toda a Faixa de Gaza. A proposta encontrou uma desaprovação furiosa do governo Sharon. Beilin serviu como Ministro da Justiça ao governo chefiado por Ehud Barak, e foi também um dos arquitetos do Acordo de Oslo. Seguem trechos publicados na versão on-line do Haaretz, onde um dos principais líderes pacifistas de Israel responde a perguntas de israelenses, australianos, palestinos, egípcios, turcos…
Parece-me que o desligamento de Gaza, ainda que não sendo a melhor solução, é a única possível de ser realizada nas atuais circunstâncias. O Sr. apóia o desligamento de Gaza? (Dov Yafit- Ramat-Hasharon, Israel) Yossi Beilin: Eu concordo com a sua opinião de que uma retirada unilateral de Gaza está longe da visão do Campo da Paz de um acordo definitivo de paz, em linha com o Acordo de Genebra. É muito claro que Sharon está lançando a trilha de uma retirada unilateral para evitar um acordo. Ainda assim, como você sugere em sua questão, não se pode ignorar que neste exato momento este é o principal jogo que está rolando. Mais ainda, o fato de que Sharon, pai do movimento de assentamentos, irá desmantelar assentamentos é importante. Portanto, o Campo da Paz, e o Partido Yahad em particular, apoiará o plano quando for proposto no Knesset, e fará seu máximo para usar o momentum da retirada para renovar o processo de paz. O Sr. acha que Sharon e seu governo irão se retirar de Gaza e da Cisjordânia, de forma que os palestinos possam construir um Estado, ou irá o plano de retirada apenas transformar Gaza numa grande prisão para os palestinos? (Kosay- Cairo, Egito) YB: Ouvindo Sharon e conhecendo sua escola de pensamento, suspeito que ele está conduzindo o plano de retirada unilateral com vistas a evitar que a visão de Genebra se transforme em realidade. E para promover o seu antigo plano de Bantustões para a Cisjordânia e Gaza. No entanto, acredito que tais processos têm suas vidas próprias, e depende dos campos da paz – tanto do israelense quanto dos árabes – juntamente com o mundo, fazer que este plano seja um “Primeiro Gaza” em vez de “Final em Gaza”. A maioria dos palestinos apenas enxerga uma usurpação israelense de terras no Muro da Cisjordânia, incessante atividade de assentamentos, e presença militar agressiva do exército israelense. Assim, para os palestinos, a solução de Dois Estados parece inviável. O Sr. poderia dizer algo para atenuar esta percepção palestina? (Ghassan Abdullah -Ramalah, Palestina). YB: Acho que nos meados dos ’90, israelenses e palestinos experienciaram um lampejo da atmosfera que um acordo de paz entre os dois povos poderia criar. Lamentavelmente, o ciclo de violência que começou em setembro de 2000 minou severamente a confiança entre os dois povos. Entretanto, posso dizer aos palestinos e israelenses que eles não devem perder a esperança. Não existe uma alternativa real à solução de Dois Estados, que traga paz e estabilidade à nossa região. Os dois lados não devem desistir de seus parceiros pela paz, mas ao contrário, devem reforçá-los. O Sr.se acha pessoalmente responsável pelos milhares de mortos e feridos israelenses que foram vítimas de sua fracassada política de Oslo? (Paul Herdan- Los Angeles, E.U.) Em vista da caótica situação nas ruas palestinas, como o Sr. proporia iniciar negociações para um acordo de paz entre Israel e os palestinos, e com quem? (Shimon Z. Klein -Bat Hefer, Israel) Conforme muitos observadores, é impossível concluir um tratado de paz estável israelense-palestino com Arafat. Por essa razão os governos israelense e americano o isolaram física e diplomaticamente. Qual seu ponto de vista sobre isto? O Sr. também o riscou de sua agenda? (Alfred Pijpers- Haia, Holanda) Dada a sua experiência em Camp David e Taba, o que é necessário do lado palestino para que o processo de paz avance. E se estes passos necessários se materializarem, como poderia a população de Israel ser convencida de que é possível um progresso? (Steve Sass- Marblehead, E.U.) YB: Antes de 12|10|/2003, minha resposta a esta questão seria uma hipótese. Mas agora, após chegar ao Acordo de Genebra naquela data, sei que tanto israelenses quanto palestinos proeminentes podem chegar a um acordo. Mesmo este acordo não sendo oficial, ele consegue um apoio estável de 40% em ambos os lados. Acredito fortemente que se tal acordo for apresentado por lideranças oficiais, ganhará uma vasta maioria. Com relação à Síria, não ouvimos nada sobre alguma negociação. Parece que todo diálogo foi congelado. Pergunto-me sobre o status das negociações das Colinas de Golan. Israel está preparado para devolver as colinas na sua totalidade? (Sossi Yepremian – Los Angeles, E.U.) O que o faz pensar que tem o direito de negociar com palestinos ou qualquer outro, se o Sr. não é um representante eleito pelo povo israelense? Em qualquer outro país, o Sr. enfrentaria acusações de traição. (George Erdos – Toronto, Canadá). YB: Tenho orgulho da democracia israelense, que permite tal comportamento. Como o Sr. provavelmente sabe, nunca tivemos a pretensão de assinar um acordo, mas sim uma carta à Ministra do Exterior da Suiça, com um modelo de acordo em anexo. Por que existem diferenças tão significativas entre o que o Acordo de Genebra diz em inglês, em hebraico, e o que diz em árabe, particularmente com respeito ao “Direito de Retorno?” (Shari Reich – Lakeland, FL, E.U.) O muro de separação se provou um meio eficaz para conter atentados terroristas. Dada a presente situação, o Sr. vê uma real alternativa a completar o muro? (Eran – Bonn, Alemanha) YB: O muro de separação é, por sua natureza uma solução de curto-prazo. Ele não defenderá Israel por si. E seu traçado só pode ser o das fronteiras de 1967. O que explica a posição da Europa, visivelmente contra Israel? (Neil Solomons- Londres, G.B.) Quanto da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém o Sr. está disposto a ceder como parte de um acordo definitivo? (Michael Rogers- Colorado , E.U.) O Sr. detecta sinais de uma decadência ideológica em Israel? Parece que o sionismo, como ideologia pioneira, já se acabou e agora precisa ser redefinido para sobreviver. Qual sua opinião? (Efraim- Jerusalém, Israel). O Sr. acha que a liderança palestina irá, ao final, concordar em renunciar ao direito de retorno de refugiados palestinos como parte de um tratado final de paz? (Susan Jenkins- Wellington, Nova Zelândia). Y.B: Os palestinos entendem que a insistência no direito de retorno irá impedir um acordo com qualquer governo israelense no futuro. E eu acredito que está provado na Iniciativa de Genebra que se pode chegar a um acordo com eles sobre uma solução definitiva sem qualquer referência ao direito de retorno. Quão bem sucedido e eficiente seria um Estado Palestino administrado nas duas regiões separadas de Gaza e Cisjordânia? (Harry Schnapp- Sydney Austrália). O que os fez oferecer a renúncia ao Portão de Jaffa e Efrat no Acordo de Genebra? (Murray- Thornhill, Canadá). O quão preocupante é o crescimento do antissemitismo na Europa? Como o Sr. acha que Israel deveria agir em relação a isso? (Ido Lotan- New York, E.U.).
Y.B: O antissemitismo é um fenômeno preocupante em todo o mundo. Seria difícil, ou mesmo impossível, eliminá-lo. Mas é o papel do Estado Judeu fazer qualquer coisa possível para não despertar esta besta às vezes adormecida e assegurar que os atos de Israel não estejam aumentando as perspectivas de antissemitismo. Eu acredito que o atual governo não está levando isto em conta. Israel, por exemplo, deve ser muito cuidadoso quando decide assassinar um líder inimigo e sua família, sabendo que alguém como ele pode provocar um atentado terrorista em comunidades judaicas, como o que aconteceu no edifício da AMIA em Buenos Aires, em 1994. Gostaria de ouvir sua opinião sobre o Sr. Arafat. O Sr. concorda com a tese bem difundida de que, até que ele saia do cenário, nada pode acontecer? (Asi- Londres, G.B.) Apesar do fato de os temas social e econômico se terem tornado centrais na política israelense, parece que as suas próprias posições sobre esses assuntos não são totalmente claras. Com relação a isso, com qual partido europeu ou americano o Sr. mais se identifica? (Amir- Oxford, G.B.) Y.B: Não creio que muitos outros líderes israelenses tenham se preocupado em escrever livros sobre suas posições sociais e econômicas. Posso remetê0lo ao meu livro que foi publicado em 1999, chamado “Do Socialismo ao Social-Liberalismo“. Eu me vejo como parte da internacional socialista, e me identifico com as políticas dos partidos social-democratas na Europa, como o sueco e muitos outros. Demograficamente, dada a taxa de nascimento dos árabes israelenses muito maior que a dos cidadãos judeus, eles poderiam se tornar maioria em Israel, com a correspondente representação