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O Centro Judeu-Árabe de Educação para Paz de Givat Haviva, em Israel, foi premiado com o Prêmio de Educação pela Paz da UNESCO.
O prêmio foi concedido “em reconhecimento aos grandes esforços na área de educação pela paz e promoção da paz e não-violência e em apreciação ao trabalho em prol da resolução de conflitos através do diálogo”.
[ Sede da UNESCO em Paris – 13|12|2001 ]
O Instituto Givat Haviva é assim denominado em homenagem a Haviva (Emma) Reik, que emigrou da Eslováquia em 1939. Sionista fervorosa, ela foi uma participante dedicada do Hashomer Hatzair [movimento juvenil sionista socialista], combatente do Palmach [embrião do futuro Exército de Defesa de Israel, formado sob o Mandato Britânico na Palestina], tendo servido numa unidade de pára-quedistas do exército britânico.
Em 1944, Haviva Reik se lançou de para-quedas, atrás das linhas nazistas na Eslováquia, para organizar a resistência judaica. Foi capturada e executada pelos nazistas em novembro de 1944.
O espaçoso e agradável campus de Givat Haviva, localizado onde outrora havia um campo do exército britânico, passou em 1948 às mãos do movimento kibutziano (Kibutz Artzi). Em 1949, o movimento estabeleceu ali um centro nacional de educação. Por mais de meio século, o Centro vem sendo o instrumento para lançamento de cursos inovadores e métodos de ensino que têm granjeado aplausos locais e internacionais.
Rodeado por kibutzim [fazendas socialistas], moshavim [cooperativas agrícolas] e aldeias árabes, o local era ideal para a promoção de um centro de aprendizado para ambas as sociedades, e em 1963, foi criado o Centro para a Paz. Sua missão era fomentar relações mais próximas entre árabes e judeus, promover compreensão e diálogo e fornecer ferramentas de aprendizado para atingir essas metas. Sua crença básica, a de que a promoção de compromisso, tolerância e co-existência através da educação seria a mais importante contribuição possível de ser feita para as gerações futuras.
Embora esteja num dos prédios menos vistosos, o Centro de Artes impressiona por suas conquistas. Sob a supervisão dedicada da diretora Etty Amram, excelentes programas tem sido colocados em prática. Além de conduzir criativos projetos de arte para crianças, adolescentes e adultos nos últimos doze anos, foi criado um Colégio Alternativo de Artes, para adolescentes que abandonaram a escola. Através da auto-expressão, que são estimulados a expor artisticamente, os jovens recebem ferramentas que lhes permite “se encontrarem”. Não há uma procura psicológica, mas simplesmente estímulo para expressar a dor dentro dos limites da arte. Vários participantes recuperaram o caminho certo, engajando-se nos cursos e revelando talento em produções artísticas.
Também há cursos para crianças dislépticas e com dificuldades de aprendizado. Outro projeto do Centro de Artes foi “A Linguagem da Terra (The Language of the Land)”, onde jovens árabes e judeus construíram juntos uma cúpula geodésica com paredes de terra. Após construída, a cúpula vem sendo usada como um aconchegante local de encontros, especialmente entre as duas culturas.
Dentro dos parâmetros da construção de pontes para a geração jovem, foi criado o programa “Crianças Ensinando Crianças (Children Teaching Children)”, que recebeu o Prêmio de Excelência do Ministério da Indústria. Aqui cada jovens aprende sobre o outro – diretamente do outro. Outro projeto interessante apoiado pelo Centro de Artes, é o “Através dos Olhos do Outro (Through Others’ Eyes)”: crianças das escolas de Kfar Kara e de Mevo´ot Iron fotografaram inicialmente uns aos outros e depois se encontraram em suas casas, tirando outras fotos, que foram posteriormente exibidas.
