Tel Aviv. Um amigo liga de New York. “Cadê todos aqueles pacifistas ?” – ele pergunta. É hora do almoço de sexta-feira, e estou fazendo um macarrão para minhas filhas, que logo chegarão da escola. Estou ansioso.
Ouço uma sirene gritando à distância, e escuto atentamente para ouvir se há outras. Mais de uma pode significar que um carro-bomba ou um ônibus explodiu.
Uma cerimônia num café próximo de casa está sendo transmitida ao vivo pelo rádio. Quatro anos atrás, tres moças foram mortas neste café. Uma das mães fala da fé das vítimas na paz com os palestinos.
Tres intelectuais palestinos chegam a um encontro num território neutro, a casa de um jornalista alemão, para descobrir o que aconteceu aos seus aliados no campo da paz israelense. Por que estamos silenciosos face à brutalidade na Margem Ocidenta e Gaza ? Por que não estamos fazendo demonstrações, como fizemos em 1982, nos tempos da Guerra do Líbano ?
A resposta é complicada. Sim, é verdade que Israel tem respondido à violência palestina com força excessiva. Sim, é horripilante que centenas de palestinos, incluindo dúzias de crianças, têm sido mortos nos últimos seis meses. Então, por que estamos silenciosos? Bem, estamos sendo alvejados, bombardeados e atacados indiscriminadamente. Nossa inclinação é de se retirar para dentro de nós mesmos.
Apenas seis meses atrás, as coisas pareciam diferentes. O governo Barak tinha concordado com concessões de longo alcance: o estabelecimento de um Estado Palestino, ao lado de Israel, sobre praticamente toda terra ocupada em 1967 – “Dois Estados para Dois Povos”, ecoando o canto da esquerda dos últimos 33 anos.
Mas para Arafat e a maioria dos palestinos, isto não foi suficiente. Violando seu acordo em Oslo por resolver disputas por meios pacíficos, lançaram uma luta armada para pressionar Israel e impor uma solução melhor.
Sua demanda principal: o direito de todos os refugiados que fugiram ou foram expulsos de suas casa em uma guerra que os árabes moveram contra Israel em 1948 – além de todos os milhões nascidos desde entáo. O que eles querem, em termos simples, é a dissolução de Israel.
Foi um momento de extrema dor. Ele revelou que o terror náo é apenas o produto de extremistas desesperados. É encorajado por políticos de alta patente da Autoridade Palestina. A mídia palestina amplia seus discursos, inflamando as paixões de terroristas em potencial. Muitos palestinos abertamente festejam quando qualquer israelense é atingido.
Seis meses de violência não mudaram a solução fundamental proposta pelo campo pacifista: o território entre a Jordânia e o mar deve ser dividido em dois estados, Israel e Palestina, adotando as fronteiras de 1967, com poucas modificações.
É um arranjo justo, cuja lógica foi endossada por Clinton. Pode ser implementado algum dia, se os palestinos renunciarem a seu sonho de varrer Israel do mapa. Nós lamentamos profundamente os mais de 350 mortos e milhares de feridos palestinos, e os 68 mortos e centenas de feridos israelenses, mas nosso luto não nos cega.
Palestinos gostam de usar a expressão “sumud”, que significa se apegar à terra. Agora estamos “sumud” enquanto esperamos que os palestinos se toquem e oramos pela sabedoria.
São quase 14 horas. Enquanto os longos e nervosos minutos passam, fica claro para mim por que tantos israelenses do campo da paz se tornaram insensíveis ao sofrimento palestino. O medo é mais forte que a compaixão. Os pacifistas estão exaustos. Mais do que nada, querem ver seus filhos em casa, vivos e inteiros.
Eu vejo minhas filhas descendo a rua, suas mochilas nas costas numa silhueta conhecida.
Corro para elas, e sorrio com alívio.
Publicado no New York Times em 30|03|2001 — traduzido por Moisés Storch.