Existe algum plano de paz capaz de obter a concordância da maioria de israelenses e palestinos? Existe. É o chamado plano de paz alternativo, elaborado durante dois anos de trabalho por um grupo de israelenses e palestinos, liderado pelo ex-ministro da Justiça de Israel, Yossi Beilin, e pelo ex-ministro palestino da Informação, Iasser Abed Rabbo.
O plano, também conhecido como Acordo de Genebra, é apoiado por 56% dos palestinos e 53% dos israelenses. Envolve concessões de ambas as partes. Um Estado palestino será criado na Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental; as fronteiras serão aquelas existentes quando da Guerra dos Seis Dias, em 1967.
É reconhecida a soberania palestina nas áreas em que sua população predomina, em Jerusalém; Israel terá controle sobre outras áreas, incluindo o Muro das Lamentações. Os israelenses se retiram dos assentamentos ou os trocam por terra. Os palestinos abdicam da exigência do retorno dos refugiados para Israel (a questão que precipitou o naufrágio dos acordos de Oslo), recebendo uma compensação financeira.
Terminou o pesadelo, então? Não. O plano não tem apoio oficial, nem do governo israelense nem da Autoridade Nacional Palestina; pode-se imaginar que os grupos terroristas e a linha dura de ambos os lados irão sabotá-lo.
Ariel Sharon classificou o documento como “subversivo”, mas, na mesma semana em que foi divulgado, anunciou que seu governo está disposto a fazer importantes concessões no que se refere aos assentamentos. Já a oposição trabalhista criou um plano muito semelhante ao de Genebra.
E, entre a população, o documento circula abundantemente: 2 milhões de residências israelenses receberam cópia, bem como boa parte dos palestinos. O site www.heskem.org.il mantém um fórum on-line sobre o tema.
O projeto recebeu apoio de, entre outros, Kofi Annan, Colin Powell e Jimmy Carter. Diz o rabino Arthur Waskow, diretor do Shalom Center norte-americano, que este é o melhor plano elaborado em muitos anos e que se trata de uma grande oportunidade.
Uma objeção que se poderia fazer: o presente plano atrapalha o chamado Mapa da Paz. Mas este, atualmente, está congelado. E, de outra parte, o documento de Genebra pode ser visto como fonte de alternativas. E alternativa, em política, é uma palavra-chave. Quanto mais alternativas de paz existirem no Oriente Médio, melhor. A inexistência dessas alternativas representa copa franca para a violência e o terror. Falar em paz em meio ao conflito é, no mínimo, um grande avanço.
Moacyr Scliar, médico e escritor, é colunista da Folha de S.Paulo, membro da Academia Brasileira de Letras e dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA. O PAZ AGORA|BR traduziu na íntegra o Acordo de Genebra e o publicou em www.pazagora.org/genebra.
[ publicado na Folha de S.Paulo em 01/12/2003 ]