n96
Palestinos e israelenses querem paz, mas Sharon e Arafat são covardes…
Israel tem que abandonar os territórios ocupados, e os árabes têm que reconhecer a existência de Israel e conviver em paz. Creio em uma solução de dois Estados – Israel e a vizinha Palestina.
É algo muito simples que estou convencido de que acontecerá, não sei quando. É só questão de tempo, porque nem os palestinos nem os judeus temos outro país para onde ir.
Temos que dividir a casa em dois apartamentos e aprender a viver como vizinhos civilizados.
Sionismo
AO – Porque é o único país onde historicamente os judeus como povo, como nação, nos sentimos em casa. Esta pergunta está errada e te explico porque. Durante os anos 20, os judeus europeus buscavam um país onde pudessem ir; meu avô solicitou quatro nacionalidades diferentes antes de vir para cá, mas o recusavam: judeus demais. A Europa no primeiro terço do século era como o Titanic: meus pais foram aqueles passageiros jogados do convés ao oceano antes do naufrágio, enquanto que o resto dançava dentro do navio.
E a tragédia é que eles foram precisamente os arquitetos da Europa titânica. Contribuíram para sua cultura porque a amavam, eram os únicos europeus junto aos patriotas espanhóis, búlgaros, noruegueses. Gente cosmopolita, o que então era um mero pejorativo, como intelectual ou parasita, palavras que encontramos nos vocabulários nazista e comunista.
Então, é melhor esquecer?
AO – Não se pode esquecer, é necessário falar disso para curar a ferida. Eu ainda tenho a ferida dentro de mim. Quando meus pais eram jovens, os muros de qualquer cidade européia tinham pixações que diziam: – Judeus, vão para a Palestina!. Hoje, esses mesmos muros gritam: – Judeus, saiam da Palestina!
Ainda se sentem incômodos no mundo?
AO – Sempre nos sentimos como uma nação hóspede, mas em Israel não. Aqui estamos no nosso país.
AO – De certo modo sim, o temor de uma catástrofe persiste porque somos o único país do mundo com inimigos dispostos a eliminá-lo. Tal é a política oficial do Irã, por exemplo. Ninguém se propôs a eliminar os espanhóis pela política de Franco. Entende a diferença? Nisto reside nossa insegurança.
Kibutz
AO – Para mim, sim. O kibutz é um experimento muito interessante sobre o socialismo voluntário, que nada tem a ver com a política e os governos socialistas, e que prevalecerá sobre o materialismo e a aparência que hoje constituem a visão da maioria.
Conquistar a terra alheia, onde outro povo vive, é sangrento e terrível, já foi dito. Não é isso que Israel pratica nos territórios ocupados?
AO – Israel tem que abandonar os territórios ocupados, e os árabes têm que reconhecer a existência de Israel e conviver em paz. Creio em uma solução de dois Estados, Israel e a vizinha Palestina. É algo muito simples que estou convencido de que acontecerá, não sei quando, é só questão de tempo, porque nem os palestinos nem os judeus temos outro país para onde ir. Temos que dividir a casa em dois apartamentos e aprender a viver como vizinhos civilizados.
AO – Temos líderes muito pobres. Costumo dizer que o paciente, ou seja, palestinos e israelenses, está disposto para a operação, a criar dois Estados. Não lhes alegra a solução, mas a aceitam. O que ocorre é que os médicos, Sharon e Arafat, são covardes.
AO – Sou membro do PAZ AGORA, uma coalizão de socialistas, liberais e inclusive alguns ortodoxos – um amplo espectro que vai desde a esquerda até o centro, e que atualmente está respaldado pela maioria dos israelenses e também por muitos palestinos, que estão a favor da convivência dos dois Estados.
AO – Comparei os fanáticos judeus e islâmicos: todos os fanáticos são similares. Israel é o meu lugar, ainda que não seja um jardim de rosas. Meu compromisso é lutar pela opinião pública, tratar de mudar a mentalidade e o coração de muitos israelenses, porque este é meu país. Ainda que meu partido não esteja no governo, este não é o fim do mundo.
AO – Escrevo porque tenho que fazê-lo, sinto assim, do mesmo jeito que preciso respirar. Escrever obriga a imaginar os sentimentos dos outros e isto, sim, é um bom antídoto contra o fanatismo.
[ entrevista por Elena Pita – publicada no El Mundo/Iton Gadol e traduzida pelo PAZ AGORA|BR ]