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Abu Farouk aponta para as dezenas de trabalhadores engajados na construção da cerca de segurança próximo à sua aldeia. Eles são residentes de Zabuba, que, com suas próprias mãos estão envolvendo a aldeia com a cerca pelos lados oeste, norte e leste.
“A cerca é amarga”, diz ele, “mas a situação econômica dos trabalhadores e a necessidade de alimentar suas crianças é ainda mais amarga e eles não tem escolha. Dificilmente qualquer pessoa das aldeias desta região trabalha dentro de Israel e se os moradores de Zabuba não trabalharem na cerca, outros virão. Acredite em mim, é pior ver as crianças chorando.”
A começar de 1948, Zabuba gradualmente perdeu milhares de dunams de suas terras. O primeiro lote de terras da aldeia, o mais fértil de todos, ficara dentro da Linha Verde quando o acordo de cessar-fogo foi traçado em Rhodes, em 1949. Ao longo dos anos, mais e mais terras foram desapropriadas da aldeia à qual restaram poucas centenas de dunams, onde oliveiras, castanhas e verduras eram cultivadas.
Abu Farouk não esqueceu os campos perdidos. Ele olha para os trabalhadores de construção, estudantes e professores engajados nas obras da cerca de segurança que corre a apenas algumas centenas de metros de suas casas, e que mesmo assim estão trabalhando duro para chegar ao fim de mais um mês, quando suas casas e aldeia serão virtualmente contornadas pela cerca.
Samir Samir, pai de oito filhos, costumava trabalhar em construção em Israel, mas estava desempregado desde o início da Intifada. Nas últimas semanas, ele tem trabalhado na cerca com outros 25 operários, três deles árabes israelenses e o restante de Zabuba. Ele aponta sua casa, nos bosques de oliveiras próximos, e diz que seus vizinhos o cutucam todo o tempo.
“Você se tornou um grande empreiteiro na terra que foi tirada de você”, dizem a ele. E ele responde: “Se eu não trabalhar na cerca, algum outro o fará, e eu preciso alimentar meus filhos.”
Salah Jeradat, 57, está suado. “É o desejo de Allah que construamos a cerca”, diz ele. “ Deus nos ajuda, não temos dinheiro nem trabalho.”
Seus colegas de trabalho indicam um homem com um boné amarelo, removendo pedras. “Ele é Sadik Hussein que tem 35 dunams próximos ao posto de controle de Salem”, dizem eles. “A cerca passa no meio de suas terras, que eles lhe tiraram. Agora ele está trabalhando na cerca que tomou sua terra.” Hussein raivosamente nos acena, recusando ser entrevistado, enquanto se volta para os bosques de oliveiras.
Na aldeia próxima de Romana, ativistas da Fatah tentaram há algumas semanas evitar que um pedreiro vendesse suas ferramentas para a construção da cerca, mas desistiram quando perceberam que as pedras viriam do canteiro da aldeia próxima. Os campos dos aldeões se estendiam por todo o caminho até a cerca, mas no ano passado 75 proprietários descobriram que o Ministério da Defesa os tinha desapropriado por “razões de segurança”. Eles jamais foram compensados.
A cerca que rodeará sua aldeia terá cerca de um quilometro e meio de comprimento, mas seu traçado ainda não é claro. Foi alterado várias vezes, e cada mudança prejudica os agricultores. A Linha Verde, que está do lado israelense da cerca, foi demarcada em branco e verde.
A cerca está toda em terra desapropriada dos aldeões. “Os agricultores medem sua terra pelo número de árvores e não pelo número de dunams”, diz Abu Farouk, “e aqui”, continua, apontando para seus campos, “existem cerca de 400 oliveiras e castanheiras que eu plantei no lado israelense da cerca. Os israelenses tem centenas de milhares de dunams, mas eles escolhem construir a cerca no lado oriental da Linha Verde.”
A única saída da aldeia será pelo sul. É a Estrada de Haifa, a principal rota ligando Jenin a Haifa. Durante a intifada, ela se tornou uma Estrada esburacada usada por tanques e carros de combate. Os residentes da aldeia não podem ir a Jenin sem ser parados em vários postos de controle do exército israelense.
Além da perda de suas terras, o que incomoda os residentes de Zabuba é a perda de qualquer esperança de retornar a uma vida normal que tinham antes da intifada, quando 90% dos residentes homens trabalhavam em Israel.
Hoje a maioria dos aldeões depende de organizações humanitárias e de caridade para suprir suas necessidades básicas.
[ publicado no 01|07|03 no Haaretz e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]