É preciso termos confiança mútua

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Os progressos no processo de paz nos anos 90 parecem ter sido anulados com a nova intifada. Quais os erros cometidos?

GALIA GOLAN: O erro de Israel foi não implementar os Acordos de Oslo e não parar os assentamentos, de modo que os palestinos acham que não temos a intenção de deixar os territórios. O erro dos palestinos foi começar a intifada porque eles desistiram quando as negociações de Camp David (em 2000) falharam. As negociações falharam, mas poderiam ter continuado. Posso entender por que começaram a intifada, mas acho que foi um erro.


Muitos em Israel acusam Yasser Arafat de não ter aceitado a oferta do então premier Ehud Barak em Camp David, tida como a melhor jamais feita por um governo israelense. Como vê isso?

Galia Golan - Processo de paz de Oslo ao desligamento de GazaGALIA: Barak fez a melhor oferta, mas ainda assim era uma oferta que nenhum palestino poderia aceitar. Há muita controvérsia sobre o que foi dito em Camp David, mas até onde sei — e minhas fontes são bem confiáveis — a oferta deixava 10% dos territórios em mãos israelenses para os assentamentos, Israel manteria o controle do espaço aéreo, dos recursos de água da Cisjordânia, e, por algum tempo, da fronteira oriental. Também exigiu controle de duas estradas que cortam a Cisjordânia, dividindo o Estado palestino em três cantões. Nenhum palestino poderia aceitar isso, mas não quer dizer que não se pudesse negociar.

 

De que forma isso afetou o processo de paz?

GALIA: O problema é que os detalhes reais nunca foram apresentados ao público. O que o público ficou sabendo é que “fizemos esta grande oferta aos palestinos e eles não aceitaram”. O fato de que Barak disse que o pacote era aquele e era pegar ou largar também não foi divulgado. Ao público foi dito que o que pôs por terra as negociações foi a reivindicação do direito de retorno pelos palestinos. Se milhões deles voltarem, tornarão os judeus uma minoria e não teremos mais um Estado. Foi essa a mensagem que foi passada ao público: os palestinos não querem a paz. A mesma contradição existe nos dois lados: eles não acreditam que Israel esteja disposto a sair dos territórios, e os israelenses não acreditam ter um parceiro para a paz.


Como esse impasse pode ser rompido?

GALIA: O que estamos fazendo no movimento pacifista é tentar restaurar a fé de que é possível retornar à mesa de negociações, e os palestinos estão tentando o mesmo do lado deles. Estamos tentando reconstruir um pouco da confiança mútua. É preciso.


[ entrevista por Flávio Henrique Lino, publicado no Jornal O Globo – Rio de Janeiro ]

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