Outros destaques nos programas para jovens são publicações como “Crianças Escrevem pela Paz (Children Write for Peace)”, cujos resultados podem ser vistos no site do Givat Haviva (www.givathaviva.org.il/) e “Atravessando Fronteiras (Crossing Borders)”, revista regional juvenil resultante do trabalho conjunto de expressão literária de jovens israelenses, jordanianos e palestinos.
Boa parte do custeio tem sido suprida por membros da Comunidade Européia, que se espera seja continuado. Um dos programas de mais sucesso é “Mulheres na Comunidade (Women in the Community”. O curso é designado para mulheres ativas em suas comunidades e as treina para que se tornem “agentes de mudança”. Autoridades regionais e municipais tem assegurado cooperação com as participantes. É realizado em dois programas paralelos, em hebraico e em árabe, podendo assim focalizar os problemas específicos de cada diferente comunidade.
Além desta variedade de programas de estudos estabelecidos no campus, Givat Haviva abriga o Moreshet, um instituto voltado para a documentação, recordação, pesquisa e educação no campo da história do Holocausto. Um de seus maiores objetivos tem sido o de pesquisar a participação que tiveram movimentos juvenis judaicos no estabelecimento de grupos clandestinos nos guetos e campos de concentração para resistência à opressão nazista.
A Casa Moreshet hospeda seminários e jornadas especiais de estudos, não somente para grupos locais de todos os tipos, como também para visitantes estrangeiros, e também tem sua própria editora.
Em março de 2001, foi inaugurada a Biblioteca da Paz Sarah e Yaacov Eshel. Essa biblioteca abriga aproximadamente 60.000 títulos. A coleção central foi iniciada há cinqüenta anos e cobre desde educação, psicologia e sociologia, judaísmo, sionismo, aos movimentos trabalhistas e kibutzianos de Israel.
A Biblioteca do Instituto Moreshet, por sua vez, possui numerosos livros, álbuns, documentos e testemunhos originais relatando o Holocausto e uma seção de Estudos Árabes e do Oriente Médio. Esta seção contém milhares de livros, jornais, artigos e documentos em árabe, hebraico e inglês, sendo o maior reservatório de material sobre temas árabes/palestinos disponível em Israel. Também contêm documentos raros que datam do início do século XIX.
Como comentário pessoal, considerei a minha visita extremamente interessante, especialmente pela orientação da professora e jornalista Lydia Aisenberg. Apesar dos efeitos adversos da Intifada, pensei em quão forte essa ponte poderia se provar enquanto Givat Haviva continuar sendo um local de encontro entre as duas estradas nesse clima de preocupação política e econômica.
Espero que assim seja.
[ Barbara Abraham – publicado na ESRA Magazine – jun-ago/2003 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
O caminho certo para uma paz possível
O Centro Judeu-Árabe de Educação para Paz de Givat Haviva (www.givathaviva.org.il) é membro da REDEPAZ – Rede Global de Educação para Paz (www.redepaz.org). Patrocinou, no final de maio passado, o Encontro Regional da REDEPAZ no Oriente Médio – “Construindo uma Cultura de Paz” – realizado em Nazaré..
Participantes do Encontro, vindos de 15 países em quatro continentes, incluindo uma delegação dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA entre várias instituições brasileiras, tiveram a oportunidade de passar uma gratificante manhã no campus de Givat Haviva, conhecendo ao-vivo vários de seus projetos pioneiros.
Ver com os próprios olhos, e tocar com a própria pele, numa atmosfera de cooperação e confraternização, dezenas de crianças árabes e judias brincando e estudando juntas, orientadas harmoniosamente por facilitadores e professores de ambas as comunidades, foi uma experiência marcante e inesquecível
Os olhares brilhantes, de pura e abundante alegria, e o afeto que fluía entre as crianças e com o qual fomos recebidos foram uma injeção de esperança e otimismo, que reforça nossa certeza, de que a PAZ não só é necessária e URGENTE, mas perfeitamente POSSÍVEL.
[ Moisés Storch – coordenador do PAZ AGORA|BR ]