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Após mil dias e noites de guerra, as pressões populares, neste mês, pelo retorno a uma relativa normalidade parecem não ter oferecido aos falcões nenhuma alternativa exceto serem arrastados para uma cessação de hostilidades.
Pela primeira vez, Yasser Arafat, o próprio símbolo da rebelião e resistência palestina, deu seu selo irrestrito de aprovação a uma parada na revolta palestina.
Quebrando sua tradição, Ariel Sharon, o homem que por décadas definiu a oposição dos falcões israelenses a “negociar sob fogo”, defendeu conversações de paz, apesar do inconfundível, se bem que esporádico, som de fogo vindo do front.
Contra todos os precedentes, uma porção de organizações terroristas palestinas declarou no domingo seu acordo a uma moratória nos ataques contra israelenses, abrindo mão de seus prévios apelos à continuação da matança de colonos e soldados.
Por seu lado, Israel, cujo negociador chefe em concessões aos palestinos, há apenas última semana taxou o conceito de trégua provisória como “uma ameaça a qualquer tipo de paz”, tirou colunas de tanques para fora da Faixa de Gaza de um dia para o outro, devolvendo a administração da segurança para as forças policiais da mesma Autoridade Palestina, que por anos ele caçava, prendia, torturava e com que diariamente trocava fogo mortal.
Apesar do ódio e da ideologia, a opinião popular em ambos os lados tem mostrado um forte sentimento por cessar a luta que não apresentou nenhum resultado concreto senão um estável aumento na conta de mortes de inocentes e combatentes.
Uma pesquisa conduzida na véspera da declaração de cessar-fogo mostrou que 80% dos palestinos estavam a favor da hudna.
”Não há nenhum caminho for a disso”, dizia Erez Amoyal, dono de um quiosque no Sul de Tel Aviv, que se denomina como apoiador da “sadia mas bem forte direita” de Israel.
“Os palestinos querem sair para trabalhar, sem um cano de Merkava (tanque israelense) apontando para eles, enquanto os israelense querem pegar um ônibus de manhã para trabalhar sem serem explodidos”.
Amoyal disse que, além da tragédia pessoal, que já alcançou cada lar, judeu ou árabe, neste ponto nenhum dos lados pode mais suportar a crise econômica que o conflito trouxe.
Esse ponto foi trazido à tona por uma visita na manhã de 2ª feira do Ministro da Defesa Shaul Mofaz à cidade de trabalhadores de Dimona no Neguev, que cuidadosamente evitou temas eonômicos ao atacar uma postura sem concessões militares aos palestinos.
Mofaz foi vaiado em sua chegada à tradicional fortaleza dos sentimentos políticos do partido de direita Likud, onde os moradores da cidade o xingavam, culpando-o e ao seu governo pelo piora de seu arrocho econômico.
Na semana passada, mesmo enquanto ele estava negociando os pontos críticos da passagem dos controles de segurança para os palestinos, o chefe da política de Israel para os territórios, o major-general Amos Gilad desqualificava a hudna como “uma ameaça a qualquer tipo de paz.” Outros oficiais graduados israelenses a chamavam de um “truque” e “algo que não valia o papel em que estava impressso”.
Na 2ª feira, Gilad trabalhava sobre a próxima fase da retirada, um retorno do controle da cidade de Belém, na Cisjordânia, foco de interesse político e como tradicional local de nascimento de Jesus Cristo, à Autoridade Palestina.
Ao mesmo tempo, palestinos radicais, respondiam com uma retórica que às vêzes beirava o genocídio, repelindo os termos da trégua.
Recuperando-se numa cama de hospital no início deste mês, de uma frustrado atentado israelense contra sua vida, o líder do Hamas, Abdel Aziz Rantisi, não parecia ter nenhuma paciência com a presença judaica na Terra Santa:
Do lado israelense, enquanto isso, a campanha de assassinatos contra os militantes do Hamas, se mostrou impopular após uma pesquisa do jornal de ampla circulação Yediot Ahronoth, que mostrou que dois terços dos israelenses eram a favor da cessação das “liquidações”, para dar uma chance a mudanças para a paz.
Tecnicamente, as concessões de Israel nesta semana foram feitas no contexto de um papel central da administração Bush no plano de paz road map.
Falando pouco após a retirada das tropas de Gaza, o Ministro do Exterior Silvan Shalom disse ao Comitê de Defesa do Knesset (Parlamento) nesta segunda-feira: “O acordo de cessar-fogo não foi concluído com Israel. Foi feito entre a Autoridade Palestina e os elementos terroristas extremistas. Como não somos nem partes nele, seus termos não nos importam”.
De qualquer forma, as conversações têm continuado, com a expectativa de Sharon encontrar sua contra-parte palestina, Mahmoud Abbas para novas tratativas hoje.
Como para desvalorizar a declarada trégua, o foco das notícias em Israel foi abruptta e algo curiosamente voltado para incidentes fatais de natureza menos política.
Ao longo do fim de semana, não menos de 15 israelenses tiveram morte violenta, mas em acidentes de carro, e não em atentados terroristas. Ontem, sete pessoas fora mortas numa explosão numa casa de dois pisos em Tel-Aviv, mas a causa não foi um terrorista suicida, mas um vazamento de gás de cozinha.
Houve uma segunda explosão no mesmo dia, desta vez uma tentativa de roubo.
O único ataque terrorista ontem foi uma típica emboscada do “Al Aqsa”, na qual atiradores mataram um trabalhador estrangeiro num carro que passava na Cisjordânia, evidenciando a fragilidade da trégua, e o fato de que boa parte do resto da hoje fragmentada Fatah de Yasser Arafat’ depós as armas, até o momento.
De acordo com um alto oficial da Autoridade Palestina, considerado com um dos mais acurados observadores do conflito, e dos israelenses em particular, no caso improvável de que a trégua se enraize e leve a uma paz ampliada, o ceticismo, o amargor, a suspeição, e a falta de euforia que a determinou pode ser um fator para seu sucesso:
“A amarga experiência do passado nos ensinou a ser muito, muito cautelosos”, disse ontem Sufyan Abu Zaydeh. “Talvez isso seja saudável”.
“Eu sei que em Israel eles não estão tomando isso a sério”, disse à Rádio de Israel. “Esta não é uma virada espetacular. É um sério começo na trilha da retomada de confiança entre dois povos, e ao retorno à situação anterior a setembro de 2000. Será possível? É muito, muito possível.”
O que é importante agora, completou, não é que haja beijos e abraços entre árabes e judeus, mas que em cada lado, a violência cesse e e as pessoas comecem a viver suas vidas.
Colonos em Gaza, enquanto isso, se colocam em alerta para novos atentados, declarando que não terão nada de novo além de luto. O veterano colono de Gaza Avi Farhan, referindo-se à visita da conselheira de segurança nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, dizia:
“É exatamente o mesmo que propormos à Sra. Rice: que os americanos concluam uma hudna com Bin Laden.”
Abu Zaydeh não se abalou: “A essas alturas os dois lados tem pouco a perder tentando uma trégua”, comentou.
“Até aqui, demos 20.000 chances à guerra. Só demos à paz uma única . Não podemos dar mais uma chance à paz ?”
[ publicado no Haaretz e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]