Debate no The Center for Strategic and Future Studies Kuwait University
O Centro para Estratégia e Estudos do Futuro da Universidade do Kuwait e o diário Kuwaiti Al-Qabas patrocinaram um debate em 16|11|2002 com o Dr Sari Nusseibeh, então Comissário da OLP para Assuntos de Jerusalém e presidente da Universidade de Al-Quds.
O moderado líder palestino discutiu na ocasião, às vésperas da eleição israelense que levou Ariel Sharon a seu segundo mandato derrotando o trabalhista Amram Mitzna, o estrago feito à causa palestina pela violência. Ressaltou a justiça das reivindicações de árabes e judeus sobre Jerusalém, e instou os palestinos a agir com moderação de forma a apoiar o campo pacifista israelense.
O que segue é um sumário dos comentários do Dr. Nusseibeh compilado pelo MEW – MidEast Web for Coexistence – www.mideastweb.org
O Dr. Nusseibeh previu que a atual situação na Palestina levará a mais violência, extremismo e complicações. Disse que a segunda Intifada já com dois anos carecia de visão e objetivos, diferentemente da primeira, que foi um movimento de desobediência civil cuidadosamente planejado.
O conflito só pode ser resolvido se palestinos e israelenses retomarem negociações, o que deve ser feito com a condição de encontrar um acordo final para o conflito israelense-palestino. As negociações também devem focalizar Jerusalém, o ‘direito de retorno’ palestino, assentamentos israelenses e fronteiras.
Os judeus têm uma longa história em Jerusalém e são historicamente ligados à Palestina. Israelenses e palestinos precisam fazer concessões mútuas em suas reivindicações por Jerusalém, aceitando a coexistência. Jerusalém Oriental deve ser dada aos palestinos e Jerusalém Ocidental deve ser dada aos israelenses.
Em função dos contínuos investimentos de Israel em Jerusalém, ficará difícil dividir Jerusalém daqui a 4 anos, e impossível após 8 anos. Israel tem investido em infra-estrutura, assentamentos e na demografia de Jerusalém. Em essência, o investimento israelense tornou urgente um cronograma para negociações, paz e a opção de Dois Estados.
Palestinos e israelenses poderão se tornar incapazes de conseguir uma solução de Dois Estados no futuro e serem forçados a viver num Estado único que não satisfará nem a visão palestina de um Estado palestino nem a visão israelense de um Estado judeu. Mais ainda, Israel deve se retirar para sua fronteiras anteriores a 1967 e esvaziar a terra ocupadas após aquela guerra por assentamentos.
Com relação aos refugiados palestinos, os palestinos devem perceber que o retorno de todos os refugiados é inviável. Em vez disto, devem adotar uma solução prática que garanta compensação para alguns refugiados e o retorno de outros.
Qualquer esforço palestino de trabalhar um acordo definitivo com Israel deve levar em conta as atuais tendências eleitorais israelenses, que se capitalizadas podem proporcionar uma oportunidade para paz.
As pesquisas eleitorais mostram que os eleitores israelenses podem ser divididos em 3 grupos: direita, centro e esquerda. A direita, liderada pelo partido Likud, quer um Israel seguro, mesmo que não se chegue a um acordo de paz com os palestinos, e é apoiada por 40% dos votantes. A esquerda, liderada pelo partido trabalhista Avodá, quer paz com os palestinos e é apoiada por 40% dos votos. Os restantes, representando de 5 a 10 cadeiras do Knesset [parlamento], normalmente se alterna entre as duas posições, sendo movida pelas circunstâncias em torno das eleições.
É imperativo que os palestinos trabalhem para manter a esquerda israelense ao seu lado. Esta influência pode ser conseguida chegando a um acordo com a esquerda antes das eleições. Tal acordo deve claramente afirmar que serão realizadas negociações caso a esquerda seja levada ao poder, esperando que tal gesto atraia os oscilantes 10% do eleitorado para se unir à esquerda. Mas ambos os lados precisam comprometer-se com o acordo.
Se os palestinos não tiverem sucesso em ter um governo dominado pelo Partido Avodá, é possível que as negociações fiquem engavetadas pelos próximos 4 anos. Portanto, os palestinos devem agir de uma maneira que não force israelenses a votar no primeiro-ministro Ariel Sharon.
O Dr. Nusseibeh acreditava que o uso da força diante do muito mais poderoso Israel não trará qualquer ganho político. Os palestinos tem a chave para usar outras formas de resistência de forma a trazer a retirada, independência e paz.
[ compilado pelo MEW – MidEast Web for Coexistence – www.mideastweb.org – e traduzido pelo PAZ AGOR|BR ]
APÊNDICE
A VOZ DOS POVOS – Uma Proposta para Jerusalém
Sari-Nusseibeh é co-autor, com o israelense Ami Ayalon, da proposta de paz ‘A Voz dos Povos’, que conta com a adesão de mais de 250.000 israelenses e 160.000 palestinos .
Para a questão de Jerusalém, a ‘Voz dos Povos’ propõe:
‘Jerusalém será uma cidade aberta, a capital dos dois Estados. A liberdade religiosa e o total acesso aos lugares sagrados serão garantidos para todos.
Os bairros árabes de Jerusalém passarão a ter soberania palestina e os bairros judaicos terão soberania israelense. Nenhuma parte exercerá soberania sobre os locais sagrados.
O Estado da Palestina será designado Guardião do Monte do Templo em benefício dos muçulmanos e Israel será o Guardião do Muro das Lamentações em benefício do povo judeu. O status quo dos locais sagrados cristãos será mantido. Nenhuma escavação poderá ser efetuada nos lugares santos, ou por baixo deles.’