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A cotação política de Arafat não parece estar muito alta na agenda árabe
– Para onde foi todo o amor?
Autoridades palestinas estão se queixando do apoio que governos árabes têm oferecido a Yasser Arafat, após a campanha dos E.U. para remover, ou no mínimo, marginalizar o líder palestino “chutando-o para cima” para um cargo de presidente honorário. Mas o timbre das queixas dessas autoridades pode, em parte, se referir a mudanças de postura em relação a seus próprios futuros políticos, no caso de Arafat sair do cenário.
A despeito de tal situação, é difícil encontrar um representante palestino que não tenha comentários negativos sobre a posição tomada por estados árabes com respeito ao futuro político de Arafat.
Alguns representantes palestinos têm tomado a falta de um forte apoio árabe a Arafat como um sinal de desinteresse árabe pelo tema palestino como um todo . “Isto não é sobre Arafat. É sobre o tipo de apoio que os estados árabes estão preparados para oferecer à causa palestina – apoio que tem decrescido”, comentou um diplomata palestino baseado no Cairo. De acordo com esse diplomata, os “regimes” árabes não estão interessados em defender os direitos palestinos: “Existe um considerável apoio popular, mas parece que a atual tendência é de obter um acordo, qualquer acordo, assinado, de forma a se livras da dor de cabeça. Isto está refletido no nível de apoio oferecido a Arafat.”
Autoridades palestinas apontam a influência norte-americana como sendo uma razão para o declínio do suporte de regimes árabes ao líder palestino: “Não estamos esperando que ninguém destrua ou mesmo cause efeito negativo às suas relações com os Estados Unidos, mas esperamos que os estados árabes com fortes laços co Washington usem essas relações para apoiar Arafat, que tem lutado com seu povo enfrentando uma guerra israelense”, disse uma autoridade de alto nível palestina que falou ao Al-Ahram Weekly sob condição de anonimato.
Diplomatas e observadores árabes admitem que seus governos não asseguram a Arafat um apoio sério, e alguns até defendem que tampouco a opinião pública árabe realmente está atrás do líder palestino.
“Penso que todos estão simplesmente cansados de Arafat. A maioria dos líderes árabes têm pouca fé nele. Os linha-dura o vêem como um marionete americano, os moderados o enxergam como alguém que não consegue decididamente abandonar a opção militar. Assim, não estão certos de desejarem continar apoiando-o. “, comentou um diplomata árabe, acrescentando: “E, em qualquer evento, ambos os lados não confiam nele. Por exemplo, os sírios não concordariam com ele em nada, por medo que ele os descartasse tão logo os americanos o induzissem a fazê-lo. Enquanto isso, os egípcios estão cansados de assistir a Arafat indo dizer aos americanos que não está fazendo as concessões políticas requeridas por Washington porque o Cairo não está oferecendo apoio político suficiente.”
Mas não se trata apenas de Síria e Egito. O problema de Arafat com líderes árabes é muito mais complicado. A liderança libanesa está preocupada que ele possa usar sua influência sobre a grande população local de refugiados para reinflamar o conflito civil – algo que acreditam que ele fez no passado. Enquanto isso, a Jordânia está demasiado ocupada gerenciando parcerias políticas e econômicas para se preocupar com o futuro político de Arafat. “O que os jordanianos querem é estabilidade dos territórios palestinos. Eles não necessariamente se preocupam se for Arafat ou algum outro que assegure essa estabilidade, tão fundamental para a própria estabilidade interna jordaniana.”
Por sua parte, os países do Golfo provavelmente não perdoarão Arafat por seu apoio ao presidente iraquiano Saddam Hussein, durante a invasão iraquiana do Kwait em 1990. O líder iraquiano tem problemas próprios suficientes – como os planos americanos para derrubá-lo – para apoiar sozinho Arafat, pois para o líder palestino, obter apoio dos países árabes do Norte e do “chifre” da África é insuficiente.
De fato, quando em junho passado o presidente George W Bush fez advertências implicando que Arafat deveria ser substituído, não houve nenhum protesto imediato dos estados árabes. Alguns dias depois, a Liga Árabe, o Egito e a Araábia Saudita falaram sobre o direito do povo palestino escolher seu próprio líder. Informes de grandes jornais norte-americanos que diziam ter a Casa Branca recebido um consenso árabe para remover Arafat, porém, tiveram desmentidos por parte de cada capital árabe mencionada nos artigos.
Entretanto, falando em condições de anonimato, uma importante autoridade árabe disse ao Al-Ahram Weekly: “Ninguém mais quer queimar seus dedos por Arafat. Ele não tem credibilidade em nehuma capital árabe importante. Ele queimou suas pontes ao jogar ambos os lados contra o centro, por muitas vezes.”
Foi durante a cúpula árabe em Beirute em março que se tornou claro que Arafat estava perdendo a graça dos líderes árabes. Poucos estados árabes, incluindo o anfitrião libanês, estavam ansiosos pela participação de Arafat . E poucos países árabes, mais notavelmente o anfitrião daquele encontro, estavam interessados em ouvir o discurso de Arafat, então isolado em seu quartel-general de Ramalah , irradiado para a cúpula via satélite.
Hoje, a situação não parece nem um pouco melhor. Praticamente cercado por quase nove meses, Arafat raramente recebe autoridades árabes de alto nível. “Eles [os líderes árabes] sabem que ele não pode sair porque Sharon pode não permitir que volte. De fato, eles o aconselham a não sair dos territórios palestinos porque ele pode ser impossibilitado de voltar – mas também não se dão o trabalho de chamá-lo regularmente”, disse uma autoridade palestina. De acordo com este funcionário, “Mesmo quando algumas vozes dizem que pode ser melhor para Arafat que saia do cenário temporariamente, as capitais árabes não estão exatamente entusiasmadas em recebê-lo.”
Por ora, influentes líderes árabes tem tentado convencer Washington de que é do interesse da estabilidade regional e das negociações políticas ter Arafat como presidente, desde que ele nomeie outros representantes palestinos que os E.U. e Israel vejam como negociadores confiáveis.
Mas ninguém está expondo previsões sobre o que acontecerá em seguida. Enquanto eleições presidenciais palestinas estão agendadas para acontecer dentro de poucos meses, ninguém está certo se Arafat encontrará coragem, ou apoio, para concorrer. A grande questão, entretanto, é como os líderes árabes reagirão se um candidato alternativo para a liderança palestina chegar à tona.
[ Publicado no Al-Ahram Weekly em 27/07/02 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]