no Parlamento. Como o Sr. vê o futuro e a existência de Israel como estado judeu, e qual é sua sugestão para evitar que isso aconteça? (Gabi- Tel Aviv, Israel) O Sr. acha que o Irã é uma ameaça existencial a Israel? As ameaças israelenses de atacar o Irã tornam Israel mais seguro? (Marsha Cohen- Miami, E.U.) Parece que quanto maior o sucesso do movimento dos colonos, mais a solução de um único Estado se torna mais viável a longo-prazo. Que passos devem ser dados para assegurar que uma solução de Dois Estados reemerja como alternativa preferida pelos dois lados? (Albert A. Gregorio- Rochester, N.York , E.U.) Meu entendimento é que o Yahad se opõe ao direito de retorno palestino, mas também se opõe às emendas às leis de imigração que cancelam a possibilidade de palestinos se tornarem israelenses através do casamento, conhecido como o “crawling right of return”. Como o Sr. explicaria esta discrepância? ( Yoav Dotan- Detroit , E.U.) Os judeus têm algum direito de viver em Hebron se os palestinos não os desejam lá? (Larry Brown- Chicago, E.U.) Por que não existe um PAZ AGORA palestino? (Chaim Landau- Givat Shmuel, Israel) Y.B: Só é preciso acompanhar os acontecimentos no lado palestino, os anúncios que foram publicados no mês passado contra a violência e contra atitudes de vingança, o trabalho que está sendo feito com o objetivo de apoiar a Iniciativa de Genebra, as assinaturas que foram coletadas em apoio à Iniciativa Ami Ayalon-Sari Nusseibeh, para entender que esta questão já pertence a uma época passada. O que pensa o Sr. da entrada do Partido Trabalhista num governo de união nacional com o Likud? (Leelee- Paris, França) Y.B: O Partido Trabalhista [Avodá] está cometendo um grave erro ao tentar voltar ao governo Sharon. A experiência de 2001 a 2002 foi traumática para os interesses nacionais de Israel e para o próprio partido. Se o Avodá quer apoiar a retirada unilateral de Gaza, pode fazê-lo dando ao Likud uma rede [parlamentar] de proteção, ao invés de obter pastas ministeriais e compartilhar a responsabilidade coletiva por políticas a nível econômico, social e religioso que são contrárias à sua própria ideologia. O Sr. acredita que a esquerda israelense, e o Yahad em particular, são percebidos pela maioria dos israelenses como representantes da classe média alta, alienados da massa de israelenses que sofrem a insegurança econômica? Se for assim, o Sr. tem algum plano para superar esta percepção? (Noam Knoller- Amsterdam, Holanda) Os judeus europeus estão hoje numa situação difícil. Enquanto tentam convencer suas comunidades a apoiar posições de esquerda e pacifistas, tornam-se menos e menos claros sobre temas como a cerca e os refuseniks. O Sr. teria alguma orientação para eles? ( Stephane N. Ginsburgh- Bruxelas, Bélgica) O Sr. enxerga um novo mapa político sendo formado, com o Likud e o Avodá rechando para fomar novas alianças direita-esquerda – direitistas do Likud unindo´se à União Nacional , deputados esquerdistas do Avodá juntando-se ao Yahad, e uma terceira força de centro ? (Eliezer Ben-Moshe – Jerusalém, Israel) Y.B: Não acredito na teoria do Big Bang. Acho que em qualquer sistema político normal se tem uma esquerda e uma direita e as vamos ter sempre em Israel. A esquerda é o movimento que nunca está contente com a realidade, a qual sempre deseja melhorar. A direita é movimento que justifica a situação presente. Deve haver um acordo entre direita e esquerda em temas específicos, o que ocorre em qualquer sociedade. Mas não se deve tirar nenhuma conclusão disso, acreditando que seja um denominador comum amplo o suficiente para permitir uma unificação entre as duas. Muçulmanos e judeus já viveram em relativa paz, por exemplo, na Espanha, onde o grande Maimônides viveu e trabalhou. Mas hoje, graças ao legado da guerra e do terrorismo as relações muçulmano-judaicas são muito pobres. Como um corajoso pacifista israelense, o que o Sr. pensa que pode ser feito para melhorar as relações entre muçulmanos e judeus? (Ali Adams – Istambul, Turquia) Y.B: Não tenho a panacéia e não posso ignorar o ódio e a desconfiança que se desenvolveu na última geração entre muçulmanos e judeus. Mas acredito que iremos achar uma solução para o conflito israelense-palestino e se passarmos a soberania sobre o Monte do Tempo (Haram al-Sharif) aos palestinos, isso deve abrir um novo capítulo nos relacionamentos entre os dois povos e as duas religiões. A imagem pública de Israel jamais foi tão má – com ou sem razão. O que deve Israel fazer para melhorá-la, especialmente no mundo árabe? (Ehud Kauffman – Haifa, Israel) O que o Sr. pensa que acontecerá aos moradores árabes de Jerusalém Oriental, e em particular aos que vivem próximos aos muros da Cidade Velha? Tornar-se-ão cidadãos israelenses? Muitos desses moradores são apátridas, sendo considerados meros residentes permanentes, mesmo que tenham vivido todas as suas vidas sob jurisdição do governo israelense. (David Steinberg – Londres, G.B.) Como os árabes palestinos jamais tiveram um país do qual Israel tenha tomado terras, e Jerusalém jamais foi a capital de qualquer país árabe, mesmo quando esteve sob as ocupações jordaniana e otomana, por que o Sr. ofereceria a soberania do mais sagrado local judeu, o Monte do Templo, e dividiria a capital de Israel com árabes palestinos, especialmente quando Israel permite as orações muçulmanas no Monte do Templo, enquanto a Jordânia transformou o Muro das Lamentações num depósito de lixo durante sua ocupação? (Marlene Young – Baltimore, E.U.) Por que não podem israelenses e palestinos viverem juntos num Estado unificado e secular? Isto evitaria tanta violência e seria um golpe nos fundamentalistas muçulmanos e judeus. Acima de tudo, isso eliminaria a alternativa – um Estado de apartheid na medida em que a população palestina deve superar a judaica nos próximos 20 anos, e significaria não serem necessários longos e complexos tratados sobre divisões, direito de retorno, fronteiras e Jerusalém, que uma solução de Dois Estados envolveria.(James Hurst – Londres, G.B.) Y.B: A idéia sionista era sobre um Estado judeu. Se renunciarmos a essa idéia, não haverá vantagem em viver nesta terra, para muitos de nós. Existem muitos países mais agradáveis do que Israel nos quais poderíamos ser uma minoria como judeus. A idéia tpda é ter ao mesmo tempo uma maioria judaica e democracia, o que significa direitos iguais para todos os cidadãos judeus e não-judeus do país. A realização, por palestinos e por israelenses ,da aspiração por autodeterminação, é uma causa nobre, em minha opinião, e eu não a trocaria pela idéia de um país democrático secular no qual os dois povos continuariam seu conflito em torno de cultura, símbolos ou identidades nacionais. Como pode o processo de Oslo – durante o qual houve massivos confiscos de terras, a criação de checkpoints, a duplicação da população de colonos e “legalização” da ocupação israelense através de leis – servir de modelo para paz? Não deveria a esquerda israelense, que controlava o governo nos anos de Oslo assumir a responsabilidade pelo fracasso do processo de paz? (Connie Hackbarth – Jerusalém, Israel) As duas partes do acordo violaram sua implementação, e de certa maneira pode-se dizer que esse processo foi assassinado em 04|11|1995 [dia do assassinato de Yitzhak Rabin]. O que temos de fazer, agora mesmo, é chegar a uma solução definitiva o quanto antes, baseados nas mesmas idéias de Dois Estados, ao longo das fronteiras de 1967 com pequenos ajustes, duas capitais em Jerusalém, compensação para os refugiados palestinos e arranjos de segurança para ambas as partes. O Sr. acha que os grupos terroristas irão derrubar o governo de Yasser Arafat ? (Ben – Chicago. E.U.) Y.B: A desordem nos territórios palestinos pode levar a vários resultados. Não há dúvida de que o interesse nacional de Israel está na estabilidade do lado palestino, e espero que a decisão do primeiro-ministro Abu Ala [Ahmed Qurei] de retirar sua renúncia irá contribuir para a estabilidade do lado palestino. Como o Sr. explica o simples fato de que nos últimos 10 anos, desde o início do processo de paz israelense-palestino, o número de baixas israelenses é muito maior do que nos 30 anos anteriores? Não seria esta a verdadeira razão de os israelenses estarem céticos sobre o assim chamado “Processo de Paz”? (Yosi I – Tel Aviv, Israel) Como o campo da paz, incluído o Partido Trabalhista, está tentando voltar ao poder em Israel? O que o Sr. pessoalmente pensa que John Kerry, caso eleito, pode fazer? (Talal Altatar – Houston, E.U.) Y.B: Não temos nenhuma teoria mágica sobre como vencer as próximas eleições, mas sabemos que precisamos trabalhar muito. Estamos dedicando nosso tempo a encontrar pessoas, o máximo que possamos, para partilhar