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Principalmente após os atentados de 11 de setembro de 2001, a guerra entre Israel e os palestinos passou a ser questão crucial para a humanidade. Uma das principais dirigentes do movimento pacifista PAZ AGORA, a doutora Gália Golan, professora da Escola de Governança, Política e Diplomacia no Centro Interdisciplinar IDC, em Israel, tem uma visão otimista da história.
O movimento PAZ AGORA representa a melhor tentativa de recuperação moral de Israel, depois que o país elegeu para governante máximo um líder indigno como Ariel Sharon.
Fundado em 1978 por 300 oficiais do exército israelense, o movimento logrou colocar 500 mil pessoas nas ruas de Israel, 10% da população do país, exigindo investigação internacional dos massacres de Sabra e Chatila. Dessa investigação resultou a condenação de Sharon, como conivente com os crimes, e a proibição de servir as Forças Armadas por dez anos.
Hoje em dia, a situação da região é paradoxal, explica Golan. 70% dos israelenses apóiam as práticas de Sharon, devido ao trauma com os atentados terroristas contra civis, e pela recusa do líder palestino Arafat de aceitar a proposta de paz de Barak. Mesmo assim, 70% dos israelenses são a favor de uma solução pacífica que contemple a criação de dois Estados, o reconhecimento do Estado palestino, a saída dos colonos israelenses dos territórios ocupados e o reconhecimento de Jerusalém como capital dos dois Estados.
Esse mesmo sentimento domina o povo palestino. A grande maioria apóia ações violentas contra Israel, mas, ao mesmo tempo, deseja a paz. O que impede a paz é a falta de confiança recíproca nos interlocutores do outro lado.
O papel dos pacifistas é tentar construir pontes entre pessoas de boa vontade, e existem bons sinais no ar.
Alguns meses atrás montou-se uma Coalizão Israelense-Palestina pela Paz, juntando, do lado palestino, líderes e ministros da Autoridade Palestina, donos de jornais, reitores de universidades; do lado israelense, membros da oposição política, ex-ministros de antigos governos e do movimento PAZ AGORA.
Está ressurgindo um movimento de massa pedindo solução negociada e o reconhecimento, inclusive de setores militares, de que não existe saída fora de uma negociação política. Já houve casos de oficiais que se recusaram a servir nos territórios ocupados, e a imprensa israelense tem sido muito crítica em relação às informações oficiais de que lideranças e civis palestinos têm sido mortos “por acidente”.
Finalmente, a guerra está arrasando não apenas a economia dos palestinos, mas também a de Israel. O Estado abriu sua economia anos atrás e passou a depender de capitais internacionais que se evaporaram com a guerra. O desemprego é crescente, a indústria de alta tecnologia entrou em colapso, o turismo acabou.
A esperança de paz reside no campo político. Do lado palestino, tem havido gradativa renovação das lideranças políticas. Do lado de Israel, há forte pressão para que o Partido Trabalhista abandone a coalizão de Sharon e se apresente como alternativa política.
Há questões delicadas, porém não impossíveis de resolver.
Uma delas é a exigência palestina de retorno de 3,5 milhões de refugiados espalhados pelo mundo -uma tarefa impossível para um Estado como Israel, que tem 5 milhões de habitantes. Lideranças moderadas palestinas começam a se dar conta de que é impossível atender essa exigência. Estudam-se compromissos para absorver em um futuro Estado palestino, dentro de um programa limitado de reunificação de famílias, com compensações financeiras.
Uma segunda questão são os acampamentos de colonos israelenses em território palestino. Pesquisas feitas pelo movimento comprovaram que apenas 2% dos colonos oporiam resistência armada à sua remoção. A maioria absoluta aceitaria compensações financeiras para se mudar para a linha verde, onde o preço do aluguel é mais alto.
Começa a cair a ficha, tanto de Israel quanto dos palestinos.
[ entrevista em São Paulo, publicada na pág. B3 do caderno “Dinheiro” da Folha de S.Paulo ]
O artigo foi baseado em longa entrevista concedida pessoalmente por Galia Golan a pedido do autor, membro do Conselho Editorial da ‘Folha’, através dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA
O jornalista Luís Nassif, há exatamente um ano, foi um dos primeiros formadores de opinião brasileiros a endossar os termos da DECLARAÇÃO-CONJUNTA ISRAELENSE-PALESTINA, que hoje conta com o apoio de mais de 600 ilustres brasileiros.