A propaganda da desumanização

s2558

Os japoneses eram ”amarelos” para os americanos. Os judeus, os ”sujos” e ”corruptos” que deveriam ser excluídos do Terceiro Reich. Agora, parece ser a vez de os árabes verem sua imagem ser desconstruída no imaginário ocidental em meio a um ambiente de medo e terror. ”Quanto mais diferente você se sente do seu inimigo, mais você é capaz de odiá-lo”, ensinou Josef Goebbels, o gênio do mal da propaganda nazista. A tese, utilizada à exaustão a partir da Segunda Grande Guerra, volta, como um pesadelo, a ser atual.

Pois bastou o governo americano, ainda sem provas, apontar o saudita Osama Bin Laden como o responsável pelo maior atentado da história da humanidade para, ato contínuo, os árabes conheceram a face mais cruel da discriminação. Mesquitas foram apedrejadas e ônibus escolares alvejados nos Estados Unidos. Em todo o mundo, inclusive no Brasil, colônias árabes passaram a ser investigadas como potenciais hospedeiras e financiadoras de terroristas. Uma mulher usando o xador e com um bebê no colo foi detida na quinta-feira para interrogatório, na Alemanha. Seu crime? Talvez o fato de ser mulçumana.

”É como se todos os árabes do mundo de repente tivessem ganho as feições de um Bin Laden. Estão tentando nos transformar nos culpados pelos males do mundo. O ser humano está cometendo os mesmos erros do passado”, alerta o vice-presidente da Sociedade Beneficente Palestina no Rio, Haidar Abutalib. O mundo conhece pouco do misterioso mundo árabe. Se falta informação, sobram estereótipos.

Segunda Guerra

A experiência da Segunda Guerra mostra que, como Goebbels ensinou, é mais fácil distorcer a imagem do que para nós é desconhecido. Essa máxima valeu tanto para os países aliados quanto para os do eixo, como mostra Anthony Rhodes no livro ‘Propaganda- the art of persuasion: World War II’ (Magna Books, Londres).

Goebbels spricht

Discursos de Goebbels

Na maior parte das peças produzidas pela Alemanha nazista para atacar seu principal inimigo, a Grã Bretanha, não eram os ingleses que eram retratados, mas a monarquia britânica e o primeiro-ministro Winston Churchill em particular. Quando o alvo eram os Estados Unidos, o normal eram os soldados serem retratados como negros – bem diferente, portanto, do estereótipo ariano do ideário nazista.

A recíproca era verdadeira. Nas propagandas britânica e americana durante a Segunda Guerra, eram Hitler e seu poderoso ministro da Propaganda, Josef Goebbels, os alvos preferenciais. O mesmo vale para a Itália de Benito Mussolini, repetidamente retratado como um anão autoritário e servil ao führer alemão.

O mesmo não se pode dizer, entretanto, do tratamento dado pela propaganda nazista aos judeus; e pelos americanos aos seus inimigos japoneses. ”There will be no Adolph Hither nor Yellow Japs to fear” (Não haverá mais Adolph Hitler nem japoneses amarelos a temer), diz um pôster americano dos tempos de guerra, reproduzindo a letra de uma música popular à época. A desumanização do inimigo foi tão bem sucedida que os Estados Unidos não hesitaram em explodir a primeira bomba atômica da história sobre território japonês, matando milhares de inocentes e deixando seqüelas que perduram até os dias de hoje.

[ Publicado no Jornal do Brasil em 16/09/2011 ]

Comentários estão fechados.