com elas nossas visões sobre paz e justiça social, e acredito que apenas através de tais encontros, aumentaremos nosso poder. Conheço John Kerry, o aprecio e acredito que de forma geral, ele está expressando os pontos de vista da ala moderada e pragmática dos E.U. e outros lugares. O que pensa do plano de Ami Ayalon e Sari Nusseibeh? O que o Sr. diz do comentário de Ayalon, que diz que a esquerda israelensa se distanciou muito da sociedade israelense? O seu partido teria a resposta certa para esta alienação? (Eyal – Boston, E.U.) O Sr. acredita que um fórum internacional com influência americana teria chance maior (que a Cúpula de Camp David em 2000) como fórum para negociações abrangentes ? (Gilad – Los Angeles, E.U.) O Sr. acha a política de imigração de Israel correta? Como um não-judeu, desejoso de viver em Israel, fiquei surpreso em saber que as políticas de imigração mudam conforme o peso dos ultra-ortodoxos no governo. O Sr. realmente acha que aceitar apenas judeus convertidos pelo rito ortodoxo é correto? (Jordi Gomis – Barcelona, Espanha) Y.B: Como Estado judeu e democrático, Israel deve estar aberto a qualquer judeu que deseje viver aqui, mas isto não significa que devemos ter portões fechados para todos os outros. Penso que as recentes mudanças feitas na política de imigração de Israel estão erradas. Desde setembro de 2000, tenho ouvido várias vezes o Sr. condenando as ações do exército israelense (assassinatos seletivos, bloqueios de estradas) por não existir solução militar para o terror. É possível que todas essas ações que o Sr. desaprovou tenham salvado centenas de vidas até agora? É possível haver uma solução militar? (Iris F – Tel Aviv, Israel) Y.B: Qualquer solução desse tipo é uma solução temporária e deve provocar violências ainda maiores no outro lado. Apenas um acordo com nossos parceiros do lado palestino nos permitirá que vivamos uma situação diferente, que acredito será muito mais tranqüila. O Sr. não se preocupa que o Acordo de Genebra se torne a base para novas negociações? Ahmed Qurei já iniciou o que acha ser um bom “ponto de partida” para um acordo. Parece que Genebra contém todas as concessões pelo lado israelense, mas concessões muito vagas do lado palestino. Não foi esta a história de Oslo? (David – Sydney, Austrália) Y.B: Como o mesmo tipo de crítica é ouvido pelos nossos parceiros palestinos em seu lado, acredito que é justo dizer que a Iniciativa de Genebra é um tratado justo. Se ela é percebida como um ponto de partida para Israel, e também para os palestinos, é porque ambos os lados manifestaram sua disposição para assiná-las e este é o grande avanço de Genebra. Por quanto tempo os campos da paz ficarão como reféns dos extremistas nos dois lados? Se o Sr. acredita que a maioria em Israel apóia a solução de Dois Estados, o que realmente tem que acontecer para que o campo da paz israelense se reenergize e obtenha o suporte de uma maioria sólida? (Fawad Razzaque – Saint Louis, E.U.) A Comissão de 11|9 concluiu seu relatório nomeando o terror islâmico como o o inimigo que os E.U. devem combater. Por que o Sr. ainda se recusa a admitir que Israel está enfrentando o mesmo inimigo – o radicalismo islâmico? (Mladen Andrijasevic – Be’er Sheva, Israel) Y.B: Deve-se ter muito cuidadoso para não transformar nosso conflito com os palestinos num conflito cultural ou religioso porque, se isto acontecer, teremos que desistir de uma solução, e se desistirmos de uma solução, estaremos desistindo da nossa existência. Y.B: O antissemitismo é um fenômeno preocupante em todo o mundo. Seria difícil, ou mesmo impossível, eliminá-lo. Mas é o papel do Estado Judeu fazer qualquer coisa possível para não despertar esta besta às vezes adormecida e assegurar que os atos de Israel não estejam aumentando as perspectivas de antissemitismo. Eu acredito que o atual governo não está levando isto em conta. Israel, por exemplo, deve ser muito cuidadoso quando decide assassinar um líder inimigo e sua família, sabendo que alguém como ele pode provocar um atentado terrorista em comunidades judaicas, como o que aconteceu no edifício da AMIA em Buenos Aires, em 1994.
Gostaria de ouvir sua opinião sobre o Sr. Arafat. O Sr. concorda com a tese bem difundida de que, até que ele saia do cenário, nada pode acontecer? (Asi- Londres, G.B.) Apesar do fato de os temas social e econômico se terem tornado centrais na política israelense, parece que as suas próprias posições sobre esses assuntos não são totalmente claras. Com relação a isso, com qual partido europeu ou americano o Sr. mais se identifica? (Amir- Oxford, G.B.) Y.B: Não creio que muitos outros líderes israelenses tenham se preocupado em escrever livros sobre suas posições sociais e econômicas. Posso remetê0lo ao meu livro que foi publicado em 1999, chamado “Do Socialismo ao Social-Liberalismo“. Eu me vejo como parte da internacional socialista, e me identifico com as políticas dos partidos social-democratas na Europa, como o sueco e muitos outros. Demograficamente, dada a taxa de nascimento dos árabes israelenses muito maior que a dos cidadãos judeus, eles poderiam se tornar maioria em Israel, com a correspondente representação no Parlamento. Como o Sr. vê o futuro e a existência de Israel como estado judeu, e qual é sua sugestão para evitar que isso aconteça? (Gabi- Tel Aviv, Israel) O Sr. acha que o Irã é uma ameaça existencial a Israel? As ameaças israelenses de atacar o Irã tornam Israel mais seguro? (Marsha Cohen- Miami, E.U.) Parece que quanto maior o sucesso do movimento dos colonos, mais a solução de um único Estado se torna mais viável a longo-prazo. Que passos devem ser dados para assegurar que uma solução de Dois Estados reemerja como alternativa preferida pelos dois lados? (Albert A. Gregorio- Rochester, N.York , E.U.) Meu entendimento é que o Yahad se opõe ao direito de retorno palestino, mas também se opõe às emendas às leis de imigração que cancelam a possibilidade de palestinos se tornarem israelenses através do casamento, conhecido como o “crawling right of return”. Como o Sr. explicaria esta discrepância? ( Yoav Dotan- Detroit , E.U.) Os judeus têm algum direito de viver em Hebron se os palestinos não os desejam lá? (Larry Brown- Chicago, E.U.) Por que não existe um PAZ AGORA palestino? (Chaim Landau- Givat Shmuel, Israel) Y.B: Só é preciso acompanhar os acontecimentos no lado palestino, os anúncios que foram publicados no mês passado contra a violência e contra atitudes de vingança, o trabalho que está sendo feito com o objetivo de apoiar a Iniciativa de Genebra, as assinaturas que foram coletadas em apoio à Iniciativa Ami Ayalon-Sari Nusseibeh, para entender que esta questão já pertence a uma época passada. O que pensa o Sr. da entrada do Partido Trabalhista num governo de união nacional com o Likud? (Leelee- Paris, França) Y.B: O Partido Trabalhista [Avodá] está cometendo um grave erro ao tentar voltar ao governo Sharon. A experiência de 2001 a 2002 foi traumática para os interesses nacionais de Israel e para o próprio partido. Se o Avodá quer apoiar a retirada unilateral de Gaza, pode fazê-lo dando ao Likud uma rede [parlamentar] de proteção, ao invés de obter pastas ministeriais e compartilhar a responsabilidade coletiva por políticas a nível econômico, social e religioso que são contrárias à sua própria ideologia. O Sr. acredita que a esquerda israelense, e o Yahad em particular, são percebidos pela maioria dos israelenses como representantes da classe média alta, alienados da massa de israelenses que sofrem a insegurança econômica? Se for assim, o Sr. tem algum plano para superar esta percepção? (Noam Knoller- Amsterdam, Holanda) Os judeus europeus estão hoje numa situação difícil. Enquanto tentam convencer suas comunidades a apoiar posições de esquerda e pacifistas, tornam-se menos e menos claros sobre temas como a cerca e os refuseniks. O Sr. teria alguma orientação para eles? ( Stephane N. Ginsburgh- Bruxelas, Bélgica) O Sr. enxerga um novo mapa político sendo formado, com o Likud e o Avodá rechando para fomar novas alianças direita-esquerda – direitistas do Likud unindo´se à União Nacional , deputados esquerdistas do Avodá juntando-se ao Yahad, e uma terceira força de centro ? (Eliezer Ben-Moshe – Jerusalém, Israel) Y.B: Não acredito na teoria do Big Bang. Acho que em qualquer sistema político normal se tem uma esquerda e uma direita e as vamos ter sempre em Israel. A esquerda é o movimento que nunca está contente com a realidade, a qual sempre deseja melhorar. A direita é movimento que justifica a situação presente. Deve haver um acordo entre direita e esquerda em temas específicos, o que ocorre em qualquer sociedade. Mas não se deve tirar nenhuma conclusão disso, acreditando que seja um denominador comum