Tenho vergonha!

La Paix Maintenant321y        

Durante uma dezena de anos fui professor na Universidade de Paris-VI, antes de ser eleito  para o Collège de France em 1973.  Continuo, após essa data a dar cursos no terceiro ciclo dessa universidade. Todos meus trabalhos de perquisa foram e continuam sendo efetuados em um laboratório associado à Paris-VI. Me sinto, assim, diretamente preocupado e questionado por uma moção recente do conselho de administração daquela universidade, demandando à União Européia a não renovar o contrato de cooperação universitária entre a União Européia e Israel, e me considero no direito de dar minha opinião.

Estou envergonhado pelos colegas que ousam lançar um anátema sobre outros colegas por causa de suas nacionalidades. Tenho vergonha pelos colegas que, diante de um conflito doloroso onde dois povos sofrem cruel e cotidianamente, escolheram satanizar uma das duas partes, ao invés de estimular sua reaproximação.

Tenho vergonha pelos colegas que aparentam ignorar que as universidades israelenses são locais de debate democrático, onde vozes fortes e numerosas não hesitam em se elevar para se opor à política de seu governo, onde os contatos são mantidos, apesar de tudo e contra todos, com seus homólogos palestinos, para que uma verdadeira colaboração possa se instaurar no dia em que um acordo de paz for enfim realizado.

Envergonho-me dos colegas que fingem ignorar que, penalisando e isolando desta maneira os universitários israelenses, eles estão dando, na verdade, um golpe nos que se dedicam à paz.

Nós, universitários e cientistas, temos grandes desafios diante de nós: tentar, através de nosso ensino, proporcionar às novas gerações a oportunidade de fazer estudos científicos, manter a pesquisa científica no mais alto nível, revelar àqueles para quem as descobertas científicas não sejam reveladas, auxiliar os países em via de desenvolvimento a melhorar seus sistemas educativos e universitários, o que representa a melhor maneira de enfrentar as derivações fundamentalistas.

Tratemos de desenvolver em nós mesmos a inteligência, a coragem e a generosidade que são necessárias para levar a bom termo estas ambiciosas tarefas. Não permitamos que esta verdadeira visão da universidade seja desfigurada por gesticulações estéreis e perigosas que não sabem encontrar outra linguagem que aquela do anátema e da exclusão.


College de FranceClaude Cohen-Tannoudji é professor no Collège de France, Prêmio Nobel de Física e membro dos Amigos do Paz Agora na França  [La Paix Maintenant (France) – http://lapaixmaintenant.org/ ] . Tem se destacado por suas ações pela paz e pela aproximação entre israelenses e palestinos, particularmente no meio acadêmico.

 

[ publicado no Le Monde e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]

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