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A Manifestação de 29 de março em Paris :
COMUNICADO À IMPRENSA – AMIGOS DO PAZ AGORA NA FRANÇA
Balanço e Perspectivas
Durante a semana que se seguiu á agressão selvagem e racista contra os jovens do Hashomer Hatzair (*) , comitês de diversas organizações de esquerda e de extrema-esquerda que organizam as manifestações contra a guerra no Iraque se apressaram em manifestar suas condenaçôes, dialogar e escutar o que esse jovens tinham a dizer e propor. Enquanto tentavam superar o trauma que tinham sofrido, os jovens do Hashomer se prontificaram a fazer propostas concretas com o intuito de banir destas manifestações os slogans anti-semitas e racistas, e de organizar grupos de mediadores para evitar possíveis excessos futuros.
Os Amigos do PAZ AGORA na França participaram destas discussões ao lado dos jovens do Hashomer Hatzair. Após estas discussões e a nova manifestação que se seguiu em 29|03, é o momento de fazer um primeiro balanço e ensaiar um esboço das perspectivas.:
– O ressentimento provocado pelas agressões racistas do 22 de março conscientizaram estas forças politicas, e em particular o Partido Socialista, os Verdes, o Partido Comunista Francês, a Liga Comunista Revolucionária, o Movimento da Paz, a União dos Estudantes Franceses, o MRAP – Movimento Contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos, e a Liga do Direitos do Homem, de que houve uma transgressão dos limites, e que elas devem reagir sob risco de consequências politicas nefastas.
– Mas, para nós, uma simples condenação não é suficiente. É dever dos Amigos do PAZ AGORA na França interpelar estas organizações de esquerda e de extrema-esquerda sobre seu papel e suas responsabilidades nestes excessos intoleraveis.
– Ao nosso ver, estas organizações trouxeram o risco, ao convocar as manifestações contra a guerra no Iraque misturando o problema israelense-palestino, com plena consciência de que isto atrairia movimentos extremistas, que utilizam esse pretexto para semear intolerância, ameaças, violências verbais e físicas, agressão verbal e fisica, e para criar desordem e confrontos inter-comunitários no seio da sociedade francesa. A responsabilidade por essa tomada consciente de risco não pode ser camuflada sob o simples pretexto de que e impossivel controlar grupos de provocadores numa manifestaçâo.
– Os organizadores das demonstrações contra a guerra no Iraque ensaiaram responder de maneira positiva às demandas que lhes foram apresentadas. Mediadores com bonés brancos foram vistos na passeata, onde muitos jovens do Hashomer Hatzair tentavam corajosamente dialogar com os mais virulentos dos manifestantes , para lhes fazer entender a razão, retirar os slogans racistas, e as palavras de ordem e tomadas de posição provocadoras.
Mesmo que mostrada a boa vontade dos organizadores, vimos os limites desse exercício. Os mediadores foram ameaçados e agredidos quando quiseram agir e os slogans racistas e provocadores não desapareceram, mesmo que fossem menos numerosos que em passeatas anteriores. Podemos até questionar se a participação mais reduzida na passeata do 29 de março não foi em parte resultante dos efeitos desastrosos criados pelos excessos da manifestação da semana anterior.
– Quando se faz uma mobilização “Contra a Guerra e por um Mundo de Justiça, de Paz e de Demcracia“, sem denunciar claramente a sanguinária ditadura de Saddam Hussein e do partido iraquiano Baath, quando os manifestantes que ousam gritar que Saddam é um assassino são ameaçados e insultados, ou seja, quando dezenas de milhares de pessoas estão sendo levadas às ruas por slogans políticos no minimo ambiguos, quando se acha ´normal´ lançar slogans anti-sionistas, mesmo sabendo que este anti-sionismo implica pura e simplesmente em preconizar a liquidação do Estado de Israel, e portanto a vitória de um campo sobre [que paz é essa?], não surpreende ver manifestantes brandindo cartazes com o retrato de Saddam Hussein. Não surpreende ver ressurgir referências ao nazismo, ao hitlerismo e ao racismo. Não há surpresa em ver integristas islâmicos ousando proferir publicamente slogans incitadores de ódio, com total impunidade.
No que nos concerne, os Amigos do PAZ AGORA na França, sempre denunciamos os riscos de importar os conflitos do Oriente Médio para dentro da República Francesa. Em particular, sempre lutamos para que o conflito israelense-palestino seja resolvido através do diálogo.
Pensamos que a perpetuação da ocupação dos territórios ocupados em 1967 , e a extensão obstinada das colônias de povoamento nestes territórios são um dos maiores obstáculos ao estabelecimento de uma paz verdadeira entre os dois povos.