amplo o suficiente para permitir uma unificação entre as duas. Muçulmanos e judeus já viveram em relativa paz, por exemplo, na Espanha, onde o grande Maimônides viveu e trabalhou. Mas hoje, graças ao legado da guerra e do terrorismo as relações muçulmano-judaicas são muito pobres. Como um corajoso pacifista israelense, o que o Sr. pensa que pode ser feito para melhorar as relações entre muçulmanos e judeus? (Ali Adams – Istambul, Turquia) Y.B: Não tenho a panacéia e não posso ignorar o ódio e a desconfiança que se desenvolveu na última geração entre muçulmanos e judeus. Mas acredito que iremos achar uma solução para o conflito israelense-palestino e se passarmos a soberania sobre o Monte do Tempo (Haram al-Sharif) aos palestinos, isso deve abrir um novo capítulo nos relacionamentos entre os dois povos e as duas religiões. A imagem pública de Israel jamais foi tão má – com ou sem razão. O que deve Israel fazer para melhorá-la, especialmente no mundo árabe? (Ehud Kauffman – Haifa, Israel) O que o Sr. pensa que acontecerá aos moradores árabes de Jerusalém Oriental, e em particular aos que vivem próximos aos muros da Cidade Velha? Tornar-se-ão cidadãos israelenses? Muitos desses moradores são apátridas, sendo considerados meros residentes permanentes, mesmo que tenham vivido todas as suas vidas sob jurisdição do governo israelense. (David Steinberg – Londres, G.B.) Como os árabes palestinos jamais tiveram um país do qual Israel tenha tomado terras, e Jerusalém jamais foi a capital de qualquer país árabe, mesmo quando esteve sob as ocupações jordaniana e otomana, por que o Sr. ofereceria a soberania do mais sagrado local judeu, o Monte do Templo, e dividiria a capital de Israel com árabes palestinos, especialmente quando Israel permite as orações muçulmanas no Monte do Templo, enquanto a Jordânia transformou o Muro das Lamentações num depósito de lixo durante sua ocupação? (Marlene Young – Baltimore, E.U.) Por que não podem israelenses e palestinos viverem juntos num Estado unificado e secular? Isto evitaria tanta violência e seria um golpe nos fundamentalistas muçulmanos e judeus. Acima de tudo, isso eliminaria a alternativa – um Estado de apartheid na medida em que a população palestina deve superar a judaica nos próximos 20 anos, e significaria não serem necessários longos e complexos tratados sobre divisões, direito de retorno, fronteiras e Jerusalém, que uma solução de Dois Estados envolveria.(James Hurst – Londres, G.B.) Y.B: A idéia sionista era sobre um Estado judeu. Se renunciarmos a essa idéia, não haverá vantagem em viver nesta terra, para muitos de nós. Existem muitos países mais agradáveis do que Israel nos quais poderíamos ser uma minoria como judeus. A idéia tpda é ter ao mesmo tempo uma maioria judaica e democracia, o que significa direitos iguais para todos os cidadãos judeus e não-judeus do país. A realização, por palestinos e por israelenses ,da aspiração por autodeterminação, é uma causa nobre, em minha opinião, e eu não a trocaria pela idéia de um país democrático secular no qual os dois povos continuariam seu conflito em torno de cultura, símbolos ou identidades nacionais. Como pode o processo de Oslo – durante o qual houve massivos confiscos de terras, a criação de checkpoints, a duplicação da população de colonos e “legalização” da ocupação israelense através de leis – servir de modelo para paz? Não deveria a esquerda israelense, que controlava o governo nos anos de Oslo assumir a responsabilidade pelo fracasso do processo de paz? (Connie Hackbarth – Jerusalém, Israel) As duas partes do acordo violaram sua implementação, e de certa maneira pode-se dizer que esse processo foi assassinado em 04|11|1995 [dia do assassinato de Yitzhak Rabin]. O que temos de fazer, agora mesmo, é chegar a uma solução definitiva o quanto antes, baseados nas mesmas idéias de Dois Estados, ao longo das fronteiras de 1967 com pequenos ajustes, duas capitais em Jerusalém, compensação para os refugiados palestinos e arranjos de segurança para ambas as partes. O Sr. acha que os grupos terroristas irão derrubar o governo de Yasser Arafat ? (Ben – Chicago. E.U.) Y.B: A desordem nos territórios palestinos pode levar a vários resultados. Não há dúvida de que o interesse nacional de Israel está na estabilidade do lado palestino, e espero que a decisão do primeiro-ministro Abu Ala [Ahmed Qurei] de retirar sua renúncia irá contribuir para a estabilidade do lado palestino. Como o Sr. explica o simples fato de que nos últimos 10 anos, desde o início do processo de paz israelense-palestino, o número de baixas israelenses é muito maior do que nos 30 anos anteriores? Não seria esta a verdadeira razão de os israelenses estarem céticos sobre o assim chamado “Processo de Paz”? (Yosi I – Tel Aviv, Israel) Como o campo da paz, incluído o Partido Trabalhista, está tentando voltar ao poder em Israel? O que o Sr. pessoalmente pensa que John Kerry, caso eleito, pode fazer? (Talal Altatar – Houston, E.U.) Y.B: Não temos nenhuma teoria mágica sobre como vencer as próximas eleições, mas sabemos que precisamos trabalhar muito. Estamos dedicando nosso tempo a encontrar pessoas, o máximo que possamos, para partilhar com elas nossas visões sobre paz e justiça social, e acredito que apenas através de tais encontros, aumentaremos nosso poder. Conheço John Kerry, o aprecio e acredito que de forma geral, ele está expressando os pontos de vista da ala moderada e pragmática dos E.U. e outros lugares. O que pensa do plano de Ami Ayalon e Sari Nusseibeh? O que o Sr. diz do comentário de Ayalon, que diz que a esquerda israelensa se distanciou muito da sociedade israelense? O seu partido teria a resposta certa para esta alienação? (Eyal – Boston, E.U.) O Sr. acredita que um fórum internacional com influência americana teria chance maior (que a Cúpula de Camp David em 2000) como fórum para negociações abrangentes ? (Gilad – Los Angeles, E.U.) O Sr. acha a política de imigração de Israel correta? Como um não-judeu, desejoso de viver em Israel, fiquei surpreso em saber que as políticas de imigração mudam conforme o peso dos ultra-ortodoxos no governo. O Sr. realmente acha que aceitar apenas judeus convertidos pelo rito ortodoxo é correto? (Jordi Gomis – Barcelona, Espanha) Y.B: Como Estado judeu e democrático, Israel deve estar aberto a qualquer judeu que deseje viver aqui, mas isto não significa que devemos ter portões fechados para todos os outros. Penso que as recentes mudanças feitas na política de imigração de Israel estão erradas. Desde setembro de 2000, tenho ouvido várias vezes o Sr. condenando as ações do exército israelense (assassinatos seletivos, bloqueios de estradas) por não existir solução militar para o terror. É possível que todas essas ações que o Sr. desaprovou tenham salvado centenas de vidas até agora? É possível haver uma solução militar? (Iris F – Tel Aviv, Israel) Y.B: Qualquer solução desse tipo é uma solução temporária e deve provocar violências ainda maiores no outro lado. Apenas um acordo com nossos parceiros do lado palestino nos permitirá que vivamos uma situação diferente, que acredito será muito mais tranqüila. O Sr. não se preocupa que o Acordo de Genebra se torne a base para novas negociações? Ahmed Qurei já iniciou o que acha ser um bom “ponto de partida” para um acordo. Parece que Genebra contém todas as concessões pelo lado israelense, mas concessões muito vagas do lado palestino. Não foi esta a história de Oslo? (David – Sydney, Austrália) Y.B: Como o mesmo tipo de crítica é ouvido pelos nossos parceiros palestinos em seu lado, acredito que é justo dizer que a Iniciativa de Genebra é um tratado justo. Se ela é percebida como um ponto de partida para Israel, e também para os palestinos, é porque ambos os lados manifestaram sua disposição para assiná-las e este é o grande avanço de Genebra. Por quanto tempo os campos da paz ficarão como reféns dos extremistas nos dois lados? Se o Sr. acredita que a maioria em Israel apóia a solução de Dois Estados, o que realmente tem que acontecer para que o campo da paz israelense se reenergize e obtenha o suporte de uma maioria sólida? (Fawad Razzaque – Saint Louis, E.U.) A Comissão de 11|9 concluiu seu relatório nomeando o terror islâmico como o o inimigo que os E.U. devem combater. Por que o Sr. ainda se recusa a admitir que Israel está enfrentando o mesmo inimigo – o radicalismo islâmico? (Mladen Andrijasevic – Be’er Sheva, Israel) Y.B: Deve-se ter muito cuidadoso para não transformar nosso conflito com os palestinos num conflito cultural ou religioso porque, se isto acontecer, teremos que desistir de uma solução, e se desistirmos de uma solução, estaremos desistindo da nossa existência.
