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4 – Visão Palestina
bitterlemons: Quando os palestinos deixaram Camp David, qual era o negócio na mesa ?
Dahlan: Em termos de procedimentos, o negócio era que nenhuma culpa seria posta sobre nenhuma das partes pela administração americana.
O presidente Clinton, dos E.U., concordou com isso assim como os israelenses e palestios. Concordamos em continuar as negociações apos Camp David para alcançar uma solução.
Então Clinton disse que iria meramente elogiar [o antigo primeiro-ministro israelense ] Barak, e no dia seguinte, Barak quebrou seu compromisso. Ele convocou uma conferência de imprensa e usou a linha de que “ele não tinha um parceiro”. O presidente Clinton também culpou a Autoridade Palestina e o presidente Arafat no que pode ser considerado como uma violação de nosso entendimento.
Politicamente, houve uma extensa conversação em Camp David sobre todos estes temas centrais. Essas discussões foram séria, mas não chegaram a um acordo porque o lado israelense se recusou – após 12 dias de negociações – a apresentaram qualquer coisa escrita ou tangível sobre qualquer dos assuntos.
Quando a iniciativa de Clinton chegou aos problemas de terras, refugiados e fronteiras, não foi suficiente para seduzir a Autoridade e o povo palestino para conconrdar com uma solução e um tratado histórico dessa magniturde. Sobre terras, a idéia era concordar que 91% das terras de 1967 iriam para a Autoridade Palestina, acrescidas de um porcento de troca de terras. O total seria de 92% com oito condições de segurança que deveriam ser uma presença militar israelense no Vale do Jordão, uma presença nas fronteiras, estações de pronto aviso [early warning stations], controle do espaço aéreo, que o estado palestino seria desmilitarizado, três vias terrestres (israelenses) para a Jordânia, liberdade para aviões israelenses voarem no espaço aéreo palestino, etc… Essas condições substraíam a soberania palestina sobre terra que não excediam 92%. Isto não era o que eles mais tarde proclamaram: que uma magnífica oferta foi apresentada. Era apenas 92%.
Mas não estamos falando sobre percentagens, como se estivéssemos num mercado. Estamos falando sobre quanto os Estados Unidos e Israel se aproximaram de resoluções de legitimidade internacional, {as resoluções da ONU) 242 e 338 e dos princípios de terras por paz, que são os fundamentos do processo de paz e Madrid.
A cidade de Jerusalém seria dividida em quatro categorias:
Al Haram, a Cidade Velha, os bairros vivinhos e as aldeias em torno de Jerusalém. Haveria quatro sistemas de segurança em Jerusalém e quatro tipos de soberania. Isto não era uma solução. Nada de essencial poderia derivar disso.
O tema dos refugiados não avançou uma polegada em Camp David. Havia apenas conversas sobre uma “solução” par o problema de refugiados. Quando chegamos à conclusão de que esta era a oferta diante de nós, nós a rejeitamos. Uma evidência de que a oferta não era suficiente é que, mais tarde, o presidente Clinton apresentou uma oferta mais desenvolvida e que o lado israelense nas conversações de Taba se aproximaram ainda mais de resoluções internacionais.
bitterlemons: Houve o seu ententimento de que as conversações estavam encerradas e que o conflito era iminente ?
Dahlan: Não, a intifada chegou como resultado das circunstâncias internas palestino-israelenses. Ele não ocorreu em função de planejamento ou más intenções, mas devido ao desespêro palestino após sete anos sem chegar um acordo final, a mudança de líderes governamentais israelenses cada dois ou três meses e a recusa de primeiros-ministros de se comprometer com o acordo assinado por seu predecessor. Isto aconteceu com Peres após Rabin, com Netanyahu após Peres, Barak após Peres e, mais tarde, com Sharon.
A intifada aconteceu por causa da perda de esperança no processo de paz. Não ficamos surpresos, nem os israelenses. Na última reunião em Washington com Dennis Ross, dois dias antes da erupção da Intifada, eu disse a Shlomo Ben Ami e Gilad Sher que a situação explodiria se Sharon visitasse o Haram [a mesquita sagrada de Jerusalém].
bitterlemons: Qual foi sua impressão sobre o papel norte-americano durante e após as conversações ?
Dahlan: O presidente Bill Clinton era sério e conscencioso e tinha muitas esperanças de terminar o conflito entre os dois povos. Entretanto, o Departamento de Estado e a equipe da Casa Branca encarregada do assunto sempre enxergou o tema nos termos das demandas israelenses. Eles pensavam que cada vez que Israel fazia concessões em algo, isto deveria ser suficiente para o lado palestino. Isto não tinha nada que ver com a lógica da justiça e de uma solução razoável. A lógica era que qualquer coisa que Israel estivesse disposta a abrir mão, vocês palestinos deveriam aceitar.
Após isso, Clinton levou adiante suas idéias, que tinha alguns aspectos positivos e alguns pontos fracos. Elas eram mais claras que as negociações em Camp David. Mas a Intifada já tinha começado. Erros foram cometidos pela três partes na tentativa de salvar a situação. E agora chegamos a este estado trágico.
bitterlemons: Como você sabe, Israel tem sido muito bem sucedido em usar Camp David para demonstrar que palestinos não querem paz. Por que os negociadores tem sido tão relutantes para falar sobre o tema?
Dahlan: Eu, pessoalmente, não sou relutante. Tenho falado sobre isso publicamente na mídia e em simpósios na Cisjordânia e Gaza. Existe negociadores que relutam em falar sobre o assunto, mas não eu. Alguns negociadores me acusaram de tentar empurrar o presidente [Arafat] em direção a um acordo, e isto é verdade. É minha tarefa encorajar o presidente a alcançar uma solução que acabaria com o sofrimento dos palestinos:, mas não apenas qualquer acordo, apenas um com o qual a liderança palestina concorde.
Muhammad Dahlan serviu como negociador palestino e como chefe da Segurança Preventiva Palestina na Faixa de Gaza.
[ Entrevista de Muhammad Dahlan publicada em 15/7/02(c) pelo bitterlemons.org e traduzida pelo PAZ AGORA|BR ]
Os três artigos anteriores desta série estão disponíveis em português no site www.pazagora.org
1 – “Barak desejava, assim como os judeus americanos” – por Yossi Alpher. Assessor de Barak em Camp David:
… Um primeiro-ministro israelense com um programa de paz realista pode levar os E.U. a apoiá-lo ativamente…
2 – “Camp David: Uma Estratégia de Saída para Barak” – por Ghassan Khatib, Ministro do Trabalho no novo gabinete da Autoridade Palestina:
…Território era para ser usado como moeda de barganha, para evitar concessões em outros temas…
3 – “Uma cúpula preliminar deveria ter sido realizada” – por Shlomo Ben Ami, ex-Ministro do Exterior de Israel durante o governo Ehud Barak, quando chefiou a delegação de negociadores de Israel com os palestinos em Camp David:
… A componente política interna nos dois campos era um impedimento. Em Camp David, nós vimos a antiga “panela” de Túnis, versus figuras mais jovens e mais pragmáticas. Eu não sei o que era mais importante para o pessoal mais velho, chegar a um acordo ou deter o pessoal mais novo…
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