Como israelense, certamente estou satisfeito de que o governo dos Estados Unidos esteja ao nosso lado no presente conflito com os palestinos. O apoio americano é definitivamente benvindo. A questão é o que está apoiando.
O momento atual me relembra o verão de 1982, no começo da guerra do Líbano. Sharon impulsionou aquela guerra – à qual me opus desde o início. Então, como agora, um general servia como Secretário de Estado americano,; àquele época era Alexander Haig. Washington aprovou a ação de Sharon em Beirute ou, pelo menos, olhou para o outro lado, do mesmo jeito como faz hoje.
Toda vez em que protestei contra o envolvimento de Israel no Líbano, que ao final matou mais de 1.000 soldados israelenses, muitos em Israel defendiam a guerra apontando o suporte norte-americano às ações de Sharon. Até hoje, acredito que aquele apoio foi um êrro. Aquela guerra descabida não apenas nos custou muitas vidas, mas também criou o Hizbolá. Hoje, é difícil crer que o Hizbolá não existia há 20 anos. A guerra do Líbano não resolveu nossos problemas de segurança. Ela criou um problema maior e contínuo.
Aqueles que lembram daquela experiência devem resistir a outro envolvimento militar israelense com uma população árabe hostil. O tipo de estruturas de violência que germinaram em Beirute estão agora crescendo na Faixa de Gaza e na Margem Ocidental – com as mesmas consequências letais para o futuro.
São necessários dois para um tango, e novamente Ariel Sharon e Yasser Arafat estão dançando sua dança de sangue e desespero. Após Beirute, os dois foram exilados- Arafat para a Tunísia, e Sharon do Ministério da Defesa, por recomendação da comitê de inquérito nacional formado depois dos massacres por falangistas cristãos em dois campos palestinos, Sabra e Shatila.
Neste último ano, Arafat tem bobamente atuado nas mãos de Sharon. Ao desencadear a intifada, Arafat tornou possível a Sharon dissolver o processo de paz, recusar o retorno à mesa de negociações e ignorar os verdadeiros e graves temas do conflito israelense-árabe. Ambos continuam nesta dança macabra porque cada um deles sabe que, no minuto que pararem, irão cair.
Os Estados Unidos devem ficar extremamente preocupados com a intensificação das ações militares de Israel contra a Autoridade Palestina. Se Arafat cair, ele não será necessariamente substituído pelo Hamas ou pela Jihad Islâmica, como frequentemente previsto. É mais plausível que uma completa anarquia o suceda, uma anarquia que geraria mais violência e terror. Israel não conseguiria suportar o caos e o vácuo de poder nas áreas palestinas. Quase certamente seria forçado a entrar militarmente na Margem Ocidental e em Gaza, reocupando os campos de refugiados e cidades palestinas como Nablus e Hebron com força total. Talvez seja este o resultado que Sharon planejou logo de início. Mas isto seria uma calamidade, e os Estados Unidos precisam ajudar a evitá-la.
O General Anthony C. Zinni, o enviado americano para ajudar a trazer paz ao Oriente Médio, está claramente cansado, frustrado e desapontando, o que é compreensível. Mas os Estados Unidos não podem desistir. O General Zinni deve fixar objetivos semana-a-semana para a coordenação da segurança entre a Autoridade Palestina e Israel. Yasser Arafat é incapaz de acabar com o terrorismo sozinho, e nós israelenses não podemos derrotar os terroristas sozinhos.
Mais terror não ajudará Arafat; ferirá ainda mais sua legitimidade política. Usar mais força não pode ajudar Sharon, apenas trará mais violência contra israelenses. Washington, portanto, tem que fornecer a estes homens uma escada para descer de suas posições duras, pois apenas uma cooperação israelense-palestina pode efetivamente superar o terror.
Nós precisamos começar a conversar – primeiro para restabelecer a coordenação de segurança, e depois para retormar as negociações face-a-face de paz. Mas não podemos esperar alcançar uma coordenação de segurança a curto prazo, ou um cessar-fogo efetivo, sem a possibilidade de um processo político significativo no horizonte. Arafat não arriscaria uma guerra civil palestina sem algum conhecimento de como será o fim da estrada. O General Zinni precisa oferecer um plano para o longo prazo, como parte de uma estratégia para o fim imediato da violência — e o único plano viável é a proposta feita pela administração Clinton.
Assim, o engajamento americano não tem sido suficientemente sustentado para fazer uma diferença. Os Estados Unidos opuseram um veto numa resolução do Conselho de Segurança da ONU para mandar uma força internacional de preservação de paz na região. Agora, a administração Bush autorizou o General Zinni a voltar para casa para uma pausa nos feriados.
Washington não deve abandonar os dois lados para resolver seus problemas a sós, quando este terrível conflito ameaça a estabilidade do Médio Oriente e do mundo inteiro. Da mesma forma que nós, no campo da paz israelense, continuamos nossos esforços sob circunstâncias extremamente difíceis, Washington deve intensificar seus próprios esforços políticos na região.
O apoio americano ao governo Sharon provar-se-á positivo, apenas caso leve à implementação das propostas de cessar-fogo feitas pelo ex-senador George Mitchell e, principalmente, a um contexto de paz como o plano Clinton. Mas se aquele apoio resultar numa intensificação da ocupação israelense da Margem Ocidental e de Gaza, as perspectivas para nossa enlutada região serão desastrosas.
Yossi Sarid é o líder da oposição no Parlamento Israelense (Knesset) e do Partido Meretz. Foi Ministro da Educação no governo de Ehud Barak.
[ publicado no New York Times e traduzido por Moisés Storch para o PAZ AGORA|BR ]