Seguem trechos publicados na versão on-line do Haaretz, onde um dos principais líderes pacifistas de Israel responde a perguntas de israelenses, australianos, palestinos, egípcios, turcos… Parece-me que o desligamento de Gaza, ainda que não sendo a melhor solução, é a única possível de ser realizada nas atuais circunstâncias. O Sr. apóia o desligamento de Gaza? (Dov Yafit- Ramat-Hasharon, Israel) Yossi Beilin: Eu concordo com a sua opinião de que uma retirada unilateral de Gaza está longe da visão do Campo da Paz de um acordo definitivo de paz, em linha com o Acordo de Genebra. É muito claro que Sharon está lançando a trilha de uma retirada unilateral para evitar um acordo. Ainda assim, como você sugere em sua questão, não se pode ignorar que neste exato momento este é o principal jogo que está rolando. Mais ainda, o fato de que Sharon, pai do movimento de assentamentos, irá desmantelar assentamentos é importante. Portanto, o Campo da Paz, e o Partido Yahad em particular, apoiará o plano quando for proposto no Knesset, e fará seu máximo para usar o momentum da retirada para renovar o processo de paz. O Sr. acha que Sharon e seu governo irão se retirar de Gaza e da Cisjordânia, de forma que os palestinos possam construir um Estado, ou irá o plano de retirada apenas transformar Gaza numa grande prisão para os palestinos? (Kosay- Cairo, Egito) YB: Ouvindo Sharon e conhecendo sua escola de pensamento, suspeito que ele está conduzindo o plano de retirada unilateral com vistas a evitar que a visão de Genebra se transforme em realidade. E para promover o seu antigo plano de Bantustões para a Cisjordânia e Gaza. No entanto, acredito que tais processos têm suas vidas próprias, e depende dos campos da paz – tanto do israelense quanto dos árabes – juntamente com o mundo, fazer que este plano seja um “Primeiro Gaza” em vez de “Final em Gaza”. A maioria dos palestinos apenas enxerga uma usurpação israelense de terras no Muro da Cisjordânia, incessante atividade de assentamentos, e presença militar agressiva do exército israelense. Assim, para os palestinos, a solução de Dois Estados parece inviável. O Sr. poderia dizer algo para atenuar esta percepção palestina? (Ghassan Abdullah -Ramalah, Palestina). YB: Acho que nos meados dos ’90, israelenses e palestinos experienciaram um lampejo da atmosfera que um acordo de paz entre os dois povos poderia criar. Lamentavelmente, o ciclo de violência que começou em setembro de 2000 minou severamente a confiança entre os dois povos. Entretanto, posso dizer aos palestinos e israelenses que eles não devem perder a esperança. Não existe uma alternativa real à solução de Dois Estados, que traga paz e estabilidade à nossa região. Os dois lados não devem desistir de seus parceiros pela paz, mas ao contrário, devem reforçá-los. O Sr.se acha pessoalmente responsável pelos milhares de mortos e feridos israelenses que foram vítimas de sua fracassada política de Oslo? (Paul Herdan- Los Angeles, E.U.) Em vista da caótica situação nas ruas palestinas, como o Sr. proporia iniciar negociações para um acordo de paz entre Israel e os palestinos, e com quem? (Shimon Z. Klein -Bat Hefer, Israel) Conforme muitos observadores, é impossível concluir um tratado de paz estável israelense-palestino com Arafat. Por essa razão os governos israelense e americano o isolaram física e diplomaticamente. Qual seu ponto de vista sobre isto? O Sr. também o riscou de sua agenda? (Alfred Pijpers- Haia, Holanda) Dada a sua experiência em Camp David e Taba, o que é necessário do lado palestino para que o processo de paz avance. E se estes passos necessários se materializarem, como poderia a população de Israel ser convencida de que é possível um progresso? (Steve Sass- Marblehead, E.U.) YB: Antes de 12|10|/2003, minha resposta a esta questão seria uma hipótese. Mas agora, após chegar ao Acordo de Genebra naquela data, sei que tanto israelenses quanto palestinos proeminentes podem chegar a um acordo. Mesmo este acordo não sendo oficial, ele consegue um apoio estável de 40% em ambos os lados. Acredito fortemente que se tal acordo for apresentado por lideranças oficiais, ganhará uma vasta maioria. Com relação à Síria, não ouvimos nada sobre alguma negociação. Parece que todo diálogo foi congelado. Pergunto-me sobre o status das negociações das Colinas de Golan. Israel está preparado para devolver as colinas na sua totalidade? (Sossi Yepremian – Los Angeles, E.U.) O que o faz pensar que tem o direito de negociar com palestinos ou qualquer outro, se o Sr. não é um representante eleito pelo povo israelense? Em qualquer outro país, o Sr. enfrentaria acusações de traição. (George Erdos – Toronto, Canadá). YB: Tenho orgulho da democracia israelense, que permite tal comportamento. Como o Sr. provavelmente sabe, nunca tivemos a pretensão de assinar um acordo, mas sim uma carta à Ministra do Exterior da Suiça, com um modelo de acordo em anexo. Por que existem diferenças tão significativas entre o que o Acordo de Genebra diz em inglês, em hebraico, e o que diz em árabe, particularmente com respeito ao “Direito de Retorno?” (Shari Reich – Lakeland, FL, E.U.) O muro de separação se provou um meio eficaz para conter atentados terroristas. Dada a presente situação, o Sr. vê uma real alternativa a completar o muro? (Eran – Bonn, Alemanha) YB: O muro de separação é, por sua natureza uma solução de curto-prazo. Ele não defenderá Israel por si. E seu traçado só pode ser o das fronteiras de 1967. O que explica a posição da Europa, visivelmente contra Israel? (Neil Solomons- Londres, G.B.) Quanto da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém o Sr. está disposto a ceder como parte de um acordo definitivo? (Michael Rogers- Colorado , E.U.) O Sr. detecta sinais de uma decadência ideológica em Israel? Parece que o sionismo, como ideologia pioneira, já se acabou e agora precisa ser redefinido para sobreviver. Qual sua opinião? (Efraim- Jerusalém, Israel). O Sr. acha que a liderança palestina irá, ao final, concordar em renunciar ao direito de retorno de refugiados palestinos como parte de um tratado final de paz? (Susan Jenkins- Wellington, Nova Zelândia). Y.B: Os palestinos entendem que a insistência no direito de retorno irá impedir um acordo com qualquer governo israelense no futuro. E eu acredito que está provado na Iniciativa de Genebra que se pode chegar a um acordo com eles sobre uma solução definitiva sem qualquer referência ao direito de retorno. Quão bem sucedido e eficiente seria um Estado Palestino administrado nas duas regiões separadas de Gaza e Cisjordânia? (Harry Schnapp- Sydney Austrália). O que os fez oferecer a renúncia ao Portão de Jaffa e Efrat no Acordo de Genebra? (Murray- Thornhill, Canadá). O quão preocupante é o crescimento do antissemitismo na Europa? Como o Sr. acha que Israel deveria agir em relação a isso? (Ido Lotan- New York, E.U.). Y.B: O antissemitismo é um fenômeno preocupante em todo o mundo. Seria difícil, ou mesmo impossível, eliminá-lo. Mas é o papel do Estado Judeu fazer qualquer coisa possível para não despertar esta besta às vezes adormecida e assegurar que os atos de Israel não estejam aumentando as perspectivas de antissemitismo. Eu acredito que o atual governo não está levando isto em conta. Israel, por exemplo, deve ser muito cuidadoso quando decide assassinar um líder inimigo e sua família, sabendo que alguém como ele pode provocar um atentado terrorista em comunidades judaicas, como o que aconteceu no edifício da AMIA em Buenos Aires, em 1994. Y.B: O antissemitismo é um fenômeno preocupante em todo o mundo. Seria difícil, ou mesmo impossível, eliminá-lo. Mas é o papel do Estado Judeu fazer qualquer coisa possível para não despertar esta besta às vezes adormecida e assegurar que os atos de Israel não estejam aumentando as perspectivas de antissemitismo. Eu acredito que o atual governo não está levando isto em conta. Israel, por exemplo, deve ser muito cuidadoso quando decide assassinar um líder inimigo e sua família, sabendo que alguém como ele pode provocar um atentado terrorista em comunidades judaicas, como o que aconteceu no edifício da AMIA em Buenos Aires, em 1994.