Pensamos também que as ações terroristas palestinas, os grupos que as organizam, e aqueles que justificam estes atentados estão manifestando uma vontade política de rejeitar uma solução onde dois Estados, um israelense e outro palestino, possam um dia coexistir.
Neste contexto, os Amigos do PAZ AGORA na França conclamam às forças que reivindicam uma solidariedade privilegiada com o povo palestino, a promover um esclarecimento dentro de suas próprias fileiras, distanciando-se claramente dos extremistas, mais ou menos disfarçados, que demonizam o adversário israelense e multiplicam iniciativas demagógicas e contraproducentes.
A paz somente se faz quando os dois lados em confronto aceitam dialogar no lugar de lutar.
Do seio da República Francesa, apelamos para um diálogo politico responsável entre todos os movimentos políticos e associações que afirmam claramente que o conflito israelense-palestino se resolverá com base na coexistência de dois Estados, permitindo a cada povo realizar suas legitimas aspirações nacionais.
É dialogando, explicando-se e ouvindo os outros, que poderemos enviar um sinal de solidariedade às forças da paz em Israel e na Palestina, mas também um sinal vigoroso para a sociedade francesa para que não caia na armadilha dos extremismos religiosos e do envenenamento das relações inter-comunitárias , que preparam o leito para a extrema-direita.
O amanhã ameaça ser difícil para todos, caso não seja posto um ponto final à ação de grupos que rejeitam os ideais da República.
Paris, 31 de março de 2003
Amigos do PAZ AGORA na França [ traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]
(*) NT: O Hashomer Hatzair é um movimento juvenil sionista e socialista, vinculado ao Partido Meretz israelense, que defende a existência de um Estado Palestino independente ao lado de Israel, e igualdade de direitos para todos os cidadãos de Israel, independentemente de origem, raça ou religião. Participa, junto ao Movimento PAZ AGORA e outras organizações, da Coalizão Israelense pela Paz.
O Anti-Semitismo Ressurge na França
[ Relatório da CNCDH ]
” Se o número de atentados aos imigrantes é significativo, a quantidade de ataques à comunidade judaica realmente explodiu “
Houve, no último ano, um dramático aumento dos atos racistas e anti-semitas reportados na França, de acordo com órgão fiscalizador de direitos humanos do governo francês.
A Comissão Consultiva Nacional para Direitos Humanos da França – CNCDH informou que, em 200,2 houve mais de 300 episódios registrados de violência e quase 1.000 casos de abusos ou ameaças. Dois terços deles foram anti-semitas, seis vezes mais do que em 2001.
ATENTADOS RACISTAS NA FRANÇA EM 2002
Atos de Violência: Total = 313 // Anti-Semitas = 193
Ameaças., Pixações, Insultos: Total = 992 // Anti-Semitas = 731
A CNCDH disse que os incidentes, muitas vezes atribuídos a jovens de ascendência árabe, foram em grande parte vinculados à escalada do contlito no Oriente Médio.
Os atentados nos Estados Unidos em 11|09|2001 também foram considerados como tendo inflamado as tensões.
O relatório também confirmou a tendência nos últimos anos para uma queda nos atos de racismo vinculados aos grupos tradicionais de extrema-direita.
Fator Iraquiano
Correspondentes dizem que muitos franceses da comunidade judaica ficaram chocados por atentados contra rabinos, sinagogas e escolas judaicas. “Se o aumento no número de atentados dirigidos à comunidade de imigrantes é significativa, a quantidade de ataques à comunidade judaica explodiu”, observa o relatório.
E há preocupações de que as tensões entre o meio milhão de judeus franceses e os cinco milhões de muçulmanos possa aumentar ainda mais como resultado da Guerra no Iraque. No último sábado, quatro judeus que participavam das manifestações contra a guerra em Paris foram atacados com barras de ferro.
Reduzindo as Tensões
No mês passado o Ministro da Educação Luc Ferry anunciou novas medidas para lidar com o anti-semitismo nas escolas francesas.
Professores têm reportado problemas nas escolas ao lecionar sobre assuntos como o Holocausto, a guerra da Argélia e o conflito israelense-palestino a classes com grande número de alunos árabes.
Entretanto, a posição do governo francês em se opor à guerra conduzida pelos Estados Unidos contra o Iraque parece ter ajudado a acalmar a situação.
“A comunidade judaica está preocupada em ser feita bode expiatório enquanto os muçulmanos temem ser estigmatizados como o inimigo”, conforme Malek Boutih, presidente da SOS Racismo, citado pela Agência France Press. “Mas a posição da França no front internacional tem encorajado a integração republicana. Uma comunidade nacional é forjada através de experiências como essa”.
[ BBC NEWS – 27|03|2003 – traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]