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Como esperado, a promessa do chefe do Partido Trabalhista Amram Mitzna de retirada da maioria dos territórios, com ou sem acordo, atraiu o fogo da direita. Dois anos e meio após a retirada unilateral dos campos mortíferos do Líbano, o argumento de resgatar os soldados de sua missão colonialista em Gaza será interpretado como um “prêmio para os terroristas”.
Alguns dizem que a retirada do Líbano em maio de 2000 teria provado aos palestinos que os israelenses apenas entendem a força. Assim, dizem eles, a “rendição no Líbano” teria levado à erupção da Intifada quatro meses depois. De acordo com essa lógica, soldados israelenses deveriam estar sangrando até a morte no Líbano ainda hoje. Por aí, se a Síria fosse remover o Hezbollah da fronteira norte, os jornais de Damasco iriam certamente escrever que isto seria um prêmio pela expansão de assentamentos nas Colinas de Golan…
O uso do termo “prêmio” traduz o cenário internacional por relações pessoais, e geralmente infantis. A oposição a sair de Gaza lembra o comportamento de alguns motoristas: eles arriscam suas vidas para ultrapassar um rival no tráfego, para propositalmente segurá-lo no próximo semáforo, obstruindo todo o tráfego, e se atrasando para uma reunião importante.
É verdade que 6.000 israelenses não tem nada a fazer entre mais de um milhão de palestinos em Gaza. A maior parte do governo concorda ser uma vergonha que mesmo um único soldado perca a vida para santificar a presença judaica, pela qual estamos tornando miseráveis as vidas de dezenas de milhares de refugiados. Mas não somos de brincar: ficaremos lá como um osso nas nossas gargantas e nas deles, até que os palestinos se rendam…
O plano de Mitzna de reiniciar negociações com os palestinos sobre o futuro da Cisjordânia também despertou objeções, e não apenas da direita. Esta recebeu a cumplicidade do ex-primeiro-ministro e membro do Partido Trabalhista, Ehud Barak. O ex-ministro convenceu muitos do centro, e mesmo da esquerda, que tinha abaixado os entraves para a paz, mas que Arafat perdeu a oportunidade de atravessá-los. A conclusão é que não há escolha a não ser deixar a iniciativa política no freezer até que melhores tempos cheguem. Até então, a direita goza de apoio passivo – e até ativo – do “campo da paz” para inúmeras operações militares.
Ninguém pergunta o porquê de a tentativa de se chegar a um acordo permanente com os palestinos ter recebido apenas 4 ou 5 meses de graça (pois de acordo com Barak, as conversações de Taba não foram mais que um exercício), enquanto que a opção militar, mesmo que se tenha repetidamente provado ser fraca e não conduzir a lugar nenhum, obtenha infinitas chances.
As negociações por um acordo na Irlanda do Norte e em Chipre prosseguiram por décadas, mas os oponentes não cederam a dificuldades, nem a terroristas. Eles não demandavam que seus parceiros fossem mudados. Mas aqui, no nosso lado, a mera prontidão para sentar e negociar com o rival é considerada como “um prêmio para o terror”, e um político que propõe que seja dada outra chance para a opção política é considerado um ingênuo.
O estranho protesto feito contra Mitzna, com relação à sua disposição de negociar sob fogo, é, retrospectivamento, dirigido ao primeiro-ministro assassinado Itzhak Rabin. Foi Rabin que ditou a regra na qual negociações devem ser realizadas como se não existisse terror, e o terrorismo deve ser combatido como se não houvesse negociações. Houve alguns líderes (como De Gaulle com os rebeldes argelinos) que falavam com o inimigo enquanto sua gente matava seus líderes. Presumivelmente Mitzna, como Rabin, não pretende apertar as mãos daqueles palestinos que apertaram os gatilhos. Sua única condição aos palestinos é que eles repudiem o terrorismo, e façam tudo que possam para detê-lo.
[ por Akiva Eldar – publicado no Haaretz em 03|12|02 e traduzido por (tradutor) para o PAZ AGORA|BR. ]