Gostaria de ouvir sua opinião sobre o Sr. Arafat. O Sr. concorda com a tese bem difundida de que, até que ele saia do cenário, nada pode acontecer? (Asi- Londres, G.B.) Apesar do fato de os temas social e econômico se terem tornado centrais na política israelense, parece que as suas próprias posições sobre esses assuntos não são totalmente claras. Com relação a isso, com qual partido europeu ou americano o Sr. mais se identifica? (Amir- Oxford, G.B.) Y.B: Não creio que muitos outros líderes israelenses tenham se preocupado em escrever livros sobre suas posições sociais e econômicas. Posso remetê0lo ao meu livro que foi publicado em 1999, chamado “Do Socialismo ao Social-Liberalismo“. Eu me vejo como parte da internacional socialista, e me identifico com as políticas dos partidos social-democratas na Europa, como o sueco e muitos outros. Demograficamente, dada a taxa de nascimento dos árabes israelenses muito maior que a dos cidadãos judeus, eles poderiam se tornar maioria em Israel, com a correspondente representação no Parlamento. Como o Sr. vê o futuro e a existência de Israel como estado judeu, e qual é sua sugestão para evitar que isso aconteça? (Gabi- Tel Aviv, Israel) O Sr. acha que o Irã é uma ameaça existencial a Israel? As ameaças israelenses de atacar o Irã tornam Israel mais seguro? (Marsha Cohen- Miami, E.U.) Parece que quanto maior o sucesso do movimento dos colonos, mais a solução de um único Estado se torna mais viável a longo-prazo. Que passos devem ser dados para assegurar que uma solução de Dois Estados reemerja como alternativa preferida pelos dois lados? (Albert A. Gregorio- Rochester, N.York , E.U.) Meu entendimento é que o Yahad se opõe ao direito de retorno palestino, mas também se opõe às emendas às leis de imigração que cancelam a possibilidade de palestinos se tornarem israelenses através do casamento, conhecido como o “crawling right of return”. Como o Sr. explicaria esta discrepância? ( Yoav Dotan- Detroit , E.U.) Os judeus têm algum direito de viver em Hebron se os palestinos não os desejam lá? (Larry Brown- Chicago, E.U.) Por que não existe um PAZ AGORA palestino? (Chaim Landau- Givat Shmuel, Israel) Y.B: Só é preciso acompanhar os acontecimentos no lado palestino, os anúncios que foram publicados no mês passado contra a violência e contra atitudes de vingança, o trabalho que está sendo feito com o objetivo de apoiar a Iniciativa de Genebra, as assinaturas que foram coletadas em apoio à Iniciativa Ami Ayalon-Sari Nusseibeh, para entender que esta questão já pertence a uma época passada. O que pensa o Sr. da entrada do Partido Trabalhista num governo de união nacional com o Likud? (Leelee- Paris, França) Y.B: O Partido Trabalhista [Avodá] está cometendo um grave erro ao tentar voltar ao governo Sharon. A experiência de 2001 a 2002 foi traumática para os interesses nacionais de Israel e para o próprio partido. Se o Avodá quer apoiar a retirada unilateral de Gaza, pode fazê-lo dando ao Likud uma rede [parlamentar] de proteção, ao invés de obter pastas ministeriais e compartilhar a responsabilidade coletiva por políticas a nível econômico, social e religioso que são contrárias à sua própria ideologia. O Sr. acredita que a esquerda israelense, e o Yahad em particular, são percebidos pela maioria dos israelenses como representantes da classe média alta, alienados da massa de israelenses que sofrem a insegurança econômica? Se for assim, o Sr. tem algum plano para superar esta percepção? (Noam Knoller- Amsterdam, Holanda) Os judeus europeus estão hoje numa situação difícil. Enquanto tentam convencer suas comunidades a apoiar posições de esquerda e pacifistas, tornam-se menos e menos claros sobre temas como a cerca e os refuseniks. O Sr. teria alguma orientação para eles? ( Stephane N. Ginsburgh- Bruxelas, Bélgica) O Sr. enxerga um novo mapa político sendo formado, com o Likud e o Avodá rechando para fomar novas alianças direita-esquerda – direitistas do Likud unindo´se à União Nacional , deputados esquerdistas do Avodá juntando-se ao Yahad, e uma terceira força de centro ? (Eliezer Ben-Moshe – Jerusalém, Israel) Y.B: Não acredito na teoria do Big Bang. Acho que em qualquer sistema político normal se tem uma esquerda e uma direita e as vamos ter sempre em Israel. A esquerda é o movimento que nunca está contente com a realidade, a qual sempre deseja melhorar. A direita é movimento que justifica a situação presente. Deve haver um acordo entre direita e esquerda em temas específicos, o que ocorre em qualquer sociedade. Mas não se deve tirar nenhuma conclusão disso, acreditando que seja um denominador comum amplo o suficiente para permitir uma unificação entre as duas. Muçulmanos e judeus já viveram em relativa paz, por exemplo, na Espanha, onde o grande Maimônides viveu e trabalhou. Mas hoje, graças ao legado da guerra e do terrorismo as relações muçulmano-judaicas são muito pobres. Como um corajoso pacifista israelense, o que o Sr. pensa que pode ser feito para melhorar as relações entre muçulmanos e judeus? (Ali Adams – Istambul, Turquia) Y.B: Não tenho a panacéia e não posso ignorar o ódio e a desconfiança que se desenvolveu na última geração entre muçulmanos e judeus. Mas acredito que iremos achar uma solução para o conflito israelense-palestino e se passarmos a soberania sobre o Monte do Tempo (Haram al-Sharif) aos palestinos, isso deve abrir um novo capítulo nos relacionamentos entre os dois povos e as duas religiões. A imagem pública de Israel jamais foi tão má – com ou sem razão. O que deve Israel fazer para melhorá-la, especialmente no mundo árabe? (Ehud Kauffman – Haifa, Israel) O que o Sr. pensa que acontecerá aos moradores árabes de Jerusalém Oriental, e em particular aos que vivem próximos aos muros da Cidade Velha? Tornar-se-ão cidadãos israelenses? Muitos desses moradores são apátridas, sendo considerados meros residentes permanentes, mesmo que tenham vivido todas as suas vidas sob jurisdição do governo israelense. (David Steinberg – Londres, G.B.) Como os árabes palestinos jamais tiveram um país do qual Israel tenha tomado terras, e Jerusalém jamais foi a capital de qualquer país árabe, mesmo quando esteve sob as ocupações jordaniana e otomana, por que o Sr. ofereceria a soberania do mais sagrado local judeu, o Monte do Templo, e dividiria a capital de Israel com árabes palestinos, especialmente quando Israel permite as orações muçulmanas no Monte do Templo, enquanto a Jordânia transformou o Muro das Lamentações num depósito de lixo durante sua ocupação? (Marlene Young – Baltimore, E.U.) Por que não podem israelenses e palestinos viverem juntos num Estado unificado e secular? Isto evitaria tanta violência e seria um golpe nos fundamentalistas muçulmanos e judeus. Acima de tudo, isso eliminaria a alternativa – um Estado de apartheid na medida em que a população palestina deve superar a judaica nos próximos 20 anos, e significaria não serem necessários longos e complexos tratados sobre divisões, direito de retorno, fronteiras e Jerusalém, que uma solução de Dois Estados envolveria.(James Hurst – Londres, G.B.) Y.B: A idéia sionista era sobre um Estado judeu. Se renunciarmos a essa idéia, não haverá vantagem em viver nesta terra, para muitos de nós. Existem muitos países mais agradáveis do que Israel nos quais poderíamos ser uma minoria como judeus. A idéia tpda é ter ao mesmo tempo uma maioria judaica e democracia, o que significa direitos iguais para todos os cidadãos judeus e não-judeus do país. A realização, por palestinos e por israelenses ,da aspiração por autodeterminação, é uma causa nobre, em minha opinião, e eu não a trocaria pela idéia de um país democrático secular no qual os dois povos continuariam seu conflito em torno de cultura, símbolos ou identidades nacionais. Como pode o processo de Oslo – durante o qual houve massivos confiscos de terras, a criação de checkpoints, a duplicação da população de colonos e “legalização” da ocupação israelense através de leis – servir de modelo para paz? Não deveria a esquerda israelense, que controlava o governo nos anos de Oslo assumir a responsabilidade pelo fracasso do processo de paz? (Connie Hackbarth – Jerusalém, Israel) As duas partes do acordo violaram sua implementação, e de certa maneira pode-se dizer que esse processo foi assassinado em 04|11|1995 [dia do assassinato de Yitzhak Rabin]. O que temos de fazer, agora mesmo, é chegar a uma solução definitiva o quanto antes, baseados nas mesmas idéias de Dois Estados, ao longo das fronteiras de 1967 com pequenos ajustes, duas capitais em Jerusalém, compensação para os refugiados palestinos e arranjos de segurança para ambas as partes. O Sr. acha que os grupos terroristas irão derrubar o governo de Yasser Arafat ? (Ben – Chicago. E.U.) Y.B: A desordem nos territórios palestinos pode levar a vários resultados. Não há dúvida de que o interesse nacional de Israel está na estabilidade do lado palestino, e espero que a decisão do primeiro-ministro Abu Ala [Ahmed Qurei] de retirar sua renúncia irá contribuir para a estabilidade do lado palestino. Como o Sr. explica o simples fato de que nos últimos 10 anos, desde o início do processo de paz israelense-palestino, o número de baixas israelenses é muito maior do que nos 30 anos anteriores? Não seria esta a verdadeira razão de os israelenses estarem céticos sobre o assim chamado “Processo de Paz”? (Yosi I – Tel Aviv, Israel) Como o campo da paz, incluído o Partido Trabalhista, está tentando voltar ao poder em Israel? O que o Sr. pessoalmente pensa que John Kerry, caso eleito, pode fazer? (Talal Altatar – Houston, E.U.) Y.B: Não temos nenhuma teoria mágica sobre como vencer as próximas eleições, mas sabemos que precisamos trabalhar muito. Estamos dedicando nosso tempo a encontrar pessoas, o máximo que possamos, para partilhar com elas nossas visões sobre paz e justiça social, e acredito que apenas através de tais encontros, aumentaremos nosso poder. Conheço John Kerry, o aprecio e acredito que de forma geral, ele está expressando os pontos de vista da ala moderada e pragmática dos E.U. e outros lugares. O que pensa do plano de Ami Ayalon e Sari Nusseibeh? O que o Sr. diz do comentário de Ayalon, que diz que a esquerda israelensa se distanciou muito da sociedade israelense? O seu partido teria a resposta certa para esta alienação? (Eyal – Boston, E.U.) O Sr. acredita que um fórum internacional com influência americana teria chance maior (que a Cúpula de Camp David em 2000) como fórum para negociações abrangentes ? (Gilad – Los Angeles, E.U.) O Sr. acha a política de imigração de Israel correta? Como um não-judeu, desejoso de viver em Israel, fiquei surpreso em saber que as políticas de imigração mudam conforme o peso dos ultra-ortodoxos no governo. O Sr. realmente acha que aceitar apenas judeus convertidos pelo rito ortodoxo é correto? (Jordi Gomis – Barcelona, Espanha) Y.B: Como Estado judeu e democrático, Israel deve estar aberto a qualquer judeu que deseje viver aqui, mas isto não significa que devemos ter portões fechados para todos os outros. Penso que as recentes mudanças feitas na política de imigração de Israel estão erradas. Desde setembro de 2000, tenho ouvido várias vezes o Sr. condenando as ações do exército israelense (assassinatos seletivos, bloqueios de estradas) por não existir solução militar para o terror. É possível que todas essas ações que o Sr. desaprovou tenham salvado centenas de vidas até agora? É possível haver uma solução militar? (Iris F – Tel Aviv, Israel) Y.B: Qualquer solução desse tipo é uma solução temporária e deve provocar violências ainda maiores no outro lado. Apenas um acordo com nossos parceiros do lado palestino nos permitirá que vivamos uma situação diferente, que acredito será muito mais tranqüila. O Sr. não se preocupa que o Acordo de Genebra se torne a base para novas negociações? Ahmed Qurei já iniciou o que acha ser um bom “ponto de partida” para um acordo. Parece que Genebra contém todas as concessões pelo lado israelense, mas concessões muito vagas do lado palestino. Não foi esta a história de Oslo? (David – Sydney, Austrália) Y.B: Como o mesmo tipo de crítica é ouvido pelos nossos parceiros palestinos em seu lado, acredito que é justo dizer que a Iniciativa de Genebra é um tratado justo. Se ela é percebida como um ponto de partida para Israel, e também para os palestinos, é porque ambos os lados manifestaram sua disposição para assiná-las e este é o grande avanço de Genebra. Por quanto tempo os campos da paz ficarão como reféns dos extremistas nos dois lados? Se o Sr. acredita que a maioria em Israel apóia a solução de Dois Estados, o que realmente tem que acontecer para que o campo da paz israelense se reenergize e obtenha o suporte de uma maioria sólida? (Fawad Razzaque – Saint Louis, E.U.) A Comissão de 11|9 concluiu seu relatório nomeando o terror islâmico como o o inimigo que os E.U. devem combater. Por que o Sr. ainda se recusa a admitir que Israel está enfrentando o mesmo inimigo – o radicalismo islâmico? (Mladen Andrijasevic – Be’er Sheva, Israel) Y.B: Deve-se ter muito cuidadoso para não transformar nosso conflito com os palestinos num conflito cultural ou religioso porque, se isto acontecer, teremos que desistir de uma solução, e se desistirmos de uma solução, estaremos desistindo da nossa existência. Gostaria de ouvir sua opinião sobre o Sr. Arafat. O Sr. concorda com a tese bem difundida de que, até que ele saia do cenário, nada pode acontecer? (Asi- Londres, G.B.) Apesar do fato de os temas social e econômico se terem tornado centrais na política israelense, parece que as suas próprias posições sobre esses assuntos não são totalmente claras. Com relação a isso, com qual partido europeu ou americano o Sr. mais se identifica? (Amir- Oxford, G.B.) Y.B: Não creio que muitos outros líderes israelenses tenham se preocupado em escrever livros sobre suas posições sociais e econômicas. Posso remetê0lo ao meu livro que foi publicado em 1999, chamado “Do Socialismo ao Social-Liberalismo“. Eu me vejo como parte da internacional socialista, e me identifico com as políticas dos partidos social-democratas na Europa, como o sueco e muitos outros. Demograficamente, dada a taxa de nascimento dos árabes israelenses muito maior que a dos cidadãos judeus, eles poderiam se tornar maioria em Israel, com a correspondente representação no Parlamento. Como o Sr. vê o futuro e a existência de Israel como estado judeu, e qual é sua sugestão para evitar que isso aconteça? (Gabi- Tel Aviv, Israel) O Sr. acha que o Irã é uma ameaça existencial a Israel? As ameaças israelenses de atacar o Irã tornam Israel mais seguro? (Marsha Cohen- Miami, E.U.) Parece que quanto maior o sucesso do movimento dos colonos, mais a solução de um único Estado se torna mais viável a longo-prazo. Que passos devem ser dados para assegurar que uma solução de Dois Estados reemerja como alternativa preferida pelos dois lados? (Albert A. Gregorio- Rochester, N.York , E.U.) Meu entendimento é que o Yahad se opõe ao direito de retorno palestino, mas também se opõe às emendas às leis de imigração que cancelam a possibilidade de palestinos se tornarem israelenses através do casamento, conhecido como o “crawling right of return”. Como o Sr. explicaria esta discrepância? ( Yoav Dotan- Detroit , E.U.) Os judeus têm algum direito de viver em Hebron se os palestinos não os desejam lá? (Larry Brown- Chicago, E.U.) Por que não existe um PAZ AGORA palestino? (Chaim Landau- Givat Shmuel, Israel) Y.B: Só é preciso acompanhar os acontecimentos no lado palestino, os anúncios que foram publicados no mês passado contra a violência e contra atitudes de vingança, o trabalho que está sendo feito com o objetivo de apoiar a Iniciativa de Genebra, as assinaturas que foram coletadas em apoio à Iniciativa Ami Ayalon-Sari Nusseibeh, para entender que esta questão já pertence a uma época passada. O que pensa o Sr. da entrada do Partido Trabalhista num governo de união nacional com o Likud? (Leelee- Paris, França) Y.B: O Partido Trabalhista [Avodá] está cometendo um grave erro ao tentar voltar ao governo Sharon. A experiência de 2001 a 2002 foi traumática para os interesses nacionais de Israel e para o próprio partido. Se o Avodá quer apoiar a retirada unilateral de Gaza, pode fazê-lo dando ao Likud uma rede [parlamentar] de proteção, ao invés de obter pastas ministeriais e compartilhar a responsabilidade coletiva por políticas a nível econômico, social e religioso que são contrárias à sua própria ideologia. O Sr. acredita que a esquerda israelense, e o Yahad em particular, são percebidos pela maioria dos israelenses como representantes da classe média alta, alienados da massa de israelenses que sofrem a insegurança econômica? Se for assim, o Sr. tem algum plano para superar esta percepção? (Noam Knoller- Amsterdam, Holanda) Os judeus europeus estão hoje numa situação difícil. Enquanto tentam convencer suas comunidades a apoiar posições de esquerda e pacifistas, tornam-se menos e menos claros sobre temas como a cerca e os refuseniks. O Sr. teria alguma orientação para eles? ( Stephane N. Ginsburgh- Bruxelas, Bélgica) O Sr. enxerga um novo mapa político sendo formado, com o Likud e o Avodá rechando para fomar novas alianças direita-esquerda – direitistas do Likud unindo´se à União Nacional , deputados esquerdistas do Avodá juntando-se ao Yahad, e uma terceira força de centro ? (Eliezer Ben-Moshe – Jerusalém, Israel) Y.B: Não acredito na teoria do Big Bang. Acho que em qualquer sistema político normal se tem uma esquerda e uma direita e as vamos ter sempre em Israel. A esquerda é o movimento que nunca está contente com a realidade, a qual sempre deseja melhorar. A direita é movimento que justifica a situação presente. Deve haver um acordo entre direita e esquerda em temas específicos, o que ocorre em qualquer sociedade. Mas não se deve tirar nenhuma conclusão disso, acreditando que seja um denominador comum amplo o suficiente para permitir uma unificação entre as duas. Muçulmanos e judeus já viveram em relativa paz, por exemplo, na Espanha, onde o grande Maimônides viveu e trabalhou. Mas hoje, graças ao legado da guerra e do terrorismo as relações muçulmano-judaicas são muito