Discurso de Sami Michael, chefe da ACRI, em Marcha por Direitos Humanos de milhares de israelenses em Tel Aviv em 9/12/11, Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Paz para vocês, corajosos defensores da democracia!
Neste ano, estamos observando o Dia dos Direitos Humanos numa atmosfera única. Por um lado, assistimos ao despertar de uma decidida luta pela liberdade e contra a corrupção, desde o MarrOcos até o Yemen e a Síria e chegando a Israel. Massas que sofreram repressão, racismo e pobreza estão tomando as praças das cidades e resistindo, com orgulho, à repressão brutal.
Por outro lado, está se formando uma nuvem escura, que ameaça os direitos humanos.
Forças perversas estão explorando o espírito dos protestos da sociedade e estão se aproveitando da camada mais externa da democracia – o domínio da maioria. Eles incitam contra tudo que for diferente e buscam trazer uma tirania destrutiva da maioria para subjugar a justiça e a liberdade.
Eles não passarão sobre nós.
Instituições democráticas, organizações de direitos humanos, o movimento de justiça social e a liberdade de expressão artística… todos têm sido marcados para serem perseguidos e eliminados.
Eles não passarão sobre nós.
Forças da escuridão estão usando truques em nossas instituições representativas para destruir as fortalezas da democracia. Querem minar a Suprema Corte de Justiça. Mas ficaremos no seu caminho. Eles querem enfraquecer as organizações de direitos humanos, mas nós ficaremos no seu caminho. Eles querem demolir as organizações que trabalham duro para trazer paz e para acabar com a ocupação que corrompe.
Eles não passarão sobre nós.
Eles espalham informações falsas e alimentam ódio pelo diferente para guiar o povo pelo caminho destrutivo de odiar os árabes.
Eles não passarão sobre nós.
Israel tem um dos maiores índices de pobreza entre as nações desenvolvidas. Eles planejam continuar políticas que tiram um copo de leite e uma fatia de pão das mãos de crianças pobres, para que os ricos se tornem mais ricos. Um terço das crianças israelenses vivem na miséria. A pobreza é uma tragédia para as crianças e uma catástrofe para o país.
Eles não passarão sobre nós.
Eles criam uma atmosfera feroz de instigação para se valer dos clamores amargos dos sem-teto, dos desempregados, dos servidores púbicos, dos médicos residentes e dos trabalhadores estrangeiros que vivem em condições de semi-escravatura.
Eles não passarão sobre nós.
Não somos contra a religião, mas somos contra a coerção religiosa. Não cederemos às forças da escuridão que usam a religião para humilhar mulheres, reprimir homossexuais e intimidar membros de outras religiões e livres pensadores. O objetivo deles é claro: Transformar o Estado democrático num Estado regido pela halachá [leis religiosas judaicas].
Eles não passarão sobre nós.
A liberdade de expressão é o sinal vital de uma verdadeira democracia. Quem queira impor a estreiteza mental, quem pregar que se siga cegamente uma ideologia e que se exclua todas as outras, ou um ethos histórico que se sobreponha a todos os outros, está simplesmente pregando um fascismo espiritual.
Eles não passarão sobre nós.
As nuvens estão escuras e a atmosfera está pesada. Por isto, as corajosas contribuições e as abençoadas ações das organizações de direitos humanos e das que lutam pela igualdade e pela paz com os povos árabes – particularmente com o povo palestino – são tão imensamente importantes.
Aos meus irmãos e irmãs, os cidadãos árabes de Israel, digo: “Sua luta por uma sociedade justa é também a nossa luta”. Seu destino é o nosso destino. O direito de viver com dignidade não distingue entre homens e mulheres, entre religiões e nacionalidades. Todos nós quermos uma sociedade melhor e mais humana para os nossos filhos e netos. Juntos – e apenas juntos – poderemos construir um futuro mais justo para vocês e para nós.
Nossos adversários são mais fracos do que parecem. Nós somos mais fortes do que eles pensam que somos.
Através dos esforços conjuntos das organizações de direitos humanos, provamos que podemos bloquear as forças da escuridão. Derrotamos a iniciativa de criar comissões de inquérito [das ONGs de Direitos Humanos] no Knesset. Mas muito trabalho nos resta. As forças da escuridão não desistiram. Eles nos querem silenciar, mas não seremos silenciados e não os deixaremos violar direitos humanos, o direito de manifestação, o direito de protestar contra injustiças.
E se tivermos que tomar as ruas e as praças públicas novamente, o faremos. O faremos através do país, nas cidades e aldeias, no centro e na periferia, entre a maioria e entre as minorias.
Eu gostaria de aproveitar a oportunidade para parabenizar a minha cidade, Haifa, que neste mesmo momento está realizando pela primeira vez a sua própria Marcha pelos Direitos Humanos. Espero que, no próximo ano, muitas outras comunidades se juntem a esta celebração da democracia
[ Publicado no Haaretz em 09/0/2011 e traduzido pelo PAZ AGORA|BR ]