A chave

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 Está claro para muitos qual é a chave para os conflitos que derramam sangue e espalham o terror no Oriente Médio. A CHAVE É EDUCAÇÃO. Educação para a paz, educação que contemple o conhecimento do outro e o respeito às diferenças. 

A paz não será atingida se apenas as lideranças dos dois povos assinarem um papel comprometendo-se a não se agredir mutuamente. Não. A história pode ter seu curso acelerado por grandes estadistas, mas é construída tijolo-a-tijolo por homens comuns, e no coração destes homens é que a paz deverá atingir a dimensão maior do que a de uma folha de papel.

É com essa fórmula que o CENTRO GIVAT HAVIVA, em Israel, procura atingir a paz. Através da convivência entre Palestinos e Israelenses dentro de salas de aula, ou em muitas atividades conjuntas nas quais as crianças de ambos os povos aprendem a conviver com o diferente sorvendo o que há de melhor neste tipo de experiência, tais como intercâmbio de alunos de escolas judaicas com os de aldeias árabes, programas de educação para a Paz com professores de escolas de toda Israel, edição de publicações por redatores árabes e judeus, torneios de futebol entre times mesclados de jovens árabes e judeus, etc…

Segundo Guiora Avraham, um de seus diretores, O Centro Guivat Haviva atua em Israel desde 1949. Nasceu, há mais de 50 anos, de uma iniciativa do movimento juvenil sionista Hashomer Hatzair, e do movimento socialista kibutziano, e tem como objetivos, além da educação, estudos avançados no campo da democracia e cidadania , da paz, da coexistência e da tolerância entre os povos.

Por lá já passaram mais de cinqüenta mil crianças e jovens, que permanecem “contaminados” pelas esperanças de um futuro melhor. O CENTRO ÁRABE–JUDAICO PARA A PAZ DE GIVAT HAVIVA (www.dialogate.com.br) ganhou em 2001 o prêmio “Educação Para a Paz” da UNESCO e tem conquistado ao longo de décadas de trabalho profissional consistente, o  respeito de sucessivos governos israelenses, assim como da Autoridade Palestina e de vários órgãos internacionais, como iniciativa concreta de construção de bases para um relacionamento saudável entre judeus e árabes no Oriente Médio.

Dois diretores deste Centro estiveram em São Paulo entre 7 e 12 de outubro, a convite do movimento pacifista “Amigos Brasileiros do PAZ AGORA – PAZ AGORA|BR” (www.pazagora.org – e-mail: pazagora@yahoo.com), para participar do ‘Encontro 2002 da Rede Global de Educação para a Paz’),

Ao lado do PAZ AGORA|BR e mais de 100 instituições brasileiras e do mundo inteiro, além de autoridades educacionais e líderes de várias correntes religiosas, entre os quais o Rabino Sobel, dois representantes do  “Centro Givat Haviva”, Guiora Avraham e Riad Kabha participaram de uma rica troca internacional de experiências e de estreitamento de novos e importantes laços durante o Encontro 2002 da Rede Global de Educação para a Paz, realizado no SESC Vila Mariana, no Parlamento Latino-Americano e no Memorial da América Latina, promovido pela Redepaz (www.redepaz.org)  com o apoio da Unesco e outras organizações.

Guiora Avraham e Riad Kabha em S. Paulo

Guiora Avraham e Riad Kabha em S. Paulo

Em meio a uma agenda lotada, eles fizeram questão de falar à Comunidade Judaica Brasileira, através da Semana Judaica. Guiora Avraham (diretor executivo) e Riad Kabha (co-diretor), um judeu e um árabe, mas também um sionista-israelense e um palestino-israelense, como ambos se definiram, concederam entrevista na noite do dia 8 de outubro, em seu hotel.  

O  Centro de Guivat  Haviva opera atualmente vinte e cinco projetos relacionados com os temas Paz e Coexistência. Para construir essa ponte  de ligação entre árabes e judeus, o Centro conta com a  ajuda financeira de doadores de todas as partes do mundo, além de subsídios do governo israelense, que já foram bem maiores.

O que mais me surpreendeu nesta conversa foi a maneira como ela foi conduzida pelos dois representantes. A princípio, perguntei-lhes a respeito de novas caras na política dos dois povos, comentei as incursões israelenses em territórios ocupados, perguntei-lhes dos homens bomba, mas fui imediatamente desviado dessa linha de raciocínio quando o sr. Guiora comentou que o trabalho deles envolve somente a educação: “Somente isso pode trazer a paz no futuro…Não somos um partido político. Não apoiamos a direita ou a esquerda; somos suprapartidários e trabalhamos apenas na educação para a paz’.

shalom peace salaamDessa forma, nada do que eu falasse ou perguntasse a respeito da guerra, absolutamente nada teria algum sentido. Muito mais interessante foi ouvir o relato das fascinantes experiências que este Centro pratica em Israel e nos territórios ocupados. Experiências que comprovam a tese de que esses dois povos não estão apenas condenados a viver eternamente juntos, mas sim, estão destinados a um futuro comum. E um futuro promissor.

Perguntei ao Sr. Riad por que ele se definia como palestino-israelense. O que afinal de contas significa esse termo? Faz algum sentido? ‘Sim, faz todos os sentidos’, respondeu-me. Ele alegou que pertence ao povo palestino, mas que tem carteira de identidade israelense; vota, paga seus impostos e recebe seus benefícios do governo de Israel. Lamenta o fato de seu Estado hoje estar lutando contra seu Povo. É o dilema em que se encontra toda  uma expressiva comunidade árabe em Israel que espera ansiosamente pela paz.

Essa definição ‘palestino-israelense’ de certa forma resume a ideologia do Givat Haviva. É possível e já é real o enlace entre palestinos e israelenses e essa confusão de nomenclaturas não permite mais que esses termos se dissociem.

Se a paz virá? Eles tem esta certeza, mesmo sabendoque existe um longo caminho a ser trilhado.

Mas já encontraram um caminho para chegar lá: a educação, o contato pessoal e o conhecimento do outro.

Isto não depende dos militares e nem mesmo dos políticos. Se estes simplesmente não atrapalhassem, e apenas dessem chances a árabes e judeus se conhecessem melhor, como seres humanos …


Michel Gordon, amigo brasileiro do PAZ AGORA,  escreveu este artigo para a “Semana Judaica”, onde foi publicado de forma condensada em função de limitações de espaço.  A íntegra está sendo publicada com exclusividade pelo PAZ AGORA|BR ]

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