pobres. Como um corajoso pacifista israelense, o que o Sr. pensa que pode ser feito para melhorar as relações entre muçulmanos e judeus? (Ali Adams – Istambul, Turquia) Y.B: Não tenho a panacéia e não posso ignorar o ódio e a desconfiança que se desenvolveu na última geração entre muçulmanos e judeus. Mas acredito que iremos achar uma solução para o conflito israelense-palestino e se passarmos a soberania sobre o Monte do Tempo (Haram al-Sharif) aos palestinos, isso deve abrir um novo capítulo nos relacionamentos entre os dois povos e as duas religiões. A imagem pública de Israel jamais foi tão má – com ou sem razão. O que deve Israel fazer para melhorá-la, especialmente no mundo árabe? (Ehud Kauffman – Haifa, Israel) O que o Sr. pensa que acontecerá aos moradores árabes de Jerusalém Oriental, e em particular aos que vivem próximos aos muros da Cidade Velha? Tornar-se-ão cidadãos israelenses? Muitos desses moradores são apátridas, sendo considerados meros residentes permanentes, mesmo que tenham vivido todas as suas vidas sob jurisdição do governo israelense. (David Steinberg – Londres, G.B.) Como os árabes palestinos jamais tiveram um país do qual Israel tenha tomado terras, e Jerusalém jamais foi a capital de qualquer país árabe, mesmo quando esteve sob as ocupações jordaniana e otomana, por que o Sr. ofereceria a soberania do mais sagrado local judeu, o Monte do Templo, e dividiria a capital de Israel com árabes palestinos, especialmente quando Israel permite as orações muçulmanas no Monte do Templo, enquanto a Jordânia transformou o Muro das Lamentações num depósito de lixo durante sua ocupação? (Marlene Young – Baltimore, E.U.) Por que não podem israelenses e palestinos viverem juntos num Estado unificado e secular? Isto evitaria tanta violência e seria um golpe nos fundamentalistas muçulmanos e judeus. Acima de tudo, isso eliminaria a alternativa – um Estado de apartheid na medida em que a população palestina deve superar a judaica nos próximos 20 anos, e significaria não serem necessários longos e complexos tratados sobre divisões, direito de retorno, fronteiras e Jerusalém, que uma solução de Dois Estados envolveria.(James Hurst – Londres, G.B.) Y.B: A idéia sionista era sobre um Estado judeu. Se renunciarmos a essa idéia, não haverá vantagem em viver nesta terra, para muitos de nós. Existem muitos países mais agradáveis do que Israel nos quais poderíamos ser uma minoria como judeus. A idéia tpda é ter ao mesmo tempo uma maioria judaica e democracia, o que significa direitos iguais para todos os cidadãos judeus e não-judeus do país. A realização, por palestinos e por israelenses, da aspiração por autodeterminação, é uma causa nobre, em minha opinião, e eu não a trocaria pela idéia de um país democrático secular no qual os dois povos continuariam seu conflito em torno de cultura, símbolos ou identidades nacionais. Como pode o processo de Oslo – durante o qual houve massivos confiscos de terras, a criação de checkpoints, a duplicação da população de colonos e “legalização” da ocupação israelense através de leis – servir de modelo para paz? Não deveria a esquerda israelense, que controlava o governo nos anos de Oslo assumir a responsabilidade pelo fracasso do processo de paz? (Connie Hackbarth – Jerusalém, Israel) As duas partes do acordo violaram sua implementação, e de certa maneira pode-se dizer que esse processo foi assassinado em 04|11|1995 [dia do assassinato de Yitzhak Rabin]. O que temos de fazer, agora mesmo, é chegar a uma solução definitiva o quanto antes, baseados nas mesmas idéias de Dois Estados, ao longo das fronteiras de 1967 com pequenos ajustes, duas capitais em Jerusalém, compensação para os refugiados palestinos e arranjos de segurança para ambas as partes. O Sr. acha que os grupos terroristas irão derrubar o governo de Yasser Arafat ? (Ben – Chicago. E.U.) Y.B: A desordem nos territórios palestinos pode levar a vários resultados. Não há dúvida de que o interesse nacional de Israel está na estabilidade do lado palestino, e espero que a decisão do primeiro-ministro Abu Ala [Ahmed Qurei] de retirar sua renúncia irá contribuir para a estabilidade do lado palestino. Como o Sr. explica o simples fato de que nos últimos 10 anos, desde o início do processo de paz israelense-palestino, o número de baixas israelenses é muito maior do que nos 30 anos anteriores? Não seria esta a verdadeira razão de os israelenses estarem céticos sobre o assim chamado “Processo de Paz”? (Yosi I – Tel Aviv, Israel) Como o campo da paz, incluído o Partido Trabalhista, está tentando voltar ao poder em Israel? O que o Sr. pessoalmente pensa que John Kerry, caso eleito, pode fazer? (Talal Altatar – Houston, E.U.) Y.B: Não temos nenhuma teoria mágica sobre como vencer as próximas eleições, mas sabemos que precisamos trabalhar muito. Estamos dedicando nosso tempo a encontrar pessoas, o máximo que possamos, para partilhar com elas nossas visões sobre paz e justiça social, e acredito que apenas através de tais encontros, aumentaremos nosso poder. Conheço John Kerry, o aprecio e acredito que de forma geral, ele está expressando os pontos de vista da ala moderada e pragmática dos E.U. e outros lugares. O que pensa do plano de Ami Ayalon e Sari Nusseibeh? O que o Sr. diz do comentário de Ayalon, que diz que a esquerda israelensa se distanciou muito da sociedade israelense? O seu partido teria a resposta certa para esta alienação? (Eyal – Boston, E.U.) O Sr. acredita que um fórum internacional com influência americana teria chance maior (que a Cúpula de Camp David em 2000) como fórum para negociações abrangentes ? (Gilad – Los Angeles, E.U.) Y.B: Não excluo esta possibilidade, mas não acredito que isto tornará a solução mais fácil para israelenses e palestinos. No final, terá de ser uma decisão dos dois lados, que tornará possível se ter paz em nossa parte do mundo. O Sr. acha a política de imigração de Israel correta? Como um não-judeu, desejoso de viver em Israel, fiquei surpreso em saber que as políticas de imigração mudam conforme o peso dos ultra-ortodoxos no governo. O Sr. realmente acha que aceitar apenas judeus convertidos pelo rito ortodoxo é correto? (Jordi Gomis – Barcelona, Espanha) Y.B: Como Estado judeu e democrático, Israel deve estar aberto a qualquer judeu que deseje viver aqui, mas isto não significa que devemos ter portões fechados para todos os outros. Penso que as recentes mudanças feitas na política de imigração de Israel estão erradas. Desde setembro de 2000, tenho ouvido várias vezes o Sr. condenando as ações do exército israelense (assassinatos seletivos, bloqueios de estradas) por não existir solução militar para o terror. É possível que todas essas ações que o Sr. desaprovou tenham salvado centenas de vidas até agora? É possível haver uma solução militar? (Iris F – Tel Aviv, Israel) Y.B: Qualquer solução desse tipo é uma solução temporária e deve provocar violências ainda maiores no outro lado. Apenas um acordo com nossos parceiros do lado palestino nos permitirá que vivamos uma situação diferente, que acredito será muito mais tranqüila. O Sr. não se preocupa que o Acordo de Genebra se torne a base para novas negociações? Ahmed Qurei já iniciou o que acha ser um bom “ponto de partida” para um acordo. Parece que Genebra contém todas as concessões pelo lado israelense, mas concessões muito vagas do lado palestino. Não foi esta a história de Oslo? (David – Sydney, Austrália) Y.B: Como o mesmo tipo de crítica é ouvido pelos nossos parceiros palestinos em seu lado, acredito que é justo dizer que a Iniciativa de Genebra é um tratado justo. Se ela é percebida como um ponto de partida para Israel, e também para os palestinos, é porque ambos os lados manifestaram sua disposição para assiná-las e este é o grande avanço de Genebra. Por quanto tempo os campos da paz ficarão como reféns dos extremistas nos dois lados? Se o Sr. acredita que a maioria em Israel apóia a solução de Dois Estados, o que realmente tem que acontecer para que o campo da paz israelense se reenergize e obtenha o suporte de uma maioria sólida? (Fawad Razzaque – Saint Louis, E.U.) A Comissão de 11|9 concluiu seu relatório nomeando o terror islâmico como o o inimigo que os E.U. devem combater. Por que o Sr. ainda se recusa a admitir que Israel está enfrentando o mesmo inimigo – o radicalismo islâmico? (Mladen Andrijasevic – Be’er Sheva, Israel) Y.B: Deve-se ter muito cuidadoso para não transformar nosso conflito com os palestinos num conflito cultural ou religioso porque, se isto acontecer, teremos que desistir de uma solução, e se desistirmos de uma solução, estaremos desistindo da nossa existência.
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[ traduzido do www,haaretz.com por Moisés Storch para o PAZ AGORA|BR ]