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Entrevista de SHIMON PERES, Ministro de Relações Exteriores de Israel
[ CNN – 22/09/2002]
CNN – Vamos, ao vivo a Tel Aviv, conversar com o Ministro das Relações Exteriores de Israel, Sr. Shimon Péres. O que é que está ocorrendo em Ramallah neste momento?
PERES– Penso que acabou a destruição dos edifícios. Houve interrupções no fornecimento de água; estamos efetuando os consertos. O sistema de eletricidade será reparado. Como anunciamos, não há perigo físico nem para Arafat e nem para as outras pessoas. Do nosso ponto de vista, com os problemas que temos de enfrentar, as soluções estão dependendo muito dos palestinos. Se o povo palestino realmente deseja mudar toda a situação, deve impor disciplina ao Hamas e ao Jihad.
Não podemos viver de forma caótica. Não vamos ensinar lições aos palestinos. Mas não podemos concordar que cada grupo atire bombas e dispare sem que ninguém seja responsável. De modo que o que é necessário é realmente disciplina e não demonstrações.
Quando se trata do próprio Yasser Arafat, dentre as pessoas que se encontram com ele na Muqata, há ao menos 7, 8 ou até mais, que estão na lista dos procurados. Os palestinos sabem exatamente quem eles são. Demos os nomes repetidas vezes. Dissemos a eles para se renderem, nada lhes acontecerá fisicamente, serão levados à Corte, terão um julgamento correto e isto será encerrado. Mas não pode ser assim quando se trata de atirar e matar, não há ninguém para responder, não há com quem falar. Quando Arafat e seu pessoal voltam-se para o Hamas e o Jihad, estes dizem “Não, não aceitamos as suas ordens”. Então, quais são as nossas chances e qual é a nossa escolha? O destino dos palestinos está nas mãos dos palestinos. Ainda somos a favor da paz. O acordo de Oslo é válido. Aceitamos a posição do Presidente Bush. Não mudamos de opinião.
CNN – É seu propósito, Sr. Ministro das Relações Exteriores, expulsar Yasser Arafat, prendê-lo ou matá-lo? O que especificamente o senhor quer fazer com o líder palestino?
PERES– Não queremos expulsá-lo, não queremos matá-lo, não queremos feri-lo. Houve uma votação no governo. A maioria decidiu contra a expulsão. Ninguém absolutamente sugeriu matá-lo ou feri-lo. O que queremos é que, ou Arafat mostre que pode controlar a situação, ou que alguém outro o faça.
Hoje temos uma situação onde nem Arafat nem ninguém outro é responsável. Eles têm que manter a lei e a ordem porque isto afeta a nossa vida e morte. Voltei na última quarta-feira de Nova York bastante otimista após o encontro com o “Quarteto”. Algumas horas depois, 60 pessoas, no coração do país, na rua principal de Tel Aviv, foram feridas, 6 foram mortas e dez gravemente feridas. Um dia antes, três pessoas foram mortas em três diferentes lugares por bombas, por armadilhas. O que eles esperam que nós façamos? Sou a favor da paz. Mas a paz deve ser feita pelos dois lados. O terror pode ser feito por um lado.
CNN – Como o senhor sabe, Sr. Ministro, nas últimas seis semanas, ao menos até o atentado suicida de Tel Aviv desta semana, pareceu ter havido algum progresso e avanço num relacionamento melhorado com alguns novos ministros palestinos, por exemplo o ministro das finanças, o ministro do interior. Autoridades americanas aqui em Washington me contaram que estavam ficando mais encorajados pelo que estavam vendo dos palestinos. Este último acontecimento, a destruição efetiva de quase todos os edifícios do complexo presidencial em Ramallah poderia encerrar tudo isto…
PERES– Não senhor. Não é este o caso. Houve um período de tranqüilidade porque o nosso exército se encontra, assim como se encontrava, na Margem Ocidental e em Gaza. Não queremos continuar lá. Não fomos para lá para reocupar. Pedimos aos palestinos para se encarregar.
Em Gaza, as forças deles estão intactas. Pedimos a eles para ao menos cessar o disparo de morteiros para o âmago das aldeias próximas. Advertimos os palestinos sobre outros homens-bomba. Não pode continuar desta forma. A liderança palestina não deu verdadeiramente ordens para parar isto. Talvez eles não tenham dado ordens para iniciar o terror, mas também não deram ordens para detê-lo. Há dezenas de milhares de policiais sob o controle e sob o comando deles.
E o que dissemos a eles – penso que também os Estados Unidos o fizeram – é: por favor, digam à sua força oficial de polícia para intervir e cessar isto. Nada deste tipo ocorreu. De modo que as falas são bonitas, mas a situação basicamente não mudou. E, mais uma vez, se fosse uma manobra política, se fosse até uma manobra financeira, poderíamos ter cuidado dela de forma diferente. Mas quando se trata de segurança, ficamos sem opção. Enquanto estamos conversando agora, há ainda notícias de outros homens-bomba a caminho do país. Não podemos aceitar isto, sem mais nem menos. Temos de defender as vidas de nosso povo.
CNN – Então, exatamente agora, o que o senhor está dizendo, o próprio cerco, a operação em Ramallah acabou. O Sr. irá restaurar a água e os suprimentos de comida para as pessoas que estão dentro. Se ninguém sair, o que é que o Sr. fará?
PERES– Não, não tivemos nenhuma intenção de cortar a água ou a eletricidade. Foi culpa de um acidente e penso que já foi consertado. Também paramos de destruir mais prédios. Agora Arafat tem uma escolha: ou entrega as pessoas que estão na lista dos procurados acusados de matar, ou permanece como está. Não vamos feri-lo, não vamos expulsá-lo, não vamos colocar a sua vida em risco. E não vamos mudar a nossa opinião sobre a necessidade de um acordo e de paz, ou a possibilidade de conversar e negociar.
Mas o povo palestino – e estou realmente falando como uma pessoa que tem profundo respeito por eles – ao invés de fazer demonstrações contra o cerco, que façam demonstrações contra o Hamas e o Jihad. Estes são a sua catástrofe. Se a posição palestina nos Estados Unidos declinou, é por causa do Jihad e do Hamas. O mesmo se refere à Europa. Se as relações com Israel se deterioraram, é por causa deles. Agora, ou eles serão um povo que pode controlar o seu próprio destino, colocá-lo em ordem, ou tudo poderá acontecer. Eles estão infelizmente perdendo e pagando. Não nos traz nenhuma alegria e nenhum prazer. Não queremos isto. Gostaríamos de vê-los capacitados, livres para se movimentar, para viver.
Shimon Peres era, à época, Ministro de Relações Exteriores no governo de Ariel Sharon.
ONU pede o fim do cerco a Arafat
JERUSALÉM – Israel se negou ontem a aplicar uma resolução da Organização das Nações Unidas pedindo o fim do cerco ao complexo presidencial do líder palestino Yasser Arafat, em Ramala, na Cisjordânia. Tropas israelenses continuam isolando o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e exigem a rendição de terroristas palestinos que estariam escondidos dentro do único prédio que restou no complexo. O papa João Paulo II e o presidente francês, Jacques Chirac, também pediram o fim do cerco a Arafat.
O cerco foi iniciado na semana passada, depois de dois atentados cometidos por extremistas palestinos, que mataram sete pessoas em Israel.
– A ONU pode pedir o que quiser, mas Israel seguirá adiante com suas operações, até alcançar seu objetivo – declarou uma fonte do governo israelense.
O ministro sem pasta Dany Naveh criticou a ONU: – Atualmente há dois criminosos internacionais tratados com benevolência pelas Nações Unidas: Yasser Arafat e Saddam Hussein.
O líder palestino recebeu com satisfação a resolução da ONU, aprovada por 14 dos 15 países-membros do Conselho de Segurança. Apenas os Estados Unidos se abstiveram. A ANP declarou que cumprirá com a resolução, que exige o fim de todos os atos de violência, incluindo as ações terroristas, e pede a Israel que se retire do QG de Arafat – reduzido a um único prédio, onde estão o líder palestino e mais 200 pessoas.
Além disso, o Conselho de Segurança exigiu que Israel retire suas tropas dos territórios palestinos ocupados desde o início da segunda intifada, há dois anos.
Ontem, forças de Israel atacaram um dos bairros mais populosos da cidade de Gaza. Cerca de 90 carros de combate e veículos blindados, apoiados por helicópteros, foram usados na operação, que deixou nove mortos, entre eles um menino de 14 anos. Vinte pessoas ficaram feridas. Soldados destruíram lojas e oficinas que supostamente eram usadas na fabricação de bombas.
[ JB on line – 25/09/02 ]