Os pensamentos reais de Ben-Eliezer


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Um grupo de líderes do PAZ AGORA que saíam do escritório de Benjamin Ben-Eliezer na última 6ª-feira, teve que se lembrar que tinha acabado de se encontrar com o Ministro da Defesa israelense – o homem que concentra a suprema responsabilidade pelas ações do Exército de Defesa de Israel e sobre os colonos nos territórios – e não com um líder da oposição de esquerda, que crítica esses atos. 

Compareceram à reunião da 6ª feira a ex-ministra Profa. Yuli Tamir, vários fundadores do PAZ AGORA e membros de sua administração: Prof. Arie Arnon; Prof. Dan Jacobson; Elon Portugali and Yair Yanov; o secretário do Movimento Nacional Kibutziano, Gavri Bargil; a diretora do PAZ AGORA, Moriah Shlomot; seu antecessor, Gabi Lasky; e o porta-voz da organização, Didi Remez.

O encontro se deu sob o impacto do Relatório sobre novos Locais de Assentamentos compilados pela organização e publicados na véspera pela imprensa. O escritório do ministro da defesa veementemente contestou que, desde que Ben-Eliezer ocupou seu posto, não menos 34 novos postos avançados de assentamentos foram estabelecidos na Cisjordânia. O ministro reiterou sua declaração de que havia dado uma “inequívoca ordem” para que nem uma única casa móvel mudaria de lugar sem sua autorização.

Os convidados apresentaram uma séria de fotografias aéreas dos locais sobre a mesa. Ben-Eliezer deu uma rápida olhada e então ergueu os ombros. “É tudo marginal. Quando você recebe tiros de 14 direções diferentes, você tem que focar o objetivo principal”, declarou. “Eu tenho fronts mais importantes com os colonos.”

Para apaziguar os convidados, Ben-Eliezer chamou um de seus auxiliares para estudar a matéria e para reportar sobre o levantamento e suas conclusões tão logo possível. O ministro estava claramente tentando ficar bem aos olhos de seus visitantes. Ele sabe que se, no dia das eleições, aquelas pessoas forem levar suas faixas de protesto para as portas do Partido Trabalhista, seu novo patrão será o líder da oposição Yossi Sarid. De acordo com Yossi Beilin, certas pesquisas mostra que um partido que una todas forças de esquerda tem muito boas chances de alijar o partido de Ben-Eliezer.

O ministro da defesa fez um esforço, de início, para explicar a “limpeza” dos campos de refugiados aos seus convidados da esquerda. Ele disse que os principais artífices do terror estavam concentrados naqueles campos. Os convidados da esquerda o recordaram que que várias fontes do exército estavam expressando que as incursões dentro da Área A apenas estavam estimulando o terrorismo.

O ministro da defesa não contradisse estas posições, nem discutiu a previsão de que o governo logo teria que passar o título de “irrelevante” de Yasser Arafat para Marwan Barghouti. Algumas autoridades de segurança, tanto israelenses quanto ocidentais, argumentam que, em seguida à operação de “limpeza”, o status do líder do Tanzim nos territórios já o faz suficientemente valioso para ser considerado um não-parceiro pelo governo.

 

Ben-Eliezer prefere Netanyahu

O ministro da defesa concordou que o governo do qual ele é membro importante não tem uma rota definida, além daquela ditada pelos colonos. Confirmou que não tinha conhecimento de ter o primeiro-ministro Ariel Sharon algum plano político. Se dependesse dele, disse, ele aceitaria a iniciativa saudita e iniciaria negociações de acordo com as linhas de Clinton. Ben-Eliezer também falou de líderes palestinos que discretamente lhe diziam que o direito de retorno não era mais um obstáculo a um acordo, o qual seria baseado no princípio de dois estados para duas nações.

“Então o que você está fazendo neste governo?”,  os convidados de esquerda perguntaram. E Ben-Eliezer estava pronto com uma resposta: “Eu quero trazer a implementação do plano Tenet e do relatório Mitchell”, disse. “Imediatamente após, nós teremos que renunciar, pois o governo não poderá ir além disso.”

Em contraste, em discussões fechadas, durante as quais ela parece divulgar o que realmente pensa, o Ministro do Exterior Shimon Peres expressa expectativas de Sharon que não alcançam a implementação do relatório Mitchell, que envolve um congelamento doas assentamentos e o início de negociações em direção a um acordo permanente. A desculpa predileta de Peres para permanecer colado ao governo ainda está na ameaça do retorno de Benjamin Netanyahu ao poder.

Mas Netanyahu não assusta Ben-Eliezer. Em várias ocasiões, o ministro da defesa tem dito que, baseado em pesquisas a sua disposição, seu problema é de fato Sharon. O centro, que tem uma rejeição ao velho e extremista Netanyahu, acha difícil acreditar que o antigo primeiro-ministro tenha mudado, e apesar de tudo, prefere Sharon.

De imoral a ilegal

Mais de 30 anos se passaram desde que o Prof. Yeshayahu Leibowitz ensinava que o serviço militar nos territórios ocupados era imoral. Agora, seu neto, o jurista Shamai Leibowitz, determinou que é também ilegal. Foi distribuído entre convocados e reservistas um parecer legal, sob o título “A Obrigação de Recusar”, que determina que a própria ordem para servir nos territórios é ilegal e que a Lei de Jurisdição Militar exime todos soldados de obedecê-la.

Leibowitz baseia sua opinião numa norma de 1957 (o caso Melinki), de acordo com a qual uma diretriz militar que envolva dano a civis, causando dano a sua propriedade, o cerceamento de tratamento médico e similares é totalmente inválida como ordem. Em 1957, a Corte sentenciou que “A Constituição do Estado de Israel” proíbe execuções sem julgamento ou destruição de bens e infra-estrutura de populações civis. Mais ainda, as normas de 1957 determinam que uma ordem é ilegal se ela se constitui numa contravenção de uma lei internacional ou fere princípios morais fundamentais.

Leibowitz cita um livro, “Tsedek Ba’mishpat,” (Justiça na Sentença) escrito pelo juiz aposentado da Suprema Corte Haim Cohen e publicado, por acaso, pela editora do ministério da defesa: “A teoria positivista de acordo com a qual ‘uma lei é lei, uma ordem é uma ordem’, , e ninguém tem o direito de questioná-las, serviu a legisladores tirânicos, fascistas e totalitários, como uma grande árvore na qual se penduravam as leis da opressão e exploração, perseguição e discriminação, pilhagem e roubo, que eram os íntimos desejos dos governantes absolutistas.”


[ trechos de artigos de Akiva Eldar, publicados no Haaretz de 26|03|02 e traduzidos por Moisés Storch ]

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