Alguns fatos inconvenientes para quem defende Um Estado único
No debate sobre como resolver o conflito israelo-palestino, a contribuição dos defensores de ‘Um Estado’ é a de supersimplificar uma realidade muito complexa. Tentar explicar o quão errado estão pode ser como tentar explicar aos terraplanistas por que as pessoas do outro lado do mundo não despencam no espaço. Eles podem ter uma idéia simples e atraente, mas que não reflete a realidade iluminada pela pesquisa dos dados de campo e empíricos.
Dois argumentos complementares tipicamente contrariam posições contra ‘Dois Estados’ em favor de ‘Um’. O primeiro é que um grande número de colonos e a sua integração com a população palestina da Cisjordânia tornaram impossível a Solução de Dois Estados.
O segundo é que ‘Um Estado’ é necessariamente uma resposta viável.
Aqui vão alguns fatos úteis relativos à primeira hipótese:
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62% da força de trabalho dos colonos israelenses trabalha dentro da Linha Verde (fronteiras pré-67), outros 25% trabalham nos super-subsidiados sistemas de educação dos assentamentos; apenas uma percentagem insignificante trabalham na agricultura e indústria, onde 99% dos trabalhadores são palestinos.
- As estradas que servem os assentamentos são na prática quase completamente separadas e não observam nenhum princípio claro de distribuição.
- Não existe um tecido comum de vida com assentamentos israelenses próximos.
- Não existe virtualmente nenhuma conexão social e cultural entre as duas populações, com relação às realidades geográficas e demográficas (algumas apresentados em meu novo relatório publicado nesta semana):
- Em Gaza, onde vivem 2,1 milhões de palestinos, não existe um único israelense. Em outras palavras, separação absoluta.
- 99% dos israelenses na Jerusalém Oriental vivem em bairros homogêneos judeus. Em outras palavras, separação.
- Por mais de 20 anos, o número de israelenses vivendo na Cisjordânia permaneceu proporcionalmente estável como 18% do total da população da Cisjordânia, uma taxa similar à da minoria árabe dentro de Israel à véspera do estabelecimento do Estado. Ao sul de Gush Etzion e norte de Nablus, a razão de árabes para judeus é de 40:1. Em outras palavras, separação.
- 99% das terras privadas palestinas é de propriedade de palestinos. A área construída de todos os assentamentos soma menos de 2% da Cisjordânia.
- Metade de todos os colonos vive em três grandes cidades adjacentes à Linha Verde e Jerusalém, e dentro de uma área de troca de menos que 4%.
- Isto significa que 80% dos israelenses que vivem atrás da Linha Verde poderiam permanecer com essa troca de 4% (exceto Ariel). Isto é, separação.
- Israel tem total capacidade para absorver o restante em termos de emprego e habitação.
Agora, vamos à discussão de que impedimentos a Dois Estados devem nos levar a adotar Um único Estado. Esta linha de pensamento requer que abordemos algumas pequenas questões:
- Como um país com um PIB per capita de U$40 mil absorve uma população com um PIB per capita inferior a U$4 mil?
- Com a absorção de uma população de tamanho similar, dos quais 98% estariam classificados no piso da pirâmide social, irá a população judia aceitar o declínio dramático e intolerável em saúde, bem estar e educação, ou iremos assistir a uma drenagem de cérebros, com a saída dos jovens israelenses que puderem?
- Irão os palestinos servir nos serviços de segurança de Israel?
- Qual será o futuro dos refugiados palestinos? Retornarão à “Israstina” e darão ao Estado uma decisiva maioria árabe?
- Quem arcará com o encargo econômico de absorvê-los e reabilitá-los?
- São os defensores de Um Estado familiares com a recente pesquisa do Institute for Strategic Security Studies, que descobriu que 78% da população judaica não está disposta a ceder direitos de residência e civis aos palestinos nos territórios anexados a Israel, preferindo um apartheid à perda do controle judeu?
De fato, a viabilidade da Solução de Dois Estados é hoje extremamente baixa, mas não pelas razões que alguns apoiadores de um Estado podem pensar. As tendências que caracterizam o empreendimento de assentamentos nas últimas duas décadas – uma acentuada diminuição da imigração desde Israel (qualquer aumento se baseia principalmente no crescimento natural de ultra ortodoxos nas duas cidades na Linha Verde), um contínuo declínio no nível econômico-social e mais – indicam que não há um obstáculo demográfico à Solução de Dois Estados.
Viabilidade física e espacial existe com relação aos quatro principais temas do conflito — fronteiras, Jerusalém, segurança e refugiados.
A impossibilidade imediata vem da falta de viabilidade política, especialmente do lado israelense. É suficiente mencionar a “Declaração Shamir”, na qual mais de 40 ministros e parlamentares propuseram abolir a ‘Solução de Dois Estados’ e estabelecer ‘Um Estado para Um Povo’ em toda Terra de Israel. É uma idéia simples e sedutora. A única coisa que lhe falta é qualquer fundamento em fatos que levem em conta as implicações – políticas, culturais de segurança e econômicas – decorrentes da criação de um Estado e que demonstre como tal mudança não levará a uma guerra civil ou à inevitável ruína do sonho sionista.
Sobre o Autor
O Cel. (ret.) Shaul Arieli, assessor do Israel Policy Forum, é um dos principais especialistas israelenses no processo político israelense-palestino, tendo participado na delegação israelense para discussão de fronteiras no Acordo de Genebra.
[ por Shaul Arieli | publicado no The Times of Israel | 23|07|2020